Defesa de mulher que pichou estátua vê com preocupação julgamento ‘sob violenta emoção’ dito por Fux

Defesa de Débora Rodrigues dos Santos diz que declaração do ministro do STF atesta que condenados pelo 8 de Janeiro estão sendo submetidos por julgamentos ‘políticos e emocionais’

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Foto do author Gabriel de Sousa
Atualização:

BRASÍLIA – A defesa da cabeleireira Débora Rodrigues dos Santos manifestou preocupação com a declaração do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luiz Fux nesta quarta-feira, 26, sobre as sentenças aos condenados pelo 8 de Janeiro. No julgamento que tornou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e sete aliados dele réus por tentativa de golpe de Estado, o magistrado afirmou que a Corte já julgou os vândalos com “violenta emoção” e aplicou “penas exacerbadas”.

Nesta quarta-feira, 26, o STF levantou o sigilo da ação penal a que Débora responde. Com isso, as peças e o depoimento em vídeo da cabeleireira, foram liberados. Veja a íntegra do depoimento:

Débora já tem dois votos para ser condenada a 14 anos de prisão por cinco crimes referentes ao episódio. A mulher ficou conhecida por pichar com batom a estátua “A Justiça”, localizada na frente do Supremo Tribunal Federal (STF), com a frase “Perdeu, mané”.

Débora Rodrigues dos Santos admitiu em depoimento ter pichado a estátua da Justiça com batom. Foto: Reprodução/processo judicial

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Em nota, os advogados Hélio Júnior e Tanieli Telles, que representam Débora, afirmam que a defesa viu com “preocupação” a declaração de Fux porque a Constituição assegura que “todo julgamento deve ser conduzido de forma imparcial, isenta e dentro dos estritos limites da legalidade”.

“Quando um ministro do STF reconhece publicamente que sentenças foram proferidas sob emoção e que algumas penas podem ter sido exacerbadas, fica evidente que houve um afastamento dos princípios fundamentais do devido processo legal e da individualização da pena”, afirmou os advogados da cabeleireira.

Os advogados de Débora solicitam uma dosimetria da pena menos injusta para a ré. Hélio e Tanieli querem que sejam aplicados atenuantes para que a cabeleireira receba a pena mínima, levando em consideração os crimes imputados, de dez anos de reclusão.

Na nota, a defesa da cabeleireira ainda afirma que o STF promove um julgamento “político e emocional”. Por fim, os advogados conclamam os ministros da Corte a rever as penas impostas a todos os réus pelos atos de 8 de Janeiro.

“Diante disso, exigimos que o Supremo Tribunal Federal reveja urgentemente as condenações desproporcionais e que se respeite o princípio da proporcionalidade das penas, evitando decisões arbitrárias que ferem os direitos e garantias individuais, não somente de Débora, mas de todos os réus do 8 de Janeiro”, concluiu a nota da defesa.

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Nesta segunda-feira, 24, Luiz Fux pediu vista e paralisou o julgamento de Débora. O ministro Alexandre de Moraes, relator do caso, e o ministro Flávio Dino votaram para que ela seja condenada a 14 anos de prisão em regime inicial fechado.

Citando os julgamentos sob “emoção” e as “penas exacerbadas”, Fux explicou a Moraes nesta quarta os motivos de ter pedido mais tempo para analisar o caso.

“Vou fazer uma revisão dessa dosimetria, porque, se a dosimetria é inaugurada pelo legislador, a fixação da pena é do magistrado. E o magistrado o faz à luz da sua sensibilidade, do seu sentimento a cada caso concreto. O ministro Alexandre explicitou a conduta de cada uma das pessoas. E eu confesso que, em determinadas ocasiões, eu me deparo com uma pena exacerbada”, disse Fux.

O ministro do STF Luiz Fux Foto: Andressa Anholete/STF

Em seguida, Fux citou a “violenta emoção” que provocou a manifestação da defesa de Débora: “Nós julgamos sob violenta emoção após a verificação da tragédia do 8 de Janeiro. Eu fui ao meu ex-gabinete, que a ministra Rosa (Weber) era minha vice-presidente, e vi mesa queimada, papéis queimados. Mas eu acho que os juízes na sua vida têm sempre de refletir dos erros e dos acertos“.

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Débora tem 39 anos e é acusada de ter praticado os crimes: associação criminosa armada; abolição violenta do Estado Democrático de Direito; golpe de Estado; dano qualificado pela violência e grave ameaça, contra o patrimônio da União, e com considerável prejuízo para a vítima; e deterioração de patrimônio tombado.

Em depoimento para a Polícia Federal (PF), ela confirmou que vandalizou a escultura com batom vermelho. Débora também leu uma carta destinada a Moraes, pedindo desculpas por sua atitude. A mulher afirmou ainda que desconhecia, à época, a importância da escultura e que outra pessoa começou a escrever na obra, mas pediu que a cabeleireira continuasse porque sua letra era mais bonita.

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