O candidato Pablo Marçal (PRTB) foi expulso do debate do Flow realizado na noite desta segunda-feira, 23, após atacar o prefeito Ricardo Nunes (MDB) em sua última fala. Ele teve o microfone cortado, insistiu em dizer que o prefeito será preso e foi expulso pelo mediador Carlos Tramontina. Em seguida, houve uma confusão não captada totalmente pela transmissão, mas registrada por imagens de outras pessoas que estavam no estúdio. Um assessor do prefeito, o marqueteiro Duda Lima, levou um soco no rosto e saiu sangrando. O debate foi encerrado.
O agressor é um assessor de Marçal, Nahuel Gomez Medina, dono de uma produtora que faz vídeos para o ex-coach. Marçal disse que houve provocação por parte de Lima primeiro. Tanto o agressor quanto o marqueteiro foram encaminhados à 16ª Delegacia de Polícia. Depois, Duda Lima foi levado ao hospital Albert Einstein onde realizou exames e retornou à unidade policial. Esta é a segunda agressão em debates nesta campanha eleitoral em São Paulo. Datena deu uma cadeirada em Marçal no debate da TV Cultura no dia 15 de setembro.
Medina deixou a delegacia por volta das 4h50 e, na saída, afirmou ter agido em legítima defesa. Ele cita um momento, anterior à agressão, em que Duda Lima tentou tomar o celular de sua mão. “Foi com toda a força em mim. Enfiou a mão dentro da minha camisa. Jogou pra baixo. Dá pra ver, meu peito está todo vermelho. Jogou para baixo o celular. E aí, naquele momento, eu só me defendi. Instintivamente, foi aquilo que aconteceu”, disse ele.
Já Daniel Bialski, advogado que acompanhou o marqueteiro até a delegacia, afirmou que a versão da defesa de Nahuel Medina não faz sentido, pois o episódio do desentendimento sobre o celular não teria sido simultâneo ao soco, mas ocorrido alguns minutos antes. Por isso, o assessor de Marçal figurou no boletim de ocorrência como autor, enquanto o de Nunes entrou como vítima.
“Ele (Duda Lima) acabou sofrendo um corte profundo aqui na sobrancelha, perto do olho, tomou seis pontos e vai ainda ser submetido a exames complementares, vai ter que ir no oftalmologista para ver a dimensão dessa lesão, se afetou ou não afetou de alguma forma a visão”, explicou Daniel Bialski, afirmando que Duda Lima solicitou medidas protetivas contra Nahuel Medina, que serão encaminhadas à Justiça. A ideia é que ele não possa se aproximar de Duda Lima, não podendo, por exemplo, estar nos debates a que o marqueteiro comparecer.
Nahuel Medina diz que também registrou um boletim de ocorrência contra Duda Lima. Contudo, a polícia não confirma a informação. Um investigador informou à reportagem ter conhecimento apenas da ocorrência levada pela Polícia Militar e que coloca o marqueteiro como vítima do assessor de Marçal. A delegada Eliane Tomé Lima, que cuida do caso não quis gravar entrevista.
Mais cedo, o delegado Emygdio Machado Neto, diretor do Departamento de Polícia Judiciária da Capital (Decap), disse que não seria possível autuar Medina em flagrante porque faltava o laudo para constatar a lesão como grave. A saída seria a confecção de um Termo Circunstanciado e abertura de inquérito. A polícia terá de aguardar o laudo com exames complementares para indiciar o acusado por lesão corporal grave, se for o caso.
O início da confusão se deu nas considerações finais
Marçal cumpriu a exigência de não chamar os adversários por apelidos, mas em sua última fala, já nas considerações finais, se referiu ao prefeito como “Bananinha” e disse que ele seria preso pela Polícia Federal “por causa de problema de creche”. A fala é uma referência à Máfia das Creches, que investiga desvios de recursos públicos pagos pela Prefeitura à entidades que gerenciam as unidades infantis. A Polícia Federal indiciou mais de 100 pessoas e pediu um inquérito específico para apurar a participação de Nunes no caso. Ele não foi indiciado até o momento.
“Eu faço uma promessa de campanha: ele vai pra cadeia, porque aqui no Estado seguraram ele. Vamos colocar ele na cadeia. Nós vamos prender o prefeito por envolvimento com problema de creche. A Polícia Federal”, disse Marçal.
Ele foi interrompido por Tramontina. “Está muito claro a atitude do senhor. Foi tudo tão bom, tudo tão legal, agora na consideração você está querendo entornar o caldo. Por favor, candidato”, pediu o mediador.
