Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) farão o primeiro debate presidencial do segundo turno neste domingo, 16, a partir das 20 horas no estúdio da TV Bandeirantes, em São Paulo.
No primeiro turno, Lula obteve 57,2 milhões de votos válidos, ou 48,43% do contabilizado pela Justiça Eleitoral. Bolsonaro, candidato à reeleição, recebeu 51 milhões de votos, ou 43,20% do total.
De acordo com analistas ouvidos pelo Estadão, Lula e Bolsonaro buscarão aumentar a rejeição um do outro no debate. Na visão deles, o atual presidente deve ser mais incisivo em seus ataques, e Lula deve se concentrar em propostas e em uma postura mais defensiva.
Pesquisa Datafolha divulgada nesta sexta-feira, 14, aponta que Bolsonaro é o candidato mais rejeitado – 51% disseram não votar nele de jeito nenhum, enquanto 46% descartam votar no petista.
Pesquisas
Para Rodrigo Prando, cientista político e professor do Mackenzie, o debate tende a repercutir o clima hostil que ambas as campanhas vem apostando na segunda parte do pleito. “A rede social ditará a postura: canibalismo, satanismo, maçonaria. Essa retórica violenta e suja deve ser reproduzida no debate.” Os candidatos buscarão aumentar a rejeição do seu rival por meio de ataques pessoais.
Vitor Marchetti, cientista político e professor de Políticas Públicas da UFABC, afirma que os presidenciáveis têm uma missão dupla no encontro – segurar os votos que já conquistaram no primeiro turno e avançar nos eleitores que ainda não os escolheram. Aumentar a rejeição do outro tende a ser mais fácil do que conquistar votos para si.
Para o cientista político e pesquisador do Cepesp-FGV Guilherme Russo, aumentar o nível de rejeição do adversário é fundamental em uma disputa entre dois candidatos. “O objetivo principal do Bolsonaro será aumentar a rejeição de Lula”, afirma.
Russo acredita que, apesar dos ataques, o debate no segundo turno deve ser mais propositivo por conta do seu formato. “Temos muito mais tempo para cada presidenciável. É natural que ambos falem sobre mais temas e mais propostas. A expectativa, para além de ataques e acusações, é que haverá discussões sobre propostas e formas de ver o mundo.”
Estratégias para o debate
Para Rodrigo Prando, Bolsonaro deve repetir a estratégia usada por Padre Kelmon (PTB) no último debate do primeiro turno: atacar Lula. “Quando foi atacado, o petista perdeu a paciência. Sabendo disso, Bolsonaro deve partir pro ataque. Caso Lula responda na mesma moeda, ele tende a perder”, diz Prado.
Segundo ele, o atual presidente vai usar termos como “ex-presidiário” e “condenado” para se referir ao petista, fixando no rival o tema da corrupção. “Bolsonaro tem em seu DNA o confronto. Para ele, política é ataque e eliminação do adversário”.
Marchetti afirma que essa temática é debate favorável a Lula. “Para o petista, não tem sido proveitoso contrapor os pontos apresentados por Bolsonaro ou acusá-lo de corrupção”. Segundo o analista, nem mesmo detalhar as ações que o governo petista tomou para fortalecer o combate a corrupção tem apelado para os eleitores.
“Lula deve buscar um debate mais propositivo, falar sobre o que impacta a vida cotidiana do brasileiro economia, combustível, desemprego e fome.” A grande questão, segundo o professor, é como Bolsonaro reagirá diante dessa estratégia. “Teremos de ver se ele vai insistir nos ataques e nas pautas morais ou se ele vai partir para uma desconstrução do que foram os governos petistas”, diz Marchetti.
Para Guilherme Russo, Bolsonaro deve colocar pautas comportamentais e morais para jogo. “Ele irá trazer a religião para o debate. E Lula deve engajar nessa discussão, pois é um tema que importa para boa parte da população. É difícil de fugir.” Se a questão religiosa é um tema importante para o eleitorado bolsonarista, Lula pode explorar contradições presentes no discurso do atual presidente. “Há um grande buraco entre o eleitorado evangélico e Bolsonaro: a questão das armas. Esse é um campo que o petista deve explorar”, afirma Russo.
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