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Opinião|STF exibe ‘populismo supremo’ na reação à PEC aprovada no Senado

De tanto se esforçar para responder à altura às investidas populistas, certos ministros da Suprema Corte acabaram por incorporar o populismo em suas atitudes

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Foto do author Diogo Schelp
Atualização:

Entre 2019 e 2022, Jair Bolsonaro elegeu os ministros do STF como inimigos preferenciais em seu discurso populista de embate entre o bem (ele próprio, representante do povo) e o mal (a elite judicial, que não lhe permitia governar).

Foram quatro anos desafiadores para o STF. Seus integrantes se uniram para enfrentar os arroubos autoritários do presidente, por vezes tomando decisões judiciais importantes, como a que assegurou a autonomia dos estados para adotar medidas sanitárias durante a pandemia.

Ministros do Supremo Tribunal Federal antes de iniciar um julgamento de acusados de participação nos atos golpistas de 8 de Janeiro Foto: WILTON JUNIOR/ESTADÃO

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Em muitos aspectos, porém, a maneira como alguns ministros do STF escolheram enfrentar o populismo de Bolsonaro acabou alimentando o confronto entre os Poderes e endossando as teorias de que a corte “tinha um lado” na polarização política do país. Isso vale, por exemplo, para medidas arbitrárias adotadas no âmbito de inquéritos cuja existência se justificava pela autodefesa do STF — algumas delas por meio de canetadas de um único ministro — ou em declarações públicas que davam razão às acusações de politização excessiva do tribunal.

De tanto se esforçar para responder à altura às investidas populistas de Bolsonaro, certos ministros do STF acabaram por incorporar o populismo em suas atitudes. Isso transbordou para o governo Lula: a reação desproporcional de ministros do STF, em público e nos bastidores, à aprovação, pelo Senado, da PEC que limita as decisões individuais na corte é um exemplo desse populismo supremo.

Uma das características do populismo é a existência de uma liderança com poderes extraordinários que se atribui um papel messiânico, de salvador da pátria, e que não se conforma em atuar dentro dos limites institucionais. Alguns ministros vivem a exaltar o STF como garantidor da democracia diante do golpismo dos últimos tempos. Dessa forma, elaboram para si a imagem de salvadores da pátria, o que justificaria a manutenção dos tais poderes extraordinários.

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Um dos argumentos surgidos nos últimos dias em defesa da tempestade em copo d’água que se criou em torno das regras para as decisões monocráticas foi o de que os ministros não estão preocupados com essa PEC em si, mas com outras em discussão no Congresso com real potencial para reduzir a autonomia do Supremo. Se isso for verdade, então temos mais um elemento de populismo no episódio: a estratégia de gerar crises para obter ganhos políticos.

Opinião por Diogo Schelp

Jornalista e comentarista político, foi editor executivo da Veja entre 2012 e 2018. Posteriormente, foi redator-chefe da Istoé, colunista de política do UOL e comentarista da Jovem Pan News. É mestre em Relações Internacionais pela USP.

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