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Desde 1992, nenhum prefeito foi eleito em SP com uma rejeição tão alta quanto a de Pablo Marçal

Levantamento do ‘Estadão’ com base em pesquisas Datafolha mostra que rejeição tem sido fator determinante nas últimas disputas pelo comando da capital paulista

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Foto do author Bianca Gomes
Atualização:

Desde 1992, nenhum candidato à Prefeitura de São Paulo venceu com uma rejeição tão alta quanto a de Pablo Marçal (PRTB). De acordo com a última pesquisa Datafolha, quase metade (48%) dos eleitores dizem que não votariam de jeito nenhum no influenciador.

Rejeições elevadas têm sido um fator determinante nas derrotas para a Prefeitura da capital paulista. Levantamento do Estadão com base em pesquisas do Instituto Datafolha dos últimos oito pleitos mostra que a rejeição dos candidatos eleitos nunca ultrapassou a marca de 38% no primeiro turno – esse “teto” foi atingido pelo ex-prefeito Paulo Maluf (do então PDS) em 1992, ano em que as eleições passaram a ter dois turnos.

Pablo Marçal (PRTB) em sabatina promovida pelo 'Estadão'  Foto: Werther Santana/Estadão

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Com exceção de Maluf e Celso Pitta, em 1996, que na época era filiado ao PPB e chegou a ser rejeitado por 30% dos paulistanos, todas as demais candidaturas vitoriosas na cidade apresentaram rejeições iguais ou inferiores a 25% nas pesquisas finais do Datafolha.

Os menores índices de rejeição foram registrados por José Serra (PSDB), em 2004, e Marta Suplicy (PT), atualmente vice na chapa de Guilherme Boulos (PSOL),em 2000: apenas 15% dos paulistanos tinham repulsa pelos dois candidatos, segundo os últimos levantamentos do Datafolha localizados pela reportagem para esses pleitos.

Na sequência, aparece o então tucano João Doria, em 2016, com 18% de rejeição entre os paulistanos na véspera da votação, seguido por Gilberto Kassab (à época no DEM), em 2008, com 21% de aversão um dia antes da eleição.

Tanto Fernando Haddad (PT), em 2012, quanto Bruno Covas (PSDB), em 2020, tinham 25% dos eleitores declarando que não votariam neles de jeito nenhum. Covas, de quem Ricardo Nunes (MDB) era vice, foi o último prefeito eleito na cidade de São Paulo.

Marçal: no rol dos rejeitados

Com uma rejeição de 48% segundo o último levantamento do Datafolha, Marçal se aproxima de nomes como Celso Russomanno (Republicanos), que, apesar de liderar a corrida eleitoral de 2020 em alguns momentos, viu metade da população rejeitar sua candidatura no fim da eleição.

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Outro exemplo emblemático é o de Fernando Haddad, que na campanha pela reeleição em 2016 atingiu 49% de rejeição, índice que o impediu de sequer disputar o segundo turno – João Doria venceu, de forma inédita, já no primeiro.

O recorde de rejeição nas últimas três décadas pertence ao ex-presidente Fernando Collor, que, nos anos 2000, tentou retomar sua carreira política candidatando-se à Prefeitura de São Paulo pelo PRTB, mesmo partido de Pablo Marçal. Collor atingiu impressionantes 72% de rejeição em uma pesquisa Datafolha. Inelegível por ter sofrido um impeachment anos antes, ele teve sua candidatura cassada pela Justiça Eleitoral.

Embora tenha experimentado uma ascensão rápida nas intenções de voto, Marçal viu sua rejeição aumentar em 18 pontos desde o início de agosto. Para Renato Dorgan, CEO do Instituto Travessia e especialista em pesquisas qualitativas e quantitativas, é improvável que Marçal vença a eleição com esse nível de rejeição. A menos que ele consiga chegar ao segundo turno contra Boulos e transforme a disputa pela Prefeitura de São Paulo em uma “eleição dos rejeitados”, semelhante ao cenário de 2022 com Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL).

“É muito difícil o Marçal vencer uma eleição de dois turnos com uma rejeição dessa. Em 2004, Marta Suplicy perdeu para o Serra pela rejeição (ela chegou a ter 34% de rejeição no Datafolha naquele ano). Boulos também tem uma rejeição elevada, mas está sendo poupado por conta do Marçal”, disse Dorgan.

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A campanha de Marçal não enxerga a alta rejeição como um obstáculo para que o influenciador chegue ao segundo turno, acreditando que a eleição deste ano em São Paulo é diferente das disputas das últimas três décadas.

O ex-coach fez alguns ajustes em seu discurso na tentativa, até agora fracassada, de reduzir essa repulsa de parte do eleitorado. Entre as mudanças, pediu desculpas a Tabata Amaral por culpá-la pela morte de seu pai e adotou um tom menos agressivo no debate do SBT – que não se sustentou no debate seguinte, do qual ele foi expulso.

Para Dorgan, Marçal já iniciou a disputa com uma rejeição natural por estar associado ao bolsonarismo. No entanto, suas atitudes durante os debates acrescentaram um novo elemento: “Uma característica do Bolsonaro que atrai eleitores é a autenticidade. Marçal, porém, ultrapassou o limite da veracidade e se transformou em um showman, com episódios como a ambulância e a cadeirada, tornando tudo um espetáculo. Algumas pessoas gostam disso, porque estamos na era das redes sociais, mas outra parte do eleitorado se assustou”, afirmou.

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