A um ano das eleições municipais, a capital gaúcha de Porto Alegre já conta com ao menos sete pré-candidatos em um cenário em que tanto a direita quanto a esquerda buscam fortalecer candidaturas únicas e evitar a fragmentação do eleitorado.
A gestão atual, de Sebastião Melo (MDB), busca a reeleição mantendo a chapa com o vice-prefeito, Ricardo Gomes (PL). Além de contar com um passado político na capital gaúcha, onde já foi vereador e vice-prefeito, Melo tem o apoio de uma base de partidos de centro e direita, como Progressistas, PL e PTB.
O próprio PL apontou não estudar a indicação do ex-ministro do governo Bolsonaro, Onyx Lorenzoni, para a prefeitura em 2024. Prefere apoiar a chapa atual, que conta com o correligionário Ricardo Gomes. Ao Estadão, o deputado federal e presidente do PL-RS, Giovani Cherini, contou que o partido tem uma boa relação com a gestão de Melo e que criar uma separação na coligação pode dar força a candidaturas da oposição: “Vamos manter esse projeto, até porque o nosso inimigo não é o MDB, é o PT. Na medida que a gente se separar, pode dar vitória para o PT”, disse.
Já o PSDB, do governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, ainda discute quais nomes devem ser levados para o embate político do próximo ano. A delegada Nadine Anflor, eleita deputada estadual em 2022, é a principal aposta do partido, mas Artur Lemos, secretário-chefe da Casa Civil e ex-secretário do Meio Ambiente e Infraestrutura da gestão Leite, também é cotado para o pleito. Também entra na discussão a deputada federal Any Ortiz, do Cidadania, que pode buscar uma aliança com os tucanos.
Nas alas mais à esquerda, Manuela d’Ávila (PCdoB) – que foi candidata em 2020, chegando ao segundo turno contra Melo – é um dos principais nomes cotados para 2024, mas seu afastamento da vida política nas últimas eleições causa preocupação na coligação composta por PCdoB, PT, PV e PSOL.
Nesse cenário, o PT também tem pré-candidatas, com nomes conhecidos na política gaúcha: a deputada federal Maria do Rosário, que já exerceu cargos a nível municipal e estadual, e Sofia Cavedon, deputada estadual e ex-vereadora de Porto Alegre.
Apesar da seleção dos nomes, o secretário-geral do PT em Porto Alegre, Erick Kayser, contou ao Estadão que a prioridade dos petistas será criar uma união entre partidos. Os debates já estariam em andamento com os demais partidos da coligação para chegarem a uma chapa única já no primeiro turno, com possibilidade de expansão também ao PDT e PSB, mais orientados à centro-esquerda.
Para Silvana Krause, cientista política e professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, as últimas campanhas eleitorais no País têm mostrado uma tendência para reeleições, mas o cenário pode mudar durante os próximos 12 meses, de acordo com a organização das forças políticas do Estado.
Segundo o cientista político e professor da PUC-RS Augusto Neftali, a chapa de Melo tem vantagens por apresentar um bom diálogo com setores importantes da capital, como o empresarial. Ainda assim, o especialista ressalta que partidos e ideologias devem ter menos importância em 2024: “Essas eleições vão mostrar a redução da importância do elemento ideológico na comparação com os últimos anos, o que, em tese, deixa espaço para uma disputa mais aberta e voltada para os temas locais”, afirma.
Conheça os pré-candidatos à prefeitura de Porto Alegre em 2024:
Sebastião Melo (MDB)
O atual prefeito conta com o apoio de partidos de centro e direita na busca pela reeleição em Porto Alegre. Se a chapa com Ricardo Gomes, atual vice-prefeito, for mantida, o PL não deve indicar Onyx Lorenzoni, que seria o principal nome entre o eleitorado bolsonarista.
Sebastião Melo foi vereador de Porto Alegre de 2001 a 2012. Em 2013, se tornou vice-prefeito na cidade na gestão de José Fortunati. Em 2019, foi eleito deputado estadual, mas renunciou ao cargo após ser eleito prefeito. Nas eleições de 2020, Melo teve 31% dos votos no primeiro turno, em um desempenho similar ao de Manuela d’Ávila (PCdoB), principal adversária durante a campanha, que atingiu 29% do eleitorado.
No segundo turno, após receber apoio dos candidatos derrotados do Republicanos, PSDB, PP e PSD, Melo recebeu 54% dos votos.
