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Diretor da PRF ascendeu após intervenções de Bolsonaro e posse de Anderson Torres

Silvinei Vasques foi intimado a prestar esclarecimentos ao TSE depois que policiais passaram a barrar ônibus no Nordeste; diretor-geral da PRF declarou voto em Bolsonaro neste domingo

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Foto do author Vinícius Valfré

BRASÍLIA - O diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Silvinei Vasques, ascendeu ao posto máximo da instituição depois de virem a público indícios de aparelhamento e de interferência do presidente Jair Bolsonaro (PL) nos órgãos federais de investigação. Silvinei foi anunciado em abril de 2021, dias após o delegado da Polícia Federal Anderson Torres ser confirmado como ministro da Justiça. Torres sucedeu André Mendonça na pasta - alçado por Bolsonaro ao Supremo Tribunal Federal (STF) -- no período pós-Sergio Moro como ministro.

No último dia 26 deste mês, Silvinei Vasques esteve no Palácio do Planalto em reunião com a assessoria especial do presidente Jair Bolsonaro. A PRF é acusada pela oposição de estar atuando para dificultar o voto de eleitores principalmente no Nordeste. O presidente do Tribunal Superior Eleitora (TSE), ministro Alexandre de Moraes, chegou a determinar a suspensão de qualquer operação da PRF que atrapalhasse o deslocamento para votação.

O diretor da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Silvinei Vasques (esq.) e o ministro da Justiça, Anderson Torres, na última sexta-feira. Foto: Wilton Junior/Estadão

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Silvinei Vasques já enfrentou outras crises no cargo e foi mantido no posto. Em maio deste ano, a atuação da PRF ficou na berlinda com a morte de Genivaldo de Jesus durante uma abordagem violenta por policiais em Sergipe. O diretor chegou a impor 100 anos de sigilo sobre processos administrativos relacionados aos policiais que colocaram a vítima em uma “câmara de gás improvisada” no porta-malas de uma viatura. Pressionado, recuou e liberou acesso à documentação.

Durante a fase crítica da pandemia de covid-19, Bolsonaro interferiu na PRF em razão de uma nota de solidariedade publicada pelo diretor-geral, à época, em homenagem a um agente morto após ser infectado pelo novo coronavírus. A nota, assinada pelo chefe da PRF à época, Adriano Furtado, foi criticada pelo presidente durante a reunião ministerial de 22 de abril de 2020. Bolsonaro interrompeu o então chefe da Casa Civil, Braga Netto, que falava sobre a importância do governo mostrar controle na condução da epidemia, e mencionou a manifestação da PRF.

”Ontem eu liguei pro Diretor-Geral da Polícia Rodoviária Federal. Chegou ao meu conhecimento, uma nota, que era dele, sobre o passamento de um patrulheiro. E ele enfatizou que era covid-19″, começou o presidente. Bolsonaro reclamou que a nota não fazia menção a fatores de risco que pudessem ter agravado o quadro do agente.

“Ali na nota dele só saiu covid-19. Então vamos alertar a quem de direito, ao respectivo ministério, pode botar Covid-19, mas bota também tinha fibrose nu… montão de coisa, eu não entendo desse negócio não. Tinha um montão de coisa lá, pra exatamente não levar o medo à população”, disse.

Adriano Furtado acabou demitido do cargo em maio de 2020, no contexto da saída de Sérgio Moro do Ministério da Justiça. O substituto, nomeado em maio de 2020, foi Eduardo Aggio, outro policial alinhado com Bolsonaro que já criticou o “caráter arrecadatório” de multas de trânsito.

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Com a chegada de Torres no ministério e a escolha de Silvinei para a chefia da PRF, Aggio foi nomeado para a Subchefia de Análise e Acompanhamento de Políticas Governamentais da Casa Civil. Antes de ser nomeado diretor-geral da PRF, Silvinei Vasques era superintendente da PRF no Rio de Janeiro desde abril de 2019.

No ministério, Anderson Torres é criticado por aliar-se a Bolsonaro e atuar politicamente em favor do presidente. Na última semana, mesmo não tendo cargo na campanha presidencial, ele estava ao lado do presidente quando Bolsonaro criticou a decisão do TSE de arquivar a denúncia sobre suposta irregularidade na veiculação de propagandas de campanha nas rádios.

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