ATALAIA DO NORTE (AM), ENVIADO ESPECIAL – As buscas pelo indigenista Bruno Pereira e pelo jornalista Dom Phillips completam, hoje, dez dias sem que o barco em que eles estavam tenha sido localizado. Autoridades procuram, nas águas do Alto Solimões, uma baleeira de ferro de cerca de sete metros de comprimento, capaz de transportar sete pessoas e equipada com um motor de popa de 40 cavalos de potência.
Até agora, no entanto, para o sofrimento de amigos e familiares dos desaparecidos, os dias em Atalaia do Norte, no extremo oeste do Amazonas, terminam sem pistas sobre o paradeiro da dupla. A agonia é aprofundada por desinformação e pistas falsas que circulam na internet e atrapalham o foco das equipes em campo. Na terça-feira, 14, a polícia prendeu outro suspeito. Ele é irmão do pescador já preso, o ‘Pelado’. Testemunhas dizem que dupla teria perseguido de barco os dois desaparecidos.
O barco é novo, incorporado à frota da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja) em 2020. Com ele, Pereira visitava aldeias indígenas para treinamentos e orientações. A última viagem pela Amazônia começou pelo Alto Curuçá, no Acre, a 21 de maio, a bordo de um outro barco, o dos marubos da aldeia Maronal. Pereira vinha orientando membros dessa etnia moradores da floresta sobre como fazer as “picadas” – a “limpeza” dos limites da terra indígena.
O barco desaparecido foi assumido por Bruno Pereira em Atalaia numa sexta-feira, a 3 de junho, no dia seguinte ao fim da primeira “perna” da viagem. No porto da cidade que dá acesso ao Vale do Javari, localizada às margens do rio de mesmo nome na fronteira com o Peru, o jornalista Dominic Phillips subiu a bordo para uma nova bateria de entrevistas com indígenas para o livro que vinha produzindo e para conhecer a equipe de vigilância indígena criada por Bruno.
A parada foi na localidade do Lago do Jaburu, perto de base da Fundação Nacional do Índio (Funai), que rotineiramente sofre intimidações a tiros do crime organizado e está instalada no entroncamento dos rios Itaquaí e Ituí. Num domingo, a 5 de junho, os dois voltavam sozinhos em direção a Atalaia. O barco com motor considerado pequeno seria capaz de concluir todo o percurso em não mais do que duas horas. A baleeira, Bruno e Dom não foram mais avistados.
Pistas
Ribeirinhos, indígenas e policiais têm hipóteses sobre o paradeiro do barco. A chance de acidente está praticamente descartada, pois, nesse caso, Bruno Pereira teria soltado galões vazios de gasolina para chamar a atenção de moradores, o que não ocorreu. A suspeita mais forte é a de que agressores colocaram um lastro na baleeira e forçado um furo para que ela afundasse. É por isso que militares usam uma garateia, um tipo de âncora com garras, para revirar o fundo do Itaquaí.
Nesta terça-feira, ao menos 20 indígenas auxiliavam os agentes federais na região em que a mochila de Dom foi encontrada amarrada a uma árvore. As polícias Federal e Civil vasculharam casas na comunidade de São Gabriel, nas quais suspeitos poderiam estar, a cerca de uma hora e meia do porto de Atalia. Um remo foi apreendido. A única informação repassada pelos agentes foi a de que era mais um dia com “nada de relevante”.
Índios e indigenistas ajudam nas buscas em áreas alagadas de difícil acesso. Para repassar informações a Atalaia, eles dependem de um telefone satelital que fica na base da Univaja, dentro da floresta. Sem novas descobertas, a equipe fica na água até a luz do sol começar a cair, quando encerram mais um dia exaustivo de procura por Bruno e Dom.
Já começou a temporada de início de seca do Itaquaí e do Javari. O ápice da baixa das águas deve ser em meados de julho e agosto, quando começa o chamado verão amazônico. A população ribeirinha acredita que o barco poderá ser encontrado nessa época, caso realmente tenha sido naufragado.
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