Os prefeitos Eduardo Paes (PSD), do Rio de Janeiro, e João Campos (PSB), de Recife, não deram a colher de chá de um segundo turno para seus adversários. Reeleitos com mais da metade dos votos válidos (Paes com 60,4% e Campos com 78,1%), eles representam ao mesmo tempo um ativo político para o presidente Lula e uma ameaça às ambições hegemônicas do PT.
Nos dois casos, o PT tentou garantir pelo menos a possibilidade de indicar os vices nas chapas em troca de não ter candidato próprio e de apoiar as campanhas à reeleição. O partido fracassou nesse intento com ambos. Paes e Campos preferiram escolher vices do seu círculo mais próximo, de sua extrema confiança, por dois motivos.
Primeiro, porque já despontavam como francos favoritos nas pesquisas, tornando o engajamento direto do PT nas campanhas algo menos essencial. Bastava não obstruir o caminho. Segundo, porque é bastante provável que tanto Paes quanto Campos tenham um segundo mandato curto. Eles devem deixar o cargo mais para frente para disputar a eleição para os governos de seus estados, Rio de Janeiro e Pernambuco (ainda que Paes jure pela Portela e pelo Vasco que não).
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Para esse projeto, precisam de sucessores perfeitamente alinhados, que vão assumir a prefeitura por mais de dois anos e serão fundamentais também para dar suporte às suas campanhas estaduais. Paes formou uma chapa puro-sangue com o deputado estadual Eduardo Cavaliere, que já desempenhou diversos cargos na prefeitura. Campos escolheu seu ex-chefe de gabinete Victor Marques, do PCdoB.
O PT passou meses tentando emplacar as indicações a vice. No caso de Campos, a insistência durou mais tempo. Ele foi eleito em 2020 justamente numa disputa contra o partido de Lula. Mesmo com a reaproximação posterior e seu apoio na eleição presidencial de 2022, Campos é muito criticado por figuras históricas do petismo pernambucano.
Elas temem que o PT vire pó com o crescimento da primazia política do prefeito no Estado. João Campos, não custa lembrar, pertence a uma linhagem política que inclui o seu bisavô Miguel Arraes e o pai, Eduardo Campos, que foi governador e candidato à presidência em 2014, quando morreu em um acidente de avião.
O PT jogou a toalha nas negociações para a indicação dos vices no Rio e em Recife por causa do cálculo político de Lula para a sua tentativa de reeleição em 2026. Ele vê nas alianças com Paes e Campos uma oportunidade para blindar o bolsonarismo no Rio de Janeiro e em Pernambuco, respectivamente o segundo e o sétimo maiores colégios eleitores do País.
Paes pode inclusive ajudar Lula a recuperar o eleitorado do Rio, onde o petista perdeu no segundo turno para Jair Bolsonaro, em 2022, por cerca de 56% a 44% dos votos válidos. Campos, por sua vez, pode ajudar a conter um fenômeno preocupante para Lula: em 2022, ele confirmou o favoritismo no Nordeste, mas Bolsonaro cresceu em número de votos na região em comparação com a eleição de 2018. Nesse contexto, o projeto nacional de Lula para 2026 se sobrepôs aos interesses regionais de seu partido.
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