‘Direita não pode ter apego por uma pessoa específica; o bolsonarismo tem’, diz presidente do Novo

Ao ‘Estadão’, Eduardo Ribeiro diz que partido não é bolsonarista e que considera abrir mão de candidatura de governador mineiro Romeu Zema por nome mais viável em 2026

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Foto do author Matheus Lara
Atualização:
Foto: Partido Novo/Divulgação
Entrevista comEduardo RibeiroPresidente nacional do partido Novo

Para o presidente do partido Novo, Eduardo Ribeiro, o sucesso da direita nas disputas eleitorais dos próximos anos no Brasil passa por reconhecer que o campo não pode ficar apegado à figura do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) como única liderança para orientar a disputa contra o PT de Luiz Inácio Lula da Silva. Em entrevista ao Estadão, ele defendeu que, até 2026, conservadores e liberais se esforcem para chegar a um consenso pelo critério da viabilidade.

Ribeiro não descartou abrir mão de uma candidatura própria do Novo, hoje pleiteada pelo governador de Minas Gerais, Romeu Zema, em prol de alguém com maior viabilidade eleitoral contra o atual presidente petista, caso ele se candidate à reeleição. “O bolsonarismo vê Bolsonaro como a única e possível via de se representar a direita; a direita da qual o Novo faz parte vê Bolsonaro como uma das vias, mas não descarta novas lideranças, como os governadores Zema, Ronaldo Caiado (União-GO), Ratinho Júnior (PSD-PR) e Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP)”.

O dirigente afirmou que o partido Novo não é bolsonarista, mas que segue com o bolsonarismo “no mesmo caminho”. A adesão ou não ao bolsonarismo foi um dos motivos de uma crise interna da sigla nos últimos anos. Em 2022, a direção nacional optou por não apoiar Bolsonaro no segundo turno da disputa presidencial, apesar de indicar voto contra Lula. A decisão foi alvo de críticas. “Deveríamos deixar as diferenças no passado”, afirmou Ribeiro.

O balanço das eleições municipais para o Novo é positivo, na avaliação de Ribeiro. A sigla saiu de um prefeito eleito em 2020 para 19 neste ano, e saltou de 35 para 264 vereadores. O crescimento coincide com o uso, pela primeira vez, de dinheiro público nas campanhas do Novo. Ribeiro afirmou que abrir mão de uma das principais bandeiras do partido desde a fundação não só ajudou no bom resultado como também atraiu mais lideranças e filiados. “Vamos continuar usando”, disse o presidente da sigla, ressaltando que defende o financiamento privado de campanhas, mas vê necessidade de usar as “mesmas armas” de seus adversários.

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Leia, abaixo, os principais trechos da entrevista ao Estadão.

Usar dinheiro público foi o fator fundamental para o crescimento do Novo nos municípios?

Ajudou. É uma tendência do Brasil caminhar para um sistema de financiamento eleitoral 100% público, se nada for feito. Existe a discussão de voltar a doação de pessoa jurídica, mas, se isso não acontecer, a tendência é o fundo eleitoral continuar aumentando e as regras para dificultar doações privadas também aumentando. Então, a gente teve que fazer uma escolha bastante pragmática para usar as mesmas armas dos adversários. Então ajudou, sim, mas fundamental foi termos boas lideranças e termos ido para disputas em mais cidades.

Eduardo Ribeiro, presidente do Partido Novo. Foto: Partido Novo/Divulgação

Então o Novo vai continuar usando recursos do fundo eleitoral nas próximas disputas?

