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Dispensas no Planalto atingem 144 militares da ativa e cúpula da segurança de Lula vai mudar

Postos no comando da área que deve proteger os palácios da presidência e ainda as residências oficiais terão novos oficiais

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Foto do author Felipe Frazão
Atualização:

BRASÍLIA - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva dispensou um total de 144 militares da ativa que trabalhavam na Presidência da República, nos primeiros 18 dias de governo. A retirada da antiga equipe de segurança se intensificou nesta semana, quando 84 fardados perderam cargos de confiança, após a invasão golpista ao Palácio do Planalto e às vésperas de uma reunião de Lula com os comandantes-gerais do Exército, da Marinha e da Aeronáutica. Dois cargos exercidos por generais do Exército, diretamente ligados ao comando da segurança presidencial, serão trocados nos próximos dias.

Até agora Lula poupou a cúpula do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) de demissões. Embora tenha exposto críticas e cobranças ao ministro do GSI, general Gonçalves Dias, Lula não trocou ainda o secretário de Segurança e Coordenação Presidencial, general Carlos Feitosa, e o comandante do Batalhão de Guarda Presidencial (BGP), coronel Paulo Fernandes. Ambos são da ativa e assumiram suas posições no governo Jair Bolsonaro.

Bolsonaristas invadiram o Palácio do Planalto sem resistência adequada do Plano Escudo, de responsabilidade do Exército e do GSI Foto: Wilton Junior

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O Estadão apurou que eles foram mantidos inicialmente por causa da sensibilidade política e dos riscos envolvidos na posse de Lula. Segundo oficiais que já exerceram essas funções no passado, a praxe é que esses cargos sejam trocados com a mudança de governo. Mas a permanência deles tinha sido vista como positiva para garantir um comando já acostumado com as tarefas da tropa e as rotinas de defesa palacianas, como o Plano Escudo, em 1º de janeiro.

Agora, diante da guerra de versões sobre como agiram policiais militares, soldados do Exército e os homens do GSI diante dos invasores extremistas, a principal tese é que demissões sumárias poderiam se voltar contra G. Dias. O relato de Feitosa e Fernandes é crucial para desvendar a reação à horda bolsonarista e o fracasso do Plano Escudo.

O comandante do Exército, general Julio Cesar de Arruda, já enviou ao Planalto as sugestões de novos oficiais para o GSI. Os nomes devem ser confirmados na próxima reunião do Alto Comando, prevista para ocorrer entre 13 e 17 de fevereiro.

O secretário-executivo do GSI, general Carlos Penteado, será substituído pelo general Ricardo José Nigri. Ele será o número dois do ministro G. Dias. O general Marcius Cardoso Netto assumirá o lugar do general Feitosa na Secretaria de Segurança e Coordenação Presidencial.

Lula havia excluído os militares do círculo mais próximo de sua segurança, o que reduziu o poder do GSI. A decisão esvaziou justamente a secretaria de Feitosa. A função agora é desempenhada por policiais federais, ao menos até o fim de junho, lotados na Secretaria Extraordinária de Segurança Imediata do Presidente. O petista deixou o GSI nos cuidados apenas os escritórios, residências e palácios vinculados à Presidência da República.

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De forma inédita, rechaçou ter uma equipe de ajudantes de ordens formada por militares da ativa, como é praxe, por suspeita de atuação partidária e ideologização, além de ameaças. “Eu perdi a confiança, simplesmente”, afirmou Lula ao Estadão, ao justificar a decisão de excluir os “cordinhas” das Forças Armadas de seu gabinete.

Após expressar sua desconfiança, o presidente disse em entrevista ao canal GloboNews que vai conversar com os comandantes-gerais sobre como despolitizar a caserna e cobrar punição a episódios de partidarização na tropa. Por outro lado, pretende acenar com uma pauta de interesse dos oficiais-generais, verbas para projetos estratégicos e para modernizar a aparelhagem da caserna e indústria de Defesa. O encontro deve ocorrer até esta sexta-feira, dia 20.

O governo intensificou as trocas no GSI, como era cobrado por ministros petistas e pelo próprio Lula, depois das evidências de falhas na proteção do Planalto durante a tentativa de golpe de 8 de janeiro. Lula já afirmou em entrevistas que houve “conivência” e “negligência” de militares do Exército, a reclamou da inoperância da inteligência federal. O Sistema Brasileiro de Inteligência é coordenado pela Agência Brasileira de Inteligência, vinculada ao GSI.

As mudanças atingiram principalmente o baixo escalão do Planalto. A maioria dos militares que perderam funções de confiança atuava na ponta da linha. Alguns, com patente de tenente coronel, a mais alta na lista dos 144, desempenhavam funções de coordenação. A ampla maioria é de praças (sargentos, cabos e soldados) das três forças, que cuidavam da segurança nos palácios presidenciais, sobretudo nas residências oficiais, como o Alvorada e a Granja do Torto, respondendo à Secretaria-Geral da Presidência.

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Como o Estadão mostrou, o processo de “desbolsonarização” da máquina federal, com ordem expressa por Lula de promover uma “triagem profunda” sobre os comissionados, começou no primeiro dia de governo e atingiu militares em cargos de chefia, de perfil civil.O presidente determinou que nenhum suspeito de ser “bolsonarista raiz” deve permanecer empregado e que militares devem ser, preferencialmente, substituídos por civis.

A lista dos 144, porém, envolve apenas militares da ativa, quase todos de natureza militar, que acabam sendo substituídos por outros fardados. As requisições de militares para atuar no GSI são “irrecusáveis” e devem ser “prontamente atendidas”, conforme a legislação vigente.

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