A campanha presidencial começou com o debate sobre as possíveis chances de crescimento da terceira via e se encerra com incerteza sobre seu final: se primeiro ou segundo turno. O agregador de pesquisas do Estadão mostra 52% de votos válidos para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o que diante da margem de erro das pesquisas, fundamentalmente, expressa um cenário em aberto. Grosso modo e, assumindo alguma simplificação, o debate da Globo só terá importância se contribuir para gerar esse movimento relevante às vésperas da eleição.
O petista tem basicamente duas tarefas para conseguir a vitória de oposição em primeiro turno: convencer indecisos e cansados da polarização e, especialmente, convencer ao comparecimento eleitoral. O presidente Jair Bolsonaro (PL), por sua vez, tem duas opções: convencer o eleitorado do seu desempenho no governo ou aumentar a rejeição do petista, contribuindo para evitar voto útil em direção a ele. Os demais nomes lutam para justificar a relevância dos projetos em uma eleição que deve figurar na História como a votação recorde de polarização.
O debate foi um fiel retrato da campanha presidencial: Lula e Bolsonaro dominaram o início do debate. A sequência de direitos de respostas pareceu ilustrar o duelo de rejeições, dada à antecipação efetiva do segundo turno. As alianças tácitas estiveram presentes, com alguma inflexão ideológica. Ciro, por exemplo, seguiu na estratégia da ligação umbilical entre Lula e Bolsonaro, com foco na polarização com petista. As pesquisas, por sua vez, mostram que é o petista a segunda opção da maioria dos seus apoiadores. Há risco de perder a terceira colocação para a Simone. Por outro lado, Simone teve trocas suaves com o petista. Bolsonaro terceirizou as suas críticas ao Lula por meio dos demais candidatos, polarizando a escolha estratégica na relação entre os protagonistas e os nomes da terceira via. Esses candidatos, porém, pareceram não ouvir os apelos dos seus apoiadores.
O debate pouco contribuiu para o presidente reverter a imagem negativa que a maioria do eleitorado faz do seu governo. Assim, o destino da eleição deve passar fundamentalmente pela taxa de comparecimento eleitoral. O último confronto entre os candidatos manteve a janela aberta para encerramento da disputa já em primeiro turno.
*É SÓCIO DA TENDÊNCIAS CONSULTORIA E DOUTOR EM CIÊNCIA POLÍTICA
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