O nível de confiança nos partidos políticos caiu para um dos menores índices da história, aponta estudo realizado pelo Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT). Oito em cada dez brasileiros, ou 77,8%, afirmam não ter “nenhuma confiança” nessas instituições. Em estudos anteriores com metodologia similar, nunca o número foi tão elevado.
Em 2014, 46,4% não confiavam nos partidos e, em 2006, 36,7%. Os principais motivos citados são a existência de corrupção nos partidos políticos e a falta de capacidade de representar os interesses dos eleitores. O pouco espaço para participação dos cidadãos e a falta de um programa político claro também foram citados como problemas.
Os dados são de um levantamento realizado entre 15 e 23 de março com 2.500 entrevistas em 26 Estados (com exceção do Amapá) realizado pelo Instituto da Democracia e Democratização da Comunicação, parte do INCT. A pesquisa envolveu instituições acadêmicas como UFMG, UERJ, Unicamp e UnB.
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Conforme o estudo obtido com exclusividade pelo Estado, e antecipado pelo site BR18, o número de descrentes com os partidos políticos quase dobrou em quatro anos. Em 2014, o Núcleo de Pesquisa de Políticas Públicas (Nupps), da USP, apontou em levantamento com método científico semelhante que 46,6% dos entrevistados não confiavam nos partidos.
“O aumento da desconfiança é algo que já imaginávamos, mas não com esse crescimento de 2014 para 2018. É totalmente fora do que encontramos em outras pesquisas”, diz o diretor do Centro de Estudos de Opinião Pública da Unicamp, Oswaldo Amaral, um dos líderes do estudo.
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Para Amaral, essa crise de representação também ocorre em outros países, mas no Brasil tem sido potencializada pelos casos de corrupção. Ele cita como exemplo a Operação Lava Jato, que atingiu legendas tradicionais, políticos de destaque nacional e grandes empresas.
Para o pesquisador Sérgio Simoni Júnior, da Unicamp, outro autor do estudo, as investigações e condenações recentes ajudaram a criar um clima que pede renovação. “Tem um lado bom, que é procurar melhorar a política, mas o risco é cair em algo antipartidário e antipolítico”, afirma. Segundo Simoni, o mau momento econômico reforça o sentimento de desconfiança sobre a efetividade do sistema político.
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O professor emérito de Ciência Política da UnB David Fleischer considera que a imagem dos partidos nas eleições 2018 é pior do que em pleitos anteriores, justamente por conta da corrupção. “Toda semana temos notícias de políticos de grandes partidos envolvidos em escândalos. As pessoas ficam desconfiadas.”
Poucas preferências. A pesquisa também mostra que 83,2% dos eleitores não simpatiza com nenhum partido. Em 2014, esse número era de 76,7%. Entre os que declaram ter uma instituição de preferência, o PT aparece como o principal, sendo a opção de 8,7% dos eleitores. Pessoas de faixa etária mais avançada e da região Nordeste são os grupos com maior simpatia pela agremiação. Outras siglas importantes no cenário nacional como PSDB e MDB aparecem com 1,3% e 0,9% da preferência, respectivamente.
2 perguntas paraRodrigo Prando, cientista político da Universidade Presbiteriana Mackenzie
1. O que explica essa desconfiança tão elevada nos partidos políticos? Essa é uma descrença na política, nos políticos e no espaço institucional em que eles agem, os partidos. No fundo, os partidos hoje não conseguem se conectar com os anseios de uma sociedade dinâmica e conectada em rede.
2. A estrutura partidária dificulta a renovação? Existe uma oligarquia partidária, uma estrutura absolutamente centralizada nas mãos de poucas lideranças, que, em geral, são homens mais velhos. Muitos jovens nem pensam em ir para os partidos porque não conseguem ascender. É uma estrutura que acaba barrando quaisquer tentativas de renovação daqueles que gostariam de tentar, dentro da dinâmica partidária, conseguir mais visibilidade.
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