Direita no Youtube gera onda de comentários contra Lira e Pacheco por inação em relação a STF

Levantamento feito pelo Instituto Democracia em Xeque avaliou comentários a videos com ataques à decisões de Alexandre de Moraes e do Supremo Tribunal Federal

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Foto do author Levy Teles

BRASÍLIA — Influenciadores de direita atuam como protagonistas da discussão sobre o conflito entre o dono do X (ex-Twitter), Elon Musk, e o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), no YouTube, e ajudam a inflamar outros usuários nos comentários com críticas ao Judiciário. O sentimento de ira dessas pessoas mobilizadas nas redes começa a escoar para os presidentes da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Eles são acusados de inação e “covardia” frente à chamada de “ditadura do STF”.

A constatação foi feita por levantamento do Instituto Democracia em Xeque, grupo que reúne pesquisadores que estudam desinformação e extremismo nas redes.

Pacheco e Lira são chamados de 'covardes' por bolsonaristas no YouTube. Foto: Jonas Pereira/Agencia Senado - 15/12/2023

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Segundo a entidade, o movimento no YouTube aumenta a pressão sobre Lira e Pacheco num momento em que ambos fazem mais acenos à base mais próxima ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), enquanto cresce a expectativa em torno da sucessão de ambos, que acontecerá no começo de 2025.

Ambos precisam do apoio do PL de Bolsonaro para garantir o seu sucessor. Na Câmara, o partido tem 95 dos 513 deputados; na outra Casa, a sigla tem 13 dos 81 senadores.

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O levantamento do Instituto Democracia em Xeque compilou e analisou visualizações, curtidas e comentários em vídeos sobre Elon Musk no YouTube. João Guilherme Bastos dos Santos e Alexsander Chiodi, respectivamente diretor de Tecnologia e Estudos Temáticos e pesquisador associado do grupo são os responsáveis pelo trabalho.

Os pesquisadores coletaram 37.985 comentários feitos por 29.758 usuários e identificaram 3.255 vídeos únicos, de 1.919 canais diferentes. Nenhum canal de esquerda apareceu entre os conteúdos de maior visibilidade.

Conhecida por ser a maior plataforma de vídeos do mundo, o YouTube tem um outro fator relevante em ambientes digitais. Esses vídeos não acabam ficando em discussão apenas no site, mas também são compartilhados em outras redes sociais como o Facebook ou aplicativos de mensagens como o WhatsApp, abrindo outros espaços de discussão.

Os vídeos publicados por esses influenciadores de direita dizem que o bilionário sul-africano luta pela liberdade de expressão contra o “censor” Alexandre de Moraes, que limita o alcance e restringe o acesso a contas no X, rede social de Musk. Eles também denunciam, em vídeos disponíveis no YouTube, que o Brasil não vive mais uma democracia.

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Em alguns casos, bolsonaristas miram Pacheco e Lira como culpados por não agirem contra o Supremo nos comentários desses vídeos no YouTube.

“Pacheco e Lira dois covardes. Foram eleitos pelo povo e hoje estão traindo a Nação. A justiça de Deus não falha”, comentou um usuário em uma publicação de um canal bolsonarista que falou sobre Elon Musk. “Parabéns, Musk. Xandão vai rodar. Tem mais gente para cair em Brasília. Pacheco e Lira também”, escreveu outro usuário em outra publicação.

“Sempre teve mensagens como ‘Lira e Pacheco faça alguma coisa, o Supremo está invadindo competências legais do Legislativo’. Mas parece que isso aflorou depois de toda essa história”, diz Alexsander. “Não é muito comum citarem presidente da Câmara e Senado num comentário sobre Elon Musk. Isso provavelmente está sendo bastante recorrente entre grupos da direita e da extrema direita”, completa João Guilherme.

As duas Casas já aprovaram iniciativas em resposta ao STF. A Câmara iniciou a tramitação do projeto de lei sobre o marco temporal em 2023 e o Senado começou a movimentação para aprovar a proposta de emenda à Constituição (PEC) das Drogas.

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Ambas as matérias seguem caminho contrário ao entendimento de ministros da Corte. O STF julgou o marco temporal inconstitucional — tese que prevê linha de corte para definir a demarcação dos territórios indígenas baseada em ocupações em 5 de outubro de 1988 — e forma maioria para liberar a porte e posse de maconha.

Lira e Pacheco já falaram em impor limites ao STF. Isso aconteceu, por exemplo, no início deste ano legislativo.

Na batalha Musk contra Moraes, os dois ainda não verbalizaram consenso. Pacheco, por um lado, adotou postura em defesa de que o Congresso Nacional avance com o projeto de lei que regula as redes sociais após o início da ofensiva de Musk. Lira, por outro lado, permanece calado.

Mas há a possibilidade de que Lira entre nesse jogo. Repousa sobre ele, por exemplo, a possibilidade de pautar uma audiência pública para falar sobre liberdade de expressão no plenário da Câmara. Ele também cogita com líderes a possibilidade de colocar em discussão na Câmara propostas que limitem a atuação do Supremo.

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Direita reina sozinha entre os vídeos mais vistos sobre Musk no Brasil; relatório aponta possibilidade de movimento coordenado

A pesquisa do Democracia em Xeque verificou que os dez vídeos mais vistos sobre Musk acumulam 6,9 milhões de visualizações. Desse top 10, influenciadores de direita produziram oito conteúdos. Os outros dois vídeos são sobre foguetes da SpaceX, outra empresa do bilionário sul-africano.

João Guilherme e Alexsander apontam, no relatório a possibilidade de um movimento coordenado.

“Há um engajamento muito bem distribuído numa quantidade muito grande de vídeos que são todos alinhados a essa perspectiva de oposição a Alexandre de Moraes”, afirma. “Há o monopólio da discussão da direita e da extrema direita, alimentando uma teoria da conspiração em que Elon Musk aparece como elemento de salvação.”

Velhas teorias da conspiração são ecoadas no comentários. A principal delas é a denúncia sem provas de uma fraude eleitoral possibilitou a vitória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva contra Bolsonaro.

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