CASCAVEL - Dois sem-terra morreram e nove pessoas ficaram feridas a bala durante um confronto entre policiais militares e integrantes do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), na tarde desta quinta-feira, 7, em uma área chamada Fazendinha, em Quedas do Iguaçu, região Centro-Oese do Paraná.
As informações sobre o número exato de mortos e feridos ainda são desencontradas. Mas, em nota divulgada, a PM (Polícia Militar) informou que o confronto resultou em dois mortos e seis trabalhadores rurais sem-terra feridos, enquanto o MST fala em pelo menos 22 feridos e nove vítimas fatais.
De acordo com a PM de Quedas do Iguaçu, o confronto teve início no meio da tarde, quando integrantes do MST atearam fogo numa área de reserva ambiental e bloquearam uma estrada rural que dá acesso ao local chamado Fazendinha.
A PM informou que equipes da Rotam (Rondas Ostensivas Tático Móvel) e uma brigada de incêndio da empresa Araupel foram até o local para combater as chamas e desbloquear a estrada. De acordo ainda com a PM, cerca de 20 sem-terra estavam no local e teriam reagido a ação.
Emboscada. Em nota divulgada pelo Governo Estadual, os policiais teriam sido alvo de uma emboscada. Durante o confronto, dois sem-terra morreram e seis ficaram feridos. Com eles, a polícia diz ter apreendido uma pistola 9 milímetros e uma espingarda calibre 12.
O restante do grupo teria se embrenhadou na mata. A PM enviou equipes para o local para resgatar as vítimas, incluindo um helicóptero para remover os feridos até Cascavel. A PM enviou reforço para a região. A Polícia Civil já abriu um inquérito para apurar os fatos.
O comando da PM em Cascavel, que fica distante 140 quilômetros de Quedas do Iguaçu, informou que local do confronto fica a 25 quilômetros da cidade. “Os policias que foram averiguar a ocorrência ainda estão na área, a qual não possui sinal de celular e nem rádio”,afirmou o tenente Tavares.
Em nota, o comando nacional do MST informou que não se sabe o número exato de mortos e feridos, “pois a Polícia Militar estaria impedindo a aproximação de integrantes do Movimento no local”. Porém, integrantes do movimento na região falam em nove vítimas.
O dirigente nacional do MST, Gilmar Mauro, contestou a versão da Polícia Militar. De acordo com Mauro, ocorreu exatamente o contrário. “As informações que temos de lá dão conta de que a Polícia Militar, junto com pistoleiros da Araupel, emboscou e atacou os sem-terra.”
Segundo Mauro, dirigentes do MST foram impedidos pela PM de chegar ao local do conflito. “Vamos aguardar a apuração, mas essas mortes preocupam muito, pois estão em consonância com outras ações contra o movimento. Estamos no mês do massacre de Eldorado dos Carajás (a morte, pela Polícia Militar, de 19 sem-terra na cidade do Pará, em 1996) e estão ocorrendo outras ações semelhantes, como o ataque a um acampamento nosso por pistoleiros em Rondônia e o assassinato, esta manhã, de um sem-terra na Paraíba.” Ele disse que o MST vai se posicionar oficialmente assim que tiver mais informações sobre o caso.
Desde o massacre no Pará, em 1996, o MST se mobiliza anualmente no movimento "Abril Vermelho".
A Polícia Militar informou que dois sem-terra, cujos nomes não foram divulgados, estão presos na cadeia pública de Quedas do Iguaçu por porte ilegal de arma de fogo. O confronto elevou ainda mais a tensão na cidade e região. O governo do Estado está enviando reforço militar para o município. Os dois mortos no confronto não foram identificados até as 20 horas desta quinta-feira.
Nomes. No início da noite desta quinta, a polícia divulgou os nomes de dois feridos no confronto entre policiais militares e integrantes do MST. São eles: Henrique Augusto Souza Prates, 27, e Pedro Francelino, que não teve a idade divulgada. Ambos moram no acampamento Dom Balduíno, em Quedas do Iguaçu. Prates foi removido de helicóptero para o Hospital Universitário de Cascavel. De acordo com o hospital, o sem-terra está com fratura exposta na perna esquerda. Já Francelino está internado em outra unidade hospitalar em Quedas do Iguaçu.
Histórico. O confronto entre policiais e integrantes do MST ocorreu próximo de uma área pertencente a empresa Araupel, O movimento mantém no local 2500 famílias, cerca de 7 mil pessoas. A empresa vem sofrendo uma pressão dos sem-terra desde a primeira ocupação de terra em 1996 (Pinhal Ralo). Desde então, boa parte da fazenda foi desapropriada para a reforma agrária.
Em julho de 2014, a fazenda de reflorestamento da empresa foi invadida por centenas de sem-terra. Desde então, o clima é tenso na região. A Araupel estima perdas de aproximadamente R$ 35 milhões com as invasões do MST.
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