A pretexto de alavancar candidaturas municipais do seu partido e de aliados, Jair Bolsonaro (PL) dedicou-se nos últimos meses a uma agenda de viagens e eventos com o objetivo de manter acesa a chama do seu capital político e elevar o custo de eventuais condenações na Justiça. Por onde passa, ele confirma sua capacidade de reunir multidões, mas há sinais de desgaste nos fundamentos de sua liderança. Isso ficou claro na manifestação de 7 de Setembro realizada em São Paulo, que reuniu cerca de 45 mil pessoas, bem menos do que as 185 mil que estiveram no ato bolsonarista anterior, em fevereiro deste ano.
Os organizadores acreditaram, erroneamente, que a mobilização ganharia impulso por causa da suspensão da rede social X, ex-Twitter, um semana antes, por decisão do ministro do STF Alexandre de Moraes, visto como o algoz da direita bolsonarista e principal alvo dos discursos na Av. Paulista. Eis a provável causa da perda de ânimo das massas pró-Bolsonaro: o ex-presidente tem se mostrado incapaz de renovar a sua retórica populista.
A cada dia que passa, fica mais difícil sustentar sua aura de salvador da pátria, pois o foco passou a ser a busca pela própria anistia em processos criminais e eleitorais. Bolsonaro está na defensiva e tornou-se monotemático. O que ele e seus aliados querem, o impeachment de Moraes pelo Senado, é praticamente impossível de se concretizar, além de ser o desdobramento de uma agenda que se repete desde o início de 2019, ou seja, o embate com o STF. Isso é tudo que ele pode oferecer aos seus seguidores, mais de cinco anos depois?
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Bolsonaro é um líder populista, o que significa que ele segue um padrão de como fazer política. Segundo o cientista político irlandês Simon Tormey, especialista no assunto, um populista caracteriza-se por 1) eleger “elites” que supostamente atravancam os interesses do “povo”; 2) investir contra o establishment político, alegadamente em crise; 3) apresentar uma visão redentora para os problemas nacionais; 4) ser carismático; 5) ter uma fala simples, voltada para o confronto. Os três primeiros elementos acima perderam força na retórica de Bolsonaro. Na era da tiktokização da política, ele precisaria reciclar constantemente os complôs das elites a enfrentar, criar novas crises políticas e atualizar-se como messias. Bolsonaro não consegue se reinventar como populista, ainda que o fenômeno social que o alavancou siga firme e forte.
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