BRASÍLIA - A presidente Dilma Rousseff conversou, por telefone, no final da noite desta terça-feira, 3, com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). A presidente fez duas tentativas antes de conseguir ser atendida pelo peemedebista, logo depois de ele devolver ao governo, sem votar, a MP das desonerações, que faz parte do ajuste fiscal do Planalto. Só teve sucesso depois de telefonar para um líder próximo ao senador que passou o telefone para Calheiros.
Conforme o Estado apurou, a conversa foi cordial. Renan explicou para a presidente que a decisão do Senado de devolver ao governo a Medida Provisória que reduz benefícios fiscais à empresas teve como propósito fortalecer as instituições. Conforme relatos, Renan justificou à presidente que seria inconstitucional dar urgência a uma medida que trata de alteração de imposto.
Em crise com o Planalto após não ver interesses atendidos, como a manutenção de um indicado no comando da Transpetro e a falta de apoio financeiro ao governo de Alagoas, governado por seu filho, Renan Filho, o presidente do Senado determinou nesta terça a devolução da MP 669. Encaminhada ao Congresso na sexta-feira, a MP reduz o benefício fiscal de desoneração da folha de pagamentos e integra as medidas tomadas pelo governo na tentativa de equilibrar as contas da União num cenário de declínio na área econômica. Apesar do tom da conversa entre a presidente e Renan ter sido cordial, no Congresso a expectativa é que todos os projetos de interesse do governo sejam derrubados. Renan já teria avisado a interlocutores das centrais sindicais que no caso das medidas provisórias que tratam dos direitos trabalhistas, ele irá criar uma comissão para analisá-la já com ordem para que sejam rejeitadas.
A retaliação ao governo também ocorre no momento em que Renan foi avisado de que seu nome está entre os futuros investigados da Operação Lava Jato.As acusações contra o senador teriam partido do ex-diretor da Petrobrás Paulo Roberto Costa, um dos delatores da operação. Conforme revelou o Estado nesta quarta, o ex-diretor da estatal relatou em sua delação que Renan recebeu propina em contratos da Diretoria de Abastecimento e que, na prática, os pagamentos ao peemedebista “furaram” o teto de 3% estabelecido como limite dos repasses a políticos no esquema de cartel e corrupção desbaratado pela Operação Lava Jato.