Vamos continuar usando, mas lutando para evitar que se aumente o fundão. Aliás, que se reduza até extinguir esse fundo, se possível, e voltar ao modelo que achamos que é o melhor (financiamento privado, com doação de empresas). Mas não conseguimos lutar para eleger pessoas se não tivermos essas armas neste momento. O resultado neste ano foi melhor que nossas expectativas. Sabíamos que seria difícil, dado o contexto eleitoral de eleições municipais em que o incumbente tem muita força. Na nossa estratégia de reerguer o partido visando 2026, este ano tinha um papel importante, que era aumentar a capilaridade, e conseguimos fazer isso. Agora é transformar isso em base para a eleição de deputados em 2026 e consolidar nossa cultura institucional sem abrir mão de nossa essência.

Na crise interna do Novo, muitos críticos saíram atirando, dizendo que o partido estava abrindo mão de sua essência. No caso do uso do dinheiro público, foi realmente isso que aconteceu. Os críticos estavam certos?

Pelo contrário. Quando anunciamos que usaríamos o fundo eleitoral, perdemos apenas 0,6% dos filiados, e no mês seguinte começamos a bater recordes de filiações. Em dez meses, dobramos o número de filiados (hoje são 65 mil). Era uma bandeira, mas não me parece que isso era algo essencial para as pessoas que estavam no Novo. Tinha algo mais importante. Quando você percebe que não é possível disputar eleições e ser competitivo sem usar esses recursos, as pessoas compreendem. Isso (as críticas) me parece mais uma narrativa de quem já queria sair. Usam como argumento e narrativa para fazer críticas e valer seu lado.

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Outro catalisador da crise do Novo foi a adesão ou não ao bolsonarismo. Quão próximo do bolsonarismo o Novo está hoje?

Hoje se confunde muito a direita, em geral, com o bolsonarismo. É natural. Bolsonaro é de fato a maior liderança desses segmentos, mas as pessoas confundem quem é bolsonarista com quem é de direita e veem nele uma das formas de representar valores de direita. O Novo vai da centro-direita à direita, é uma aliança de conservadores, liberais e libertários, mas colocamos as ideias como mais importantes que quaisquer pessoas. Quando se vê PL e Novo em votações, estamos juntos como oposição. São correntes políticas andando em paralelo para o mesmo caminho. O Novo está se reposicionando diante de uma ameaça maior, que é um governo de esquerda aparelhando instituições e se organizando para se perpetuar no poder. Dentro desse cenário, o que tenho defendido é deixar as diferenças de lado, inclusive as que tivemos com Bolsonaro, para agruparmos forças e termos candidaturas viáveis.

Não ter apoiado Bolsonaro em 2022 dificulta este processo? Considera ter sido um erro?

Não. Naquele momento o partido estava dividido e, enquanto diretório nacional, precisávamos tomar uma decisão que deixasse todos confortáveis. Tínhamos uma parte, pequena, que não queria se posicionar e outra parte que queria se posicionar a favor de Bolsonaro. Decidimos não apoiar, mas nos posicionamos contra o PT, e aqueles que quisessem poderiam ficar livres para apoiar Bolsonaro.

A sigla vai caminhar mais à direita agora ou buscar um eleitorado de centro?

O Novo sempre foi um partido à direita. Vamos continuar defendendo nossos princípios e valores, ainda que a direita seja um campo congestionado. Algumas vezes a gente se confunde com o bolsonarismo pelas pautas e votações e posicionamentos, mas não quer dizer que o Novo seja um partido bolsonarista. Somos um partido de direita onde há pessoas que gostam mais e gostam menos de Bolsonaro, mas o Novo não é um partido bolsonarista.

O Novo tem um grupo de eleitores que simpatiza com Bolsonaro. Como comunicar a esse grupo que a sigla se vê diferente do bolsonarismo?

O eleitor vai fazer suas próprias escolhas. Não queremos capturar eleitorado de ninguém. Tem muito bolsonarista que vota no Novo e valorizamos, candidatos que gostam de Bolsonaro e estão no Novo. O desafio do Novo é conseguir se comunicar com uma parcela do eleitor que é menos mobilizado. O bolsonarista é engajado, acompanha, tem opinião forte. O desafio é levar o Novo para uma massa maior. Um eleitor que não acompanha política e nem sequer conhece o Novo.