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Fora das câmeras, Nunes perguntou se iria “ficar por isso mesmo”. Marçal insistiu no discurso, foi advertido três vezes e em seguida expulso por Tramontina. Neste momento, é possível ouvir um barulho de confusão e, por alguns segundos, são captadas imagens de pessoas se empurrando. Uma pessoa diz “esse cara tem que sair preso”.
“Não consegui fazer o encerramento do debate porque tive que excluir Pablo Marçal que reiteradamente desrespeitava as regras. Na saída dele houve uma confusão e um assessor do candidato Ricardo Nunes foi agredido, levou um soco no rosto e está sangrando bastante. A gente lamenta profundamente porque o debate foi muito bom e no final houve essa confusão”, resumiu Tramontina.
Candidatos e governador repudiam agressão
Após o ocorrido, Ricardo Nunes disse que só apela para a violência quem não tem “inteligência para debater ideias” e chamou a agressão como covarde. Segundo ele, Marçal “sempre precisa da confusão para chamar a atenção, já que não possui capacidade para apresentar propostas nos debates”.
Boulos elogiou o formato do debate do Flow, disse que foi possível discutir propostas e chamou a agressão de “absurda”. “Repudiamos todas as formas de violência, a gente não aceita isso, e repudiamos o baixo nível, a baixaria, que desde antes do debate começar estava entre Marçal e Ricardo Nunes”, declarou.
“Que m...., né. Desculpe o português, mas que grande m....!”, disse Tabata Amaral. “A gente tem um debate que ia entrar para a história dessa eleição como o que mais se falou de proposta, e qual a minha leitura: fica claro que quando o Pablo Marçal não está dando o showzinho de m.... dele para aparecer e ganhar dinheiro, ele não tem nada a dizer. Frustrado que não conseguiu dar o showzinho dele, acontece essa m.... que aconteceu. Marçal inspira essa agressividade e incita a violência desde o dia zero”, finalizou ela.
Datena disse que a nova agressão pode ajudar as pessoas entenderem a atitude que ele tomou no debate da TV Cultura, quando jogou uma cadeira em Marçal. “Eu fui atacado várias vezes e ninguém aguenta ser atacado várias vezes. Agora a virulência aparece de novo. Eu só espero que o nível dessas eleições termine bem. O elemento provocador disso tudo vocês já sabem quem é”, disse ele, se referindo ao ex-coach.
“O que eu quero dar de mensagem é a impunidade. Da mesma maneira que o Datena não tinha que ter saído impune quando ele pegou a cadeira e agrediu, aqui a mesma coisa. Esse rapaz não deveria sair impune. A gente não pode tolerar a violência física”, disse Marina Helena.
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que apoia Nunes, também repudiou a agressão. “Não dá mais para tolerar o que está acontecendo nessa campanha. Onde está o respeito ao eleitor que todo candidato precisa ter? Cadê o respeito à democracia que quem quer ser gestor precisa mostrar? Aonde vamos parar com tanta baixaria. As pessoas querem acompanhar o debate de ideias, querem ouvir as propostas que vão melhorar a vida delas. Tudo isso é lamentável”, escreveu em uma rede social.
Marçal e Nunes já haviam se provocado nos bastidores antes do início do debate. Ao se encontrarem nos corredores, o candidato do PRTB deu uma prévia do que faria ao final e disse que, se for eleito, prenderá o prefeito. Nunes respondeu o chamando de “condenadinho”.
“Tchutchuca do PCC, você vai pra cadeia, vagabundo”, disse Marçal. Na sequência, Nunes se virou para o ex-coach e o acusou de estar roubando um apelido que ele mesmo havia criado. “Você quer roubar até o apelido que eu te dei, ô ‘tchutchuquinha’”, rebateu o prefeito em tom irônico.
O debate atrasou mais de 30 minutos. O Estadão apurou que Marçal levou mais pessoas para o estúdio do que o permitido pelas regras. A organização confirmou a informação, mas disse que o atraso não estava relacionado a isso, sem apresentar outra explicação.
Clima era morno antes de agressão
O debate era tranquilo devido às regras que não permitiam enfrentamento direto entre os candidatos — eles apenas respondiam ou comentavam perguntas feitas por especialistas e eleitores. O formato favoreceu dobradinhas entre os candidatos, principalmente entre Guilherme Boulos (PSOL) e José Luiz Datena (PSDB) e Marçal e Marina Helena (Novo). Em uma delas, o ex-coach, que busca o eleitorado bolsonarista para ir ao segundo turno e viu Nunes crescer neste segmento nas últimas semanas, defendeu a gestão de Jair Bolsonaro (PL) na pandemia.
