Michelle diz que Bolsonaro era ‘pão duro’ e defesa alega que cartão corporativo nunca foi usado

Advogados do ex-presidente ainda argumentaram que saques e pagamentos em dinheiro vivo com apoio de ajudantes da ex-primeira-dama e de Mauro Cid somam valores pífios

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Foto do author Weslley Galzo
Atualização:

BRASÍLIA - Os advogados de defesa de Jair Bolsonaro (PL) alegaram nesta segunda-feira, 15, que os saques e pagamentos com dinheiro vivo realizados por Mauro Cid, ajudante de ordens da Presidência nos últimos quatro anos, saíram da conta do ex-presidente. Eles negam que tenham sido usados recursos públicos do cartão corporativo para pagar despesas pessoais.

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“O presidente dispunha de um cartão corporativo pessoal dele que jamais foi criado senha. O presidente Bolsonaro nunca se utilizou de cartão corporativo para nenhuma despesa”, afirmou o assessor de imprensa do ex-presidente, Fábio Wajgarten. “100% dos saques tinham origem na conta pessoal do presidente da República”, enfatizou.

Os defensores do ex-presidente convocaram uma coletiva de imprensa às pressas para rebater informações divulgadas durante o final de semana sobre a investigação da Polícia Federal (PF) que apura suspeitas de desvio de dinheiro da Presidência por meio de Cid, a mando da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL), com suposta anuência de Bolsonaro.

Segundo eles, Michelle afirmou que utilizava o cartão de crédito adicional da amiga Rosimary Cordeiro por que Bolsonaro era “pão duro” e ela não possuía receita para justificar um pedido ao banco. Apesar de a ex-primeira dama definir o marido como “pão duro”, seria ele mesmo o responsável pelo pagamento dos custos com o cartão. A fatura mensal, que segundo os advogados era de aproximadamente R$ 2 mil, era reembolsada por Michelle a Rosimary. A prática, iniciada em 2011, durou até agosto de 2021 e só foi cessada após o Banco do Brasil oferecer um cartão à ex-primeira-dama.

Cid

Mauro Cid foi preso no dia 3 de maio em uma operação da PF sobre fraudes em certificados de vacinação contra a covid-19 no sistema do Ministério da Saúde.

O ex-presidente Jair Bolsonaro nega ter usado recursos públicos para pagar despesas pessoais Foto: Wilton Junior / Estadão

A defesa alega que os boletos da família eram pagos normalmente, mas, em caso de compras triviais de pequenos fornecedores, era ordenado o saque para pagamento em dinheiro vivo. Os advogados argumentam que a prática de saques era adotada como método de segurança para evitar o rastreio das informações bancárias do então casal presidencial, assim como possíveis ataques e tentativas de envenenamento relacionados às compras em supermercados.

Wajngarten chegou a apresentar uma planilha com o que seriam todos os extratos de saques da conta pessoal de Bolsonaro, entre 2019 e 2022. Neste período, o ex-presidente ordenou pagamentos em dinheiro vivo entre R$ 5,6 mil e R$ 25,3 mil por mês. Segundo a defesa, os valores movimentados eram para gastos “pequenos” do “dia a dia”, como a compra de pizza ou o pagamento de manicure para a ex-primeira-dama. O assessor ainda afirmou que a defesa vai contratar um perito contábil criminal “para evidenciar que não há nenhum desajuste entre entradas e saídas de recursos”.

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Em relatório encaminhado ao Supremo Tribunal Federal, a Polícia Federal afirmou que o tenente-coronel Mauro Cid ‘desviou e concorreu para desviar dinheiro público’ do governo federal para arcar com ‘despesas da República’. Segundo a corporação, os desvios teriam ocorrido em 2021, com depósitos realizados de ‘forma fragmentada’ e com ‘uso de dinheiro para pagamento direto de despesas privadas’.

A avaliação consta de documento elaborado no bojo do inquérito em que foram interceptadas conversas entre Cid e uma assessora de Michelle Bolsonaro, com orientação de pagamento para despesas da então primeira-dama. Os achados foram revelados pelo portal UOL. De acordo com o portal, os investigadores ainda identificaram, em meio a diálogos acessados pela PF, seis comprovantes de depósitos para Michelle, em valores que totalizaram R$ 8,6 mil.

A investigação da PF ainda apontou que a Cedro do Líbano Comércio de Madeiras e Materiais, empresa que teve contratos públicos na gestão Bolsonaro teria feito, em 2022, uma série de transferências a um militar que trabalhava com Mauro Cid na Ajudância de Ordens da Presidência da República – segundo o UOL.

‘Pífios’

A PF identificou transações suspeitas envolvendo saque de dinheiro vivo para o pagamento de contas do casal presidencial durante o governo Bolsonaro. O UOL revelou no último sábado, 13, áudios de conversas de duas assessoras da primeira-dama, Cintia Borba Nogueira e Giselle dos Santos Carneiro da Silva, com Mauro Cid para organizar o pagamento com dinheiro vivo de contas da primeira-dama. A defesa Bolsonaro, por sua vez, argumentou que os valores movimentados para custear os gastos de Michelle eram pífios.

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De acordo com o UOL, também com base na investigação da PF, uma empresa que teve contratos públicos na gestão Bolsonaro, a Cedro do Líbano Comércio de Madeiras e Materiais, teria feito, em 2022, uma série de transferências a um militar que trabalhava com Mauro Cid na Ajudância de Ordens da Presidência da República.

A defesa, por sua vez, argumentou que nenhum depósito de empresa foi feito na conta de Bolsonaro, durante seus quatro anos de governo, para pagamento de despesas pessoais. “Não há ao longo dos 48 meses de mandato nenhum depósito na conta do presidente Bolsonaro de nenhuma empresa para pagamento de contas dele e da família dele”, disse Wajgarten.

Outro assunto abordado pelos advogados foi a abertura de uma conta por Bolsonaro nos Estados Unidos, em dezembro do ano passado, dias antes de embarcar rumo ao País nos últimos dias de seu mandato. O ex-presidente transferiu US$ 135 mil, o equivalente a R$ 600 mil, para uma conta do Banco do Brasil na Flórida, onde é administrada pelo Bank of America.

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De acordo com a defesa, Bolsonaro optou por mandar seu dinheiro de poupança para fora do País pois teria “medo da situação da economia brasileira” com a chegada do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao governo.

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