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Qual sua leitura do bolsonarismo hoje e pensando em 2026?

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A direita não pode ter apego por uma pessoa específica, mas por forças que se unam. O bolsonarismo vê Bolsonaro como a única e possível via de se representar a direita; a direita da qual o Novo faz parte vê Bolsonaro como uma das vias, mas não descarta novas lideranças, como os governadores Zema, Caiado, Ratinho Jr. e Tarcísio.

Apesar de Zema ser presidenciável, o Novo considera apoiar outro nome, indicado por Bolsonaro, em 2026?

Nada está descartado. Temos um presidenciável, um cara que larga bem e tem excelentes resultados. É uma figura que vai ser importante, mas nada está descartado. Defendo que a gente se una em torno da candidatura mais viável. Só saberemos disso lá na frente, se Bolsonaro vai reverter a inelegibilidade, se Tarcísio vai sair para presidente ou tentar reeleição... o mais importante é que todo mundo tem que estar preparado. Quanto menos divisão, melhor. Deveríamos deixar as diferenças no passado.

Romeu Zema, de Minas Gerais, o único governador do partido Novo no País  Foto: Alex Silva/Estadão

Essa expectativa parece distante, considerando que alguns desses nomes tiveram atrito justamente com o bolsonarismo neste ano. Caiado e Ratinho Jr., por exemplo, na eleição de aliados…

Neste momento, realmente é um cenário nebuloso. Não consigo ver isso agora. Mas espero que, baixando a poeira e a ressaca das eleições, no ano que vem as coisas comecem a ficar mais claras e todo mundo possa voltar para a mesa e fazer o possível para deixar as diferenças no passado.

Que recado as eleições deste ano dão à direita no contexto da polarização?

Partidos municipalistas, que têm muitas prefeituras, sempre tiveram seus grupos políticos bem consolidados, enraizados e com a máquina da prefeitura. Do ponto de vista estratégico, fica um alerta para quem se posicionou de forma mais beligerante, porque esse comportamento não foi bem recebido.

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Falando em perfil beligerante, Pablo Marçal (PRTB), candidato em São Paulo, demonstrou afinidade de ideias e projetos com Marina Helena, candidata do Novo. O sr. o vê como uma nova liderança da direita?

Ele teve um desempenho eleitoral muito bom. Acho que passou do ponto diversas vezes, especialmente no final (da disputa pela Prefeitura de São Paulo). Ficou confuso o posicionamento dele, parecendo que queria ajudar o Guilherme Boulos (PSOL, derrotado por Ricardo Nunes, do MDB no segundo turno).

E se a candidatura de direita mais viável de 2026 for a dele? Ele já apareceu em pesquisa à frente de Tarcísio.

Nenhuma diferença é irreconciliável. Temos que ser coerentes com o que defendemos e tentar unir todo mundo lá na frente. Não sabemos se ele vai manter o capital político e o engajamento, se vai continuar no partido dele, ou para onde iria. Tem muito chão pela frente.

A eleição de Donald Trump nos Estados Unidos te dá otimismo para o futuro da direita?

Foi uma vitória avassaladora, que dá um recado forte aos democratas e à esquerda moderna: a classe média trabalhadora rejeita o identitarismo. Trump conseguiu captar esse eleitor, ganhou de forma expressiva e vai ter maioria na Câmara e no Senado. Fez barba, cabelo e bigode. E mostra uma tendência. O penúltimo ciclo teve Mauricio Macri na Argentina, Trump nos EUA e Bolsonaro no Brasil. Depois, mudou de rota para a esquerda, com Alberto Fernández na Argentina, Joe Biden nos EUA e Lula no Brasil. Agora temos Javier Milei na Argentina, Trump de novo nos EUA e, se continuar nesse padrão, o caminho é favorável para um nome de direita no Brasil.

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