Delegada Nadine Anflor e Artur Lemos (PSDB)
O partido ainda não definiu qual candidato será apresentado para a campanha de 2024, mas o nome favorito de Eduardo Leite é Nadine Anflor. Delegada desde 2004, Nadine se tornou a primeira mulher a chefiar a Polícia Civil do Rio Grande do Sul, a convite do governador do Estado, entre 2019 e 2022. Na última eleição, tomou posse como deputada estadual com mais de 40 mil votos. De acordo com o partido, a candidata seria um projeto para a terceira via, fora das alas do lulismo e bolsonarismo, além de defender o que chamaram de “bandeiras importantes”, como a diversidade.
Artur Lemos também é discutido como um possível prefeito para a capital gaúcha. Desde 2021, é secretário-chefe da Casa Civil do Rio Grande do Sul, mas já ocupou cargos de secretário do Meio Ambiente e Infraestrutura e na Secretaria de Minas e Energia do Estado.
A escolha do nome deve ser fechada até novembro.
Any Ortiz (Cidadania)
Eleita deputada federal em 2022, Any Ortiz foi também deputada estadual do Rio Grande do Sul de 2015 a 2023. Ela é a principal cotada pelo Cidadania para a Prefeitura de Porto Alegre. Há chance de que o Cidadania apoie a chapa atual, de Sebastião Melo e Ricardo Gomes.
Ao mesmo tempo, de acordo com relatos da presidência municipal do PSDB, Any é cotada como uma das candidatas que pode receber apoio do partido caso não avancem as candidaturas de Nadine Anflor e Artur Lemos, mas até o momento, o Cidadania não colabora para esse diálogo. Os dois partidos estão federados e, portanto, não podem ter duas candidaturas diferentes.
Manuela d’Ávila (PCdoB)
A principal escolha do PCdoB já foi vereadora de Porto Alegre, além de deputada estadual e federal entre os anos de 2005 e 2019. Nas eleições de 2018, foi candidata a vice-presidente na chapa formada com Fernando Haddad (PT), que foi derrotada por Jair Bolsonaro.
Se aceitar se candidatar, será a quarta vez que Manuela concorre à prefeitura de Porto Alegre. Na última eleição, em 2020, perdeu para Sebastião Melo no segundo turno, obtendo 45% dos votos. Esse foi seu melhor desempenho na corrida eleitoral da cidade.
O partido informou ao Estadão que a candidatura ainda não está garantida e que a prioridade é formar uma grande frente ampla de partidos de esquerda desde o primeiro turno, uma vez que a eleição “não é fácil”. O debate sobre os nomes a serem indicados ainda está acontecendo dentro da federação, formada com o PT e o PV. As siglas não podem estar separadas na corrida eleitoral em razão disso.
Maria do Rosário e Sofia Cavedon (PT)
O PT deve decidir até novembro entre Maria do Rosário e Sofia Cavedon. Maria atua desde 1985 na política, tendo ocupado cargos de vereadora, deputada estadual e Ministra dos Direitos Humanos no primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff (PT). Desde 2010, é deputada federal.
Já Sofia foi vereadora da capital gaúcha de 2001 a 2019, sendo reeleita nos quatro mandatos seguintes. Atualmente, é deputada estadual pelo Rio Grande do Sul.
Assim como o PCdoB, o PT argumenta que manter uma candidatura única entre esquerdas pode fortalecer a chapa contra a reeleição de Melo. O partido está há 20 anos fora da prefeitura de Porto Alegre. Segundo os petistas, no entanto, o resultado que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva atingiu na cidade durante as eleições de 2022 poderia ser um indicador da retomada da força da esquerda. Lula teve 53,5% dos votos no segundo turno, frente aos 46,5% de Bolsonaro.
São cotados como candidatos:
- Sebastião Melo (MDB), atual prefeito de Porto Alegre
- Delegada Nadine Anflor (PSDB), deputada estadual pelo Rio Grande do Sul
- Artur Lemos (PSDB), secretário-chefe da Casa Civil (RS)
- Any Ortiz (Cidadania), deputada federal
- MAnuela D’ávila (PCdoB), ex-deputada federal
- Maria do Rosário (PT), deputada federal
- Sofia Cavedon (PT), deputada estadual pelo Rio Grande do Sul
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