BRASÍLIA - A Polícia Federal pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) a abertura de um inquérito para apurar uma suposta cobrança de propina no funcionamento da CPI das Bets, em curso no Senado.
A denúncia é a de que um lobista se apresenta a representantes de casas de apostas e promete blindá-los de convocações e indiciamentos na CPI com base na influência que teria sobre integrantes da comissão.
Ao menos um pedido de propina teria sido apresentado pelo lobista Silvio Barbosa de Assis ao empresário Fernando Oliveira Lima, o Fernandin Oig, de Teresina (PI).
Os advogados de Fernando não comentaram. A reportagem não conseguiu contato com Assis. Ele tem negado a denúncia e afirmado que comparece às reuniões da CPI por interesse na produção de um documentário sobre o tema.
A entrada da PF no caso foi publicada pelo jornal “Folha de S. Paulo” e confirmada pelo Estadão.
Em funcionamento desde o início de novembro, a CPI foi criada para investigar “a crescente influência dos jogos virtuais de apostas on-line no orçamento das famílias brasileiras”.
O colegiado é presidido pelo senador Hiran Gonçalves (PP-RR) e tem a senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS) como relatora.
A relatora Soraya Thronycke é próxima de Silvio de Assis e emprega um irmão dele no próprio gabinete. A parlamentar retruca as acusações.
Diz que, na verdade, tem sido ameaçada e intimidada por senadores que atuam conforme o interesse das bets e que agem para que elas não sejam investigadas.
Em nota, a senadora diz que tem “recebido denúncias graves e preocupantes sobre o possível envolvimento de parlamentares e seus familiares em esquemas ilícitos, incluindo a realização de lobby para empresários donos de sites de apostas ilegais e influenciadores, com o objetivo de evitar convocações para comparecimento à CPI”.
Fernando é dono do One Internet Group (Oig), empresa baseada no Piauí, e apontado como um dos principais difusores do “jogo do tigrinho” no Brasil. Ele chegou a ser convocado pela CPI e prestou depoimento no dia 26.
A convocação do empresário foi requerida pela relatora. No depoimento, ele afirmou que sua empresa tem autorização para funcionar no Brasil e segue as regras mais recentes do Ministério da Fazenda.
A reportagem ouviu três empresários de casas de apostas, que só aceitaram falar sob reserva. Eles afirmam que, de fato, Silvio de Assis estabeleceu contatos com representantes do segmento e com senadores que viriam a compor a comissão tão logo ela foi confirmada. A consulta seria para oferecer o serviço de “relações governamentais”.
O senador Alessandro Vieira (MDB-SE) também pediu para que a Procuradoria-Geral da República (PGR) abra uma investigação.
Com a denúncia de propina, uma parte dos membros da CPI, especialmente os mais próximos à “bancada das bets” afirma que a credibilidade dos trabalhos da comissão está ameaçada. A ideia é pressionar o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), para esvaziar a CPI e encerrá-la por antecipação.
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