RIO – O tenente-coronel Rodrigo Bezerra Azevedo, um dos “Kids pretos” preso por supostamente integrar o núcleo operacional do plano de golpe de Estado e de sequestro e execução do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), entregou à Polícia Federal, em depoimento nesta quinta-feira, 28, linhas de investigação para provar que ele foi alvo de “sabotagem”.
A defesa de Azevedo afirmou em entrevista na manhã desta sexta-feira, 29, que o militar das Forças Especiais do Exército foi alvo de armação e que provas foram plantadas na investigação da Polícia Federal para incriminá-lo.
O advogado Jeffrey Chiquini contestou as provas utilizadas pela Polícia Federal no relatório final da investigação sobre a trama golpista. A principal delas, o celular e a linha telefônica atribuídos ao tentente-coronel Rodrigo Bezerra que foram rastreadas pelos investigadores entre os integrantes da organização criminosa que monitorou e planejou a execução de Moraes no dia 15 de dezembro de 2022.
“Como um cavalo de tróia, um celular utilizado no dia 15, que há provas de que foi utilizado, não nego, foi plantado no coronel no dia 24. É isso que a investigação tem que apurar. Ou houve uma sabotagem contra as Forças Especiais, de plantar esse aparelho celular, ou o verdadeiro culpado tentou se escusar de responsabilidade imputando esse aparelho celular há uma pessoa gritante inocente a desviar o foco das investigações”, disse.
Segundo a PF, o grupo criminoso usou técnicas de anonimização na tentativa de esconder os verdadeiros donos dos telefones rastreados. Os “telefones frios”, de acordo com a investigação, são aparelhos comprados e cadastrados com dados de outras pessoas para dificultar ou impedir a identificação.
Um dessas linhas foi registrada pelo tenente-coronel Rodrigo Bezerra 14 dias após a ação que pretendia sequestrar e executar o ministro Alexandre de Moraes, no dia 29 de dezembro de 2022. A defesa alega que o militar recebeu o celular no dia 24 daquele mês, ou seja, cinco dias antes de ativar uma nova linha telefônica. Para o advogado Jeffrey Chiquini, o celular foi plantado de forma proposital e entregue ao coronel no dia em que ele assumiu o comando do Centro de Coordenação de Operações Especiais.
“Nós temos provas nítidas de sabotagem, que é técnica de guerrilha, técnica de guerra, plantando provas falsas em personagens e alvos específicos a descredibilizar as Forças Armadas e a criminalizar as Forças Especiais. Isso é nítido. Quem tem interesse não cabe a mim. Temos provas de que o coronel Rodrigo Bezerra estava em sua casa no dia 15 comemorando o seu aniversário”, afirmou o advogado.
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A defesa planeja pedir à PF acesso a supostas provas da inocência do militar que estão em um dos celulares apreendidos na Operação Contragolpe, como recibos de aplicativos de comida e de cartão de crédito. E a partir disso, solicitar a liberdade do tenente-coronel.
‘Ninguém seguraria um Força Especial’, diz o advogado
O advogado classifica as condutas atribuídas pela PF aos investigados como “amadoras” e que militares das Forças Especiais não cometeriam erros e não deixariam rastros por suas formações especializadas na carreira militar. Segundo Chiquini, “ninguém seguraria um Força Especial” disposta a executar um plano como o apresentado pela Polícia Federal.
“Não teve a participação da instituição Forças Especiais. É infantil. É impossível qualquer envolvimento de Forças Especiais em condutas amadoras como essa. Eu afirmo aos senhores: ‘não tem participação de Forças Especiais, não tem envolvimento da instituição Exército Brasileiro. Se tivesse, não teria sido feito dessa forma e ninguém seguraria um Força Especial”, disse.
O tenente-coronel Rodrigo Bezerra Azevedo prestou um depoimento de três horas à Polícia Federal nesta quinta-feira. Segundo a defesa, o militar está disposto a provar que não teve qualquer envolvimento no suposto plano. Chiquini não descarta uma tentativa de golpe, mas diz que, se houve, foi planejado por “amadores”.
“Eu não disse que se descarta a tentativa de golpe. Nós temos uma cadeia de ações amadoras que, por si só, provam de forma clara, evidente, que não houve participação institucional do Exército e das Forças Especiais. Se houve, não cabe a mim descartar, ou foi de forma isolada por pessoas amadoras que nunca tiveram um mínimo preparo”, finalizou.
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