“Eu imagino que ele [Bolsonaro] fez tudo que fez tentando acertar. Defendo a saúde e os especialistas, mas a politização que foi feita nesse assunto foi nojenta”, disse Marçal, se posicionando contra o passaporte de vacinação. Oficialmente, o ex-presidente apoia Nunes, que também fez acenos à base de eleitores do ex-presidente ao dizer na semana passada que errou ao exigir comprovante de vacinação na capital paulista.
Calmo a maior parte do tempo, Datena foi advertido já na reta final após se irritar novamente com Marçal, que fez uma menção implícita à denúncia de assédio sexual contra o tucano. Se na TV Cultura a provocação resultou na cadeirada, desta vez a situação não escalou. Esse foi o único momento em que o tom subiu antes das considerações finais do ex-coach.
“Eu fui agredido de forma subliminar mais uma vez por um bandido condenado, pioneiro em crimes virtuais de assalto a banco, a velhinhos, me condena mais uma vez de uma forma brutal por um caso investigado pela polícia e arquivado pela Justiça”, disse Datena, relatando que sua mulher já foi atacada por um estuprador em Ribeirão Preto (SP). “E da boca suja desse bandido, condenado, eu sou obrigado a ouvir barbáries”, continuou.
No único direito de resposta concedido no debate, Marçal, cuja condenação no caso prescreveu, se defendeu. “Eu nunca toquei nada de ninguém, não tinha dinheiro nem pra pagar advogados, pra mim foi uma relação de trabalho, eles gostam de me acusar disso porque fazem parte de um consórcio comunista do Brasil”, disse.
Gestão Nunes vira alvo de adversários em debate sem confrontos diretos
Até o final conturbado, os ataques mais ácidos contra o prefeito haviam partido de Datena e do próprio Marçal, que chamou Nunes de “estepe” em alusão ao fato de que o atual prefeito assumiu o cargo após o falecimento de Bruno Covas, em 2021. O influenciador também criticou a atual gestão, afirmando que o prefeito não concluiu as obras de mobilidade urbana.
“Essa é uma gestão que é estepe, uma gestão que o estepe que foi colocado, é um estepe que tá furado e de fato a gente só pode chamar de prefeito quem foi eleito prefeito quem foi eleito vice-prefeito continua eternamente vice-prefeito”, disse o candidato do PRTB.
Já Datena citou o caso de uma criança que morreu porque foi esquecida em uma van que fazia transporte escolar. “A criança perdeu a vida ali dentro e foi esquecida pela pessoas que estava usando essa van com o nome da prefeitura, trabalhando para a prefeitura”, disse.
Na resposta, Nunes disse que sua gestão universalizou a oferta de creches para todas as crianças. “Nós temos o transporte gratuito para todas as crianças, inclusive para bebês”, respondeu o atual prefeito, que aproveitou a deixa para propor que mães não paguem passagem de ônibus ao buscar ou levar os filhos para as creches.
O prefeito também mencionou ações para acessibilidade de pessoas com deficiência adotadas por sua gestão. Entre elas, a oferta de atividades culturais e esportivas aos finais de semana nos Centros Educacionais Unificados (CEUs). “Tirolesas onde você, inclusive, faz a tirolesa com a sua cadeira de roda. É algo muito bacana”, declarou.
Boulos aproveitou a pergunta de uma eleitora para criticar a gestão do transporte público. O candidato do PSOL afirmou que a frota de ônibus diminuiu e o subsídio pago às empresas, aumentou. “Pra onde está indo esse dinheiro? Infelizmente, tem denúncia de ligação de alguma dessas empresas, que receberam R$ 1 bilhão da Prefeitura, com o crime organizado”, disse.
Nunes também foi alvo de críticas de Tabata Amaral (PSB), mas citou cidades governadas pelo PSOL de Boulos e por João Campos (PSB), namorado da deputada, para se defender. A candidata criticou a taxa de alfabetização das crianças da rede municipal e os resultados da capital paulista no último Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb).
“Não é a primeira vez que vejo Nunes culpar a pandemia”, disse ela, após o prefeito citar as dificuldades enfrentadas entre 2020 e 2021. “O Brasil conseguiu se recuperar, mas São Paulo ficou para trás. É a primeira vez na história que São Paulo não está entre as 10 primeiras capitais”, declarou a candidata do PSB.
“A média das cidades nos anos finais do ensino fundamental foi de 4,6. A nossa foi de 4,8. Nossos dados são melhores que Recife [cujo prefeito é Campos] e Belém [administrada pelo PSOL], por exemplo”, disse ele.
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