O MDB e o PSDB ainda aguardam o resultado de uma pesquisa quantitativa e qualitativa antes de selar uma eventual aliança, mas os dois pré-candidatos – o ex-governador tucano João Doria (SP) e a senadora emedebista Simone Tebet (MS) – estão céticos sobre um acordo já na próxima quarta-feira, data anunciada como o prazo final. Enquanto dirigentes partidários mantêm viva, ao menos em público, a chance de um palanque único, Doria e Simone já adotam a tática do “cada um por si”.
As equipes do tucano e da emedebista trabalham com o cenário de três “chapas puras” – o que inclui a de Luciano Bivar (União Brasil), que estava no grupo e deixou a articulação. O chamado centro democrático agrega ainda o Cidadania. O discurso oficial no MDB e no PSDB é de harmonia, respeito mútuo e crença de que uma chapa será alcançada antes das convenções, que ocorrem entre o fim de julho e o começo de agosto.
“Cada um pode ir por si, mas lá na frente estaremos juntos novamente. São três candidaturas que se respeitam e se gostam, ainda que em campanhas independentes. O nosso objetivo é o mesmo: salvar o Brasil e os brasileiros”, disse Doria ao Estadão. A terceira via quer disputar os eleitores que rejeitam a polarização entre ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL).
Na mesma linha de Doria, Simone afirmou que o que os une é muito maior do que divergências. “Não há necessidade de afinar discurso. Temos o mesmo foco. Sem dúvida podemos nos unir mais para frente. Uma semana em política é uma eternidade, o que dirá dois meses”, declarou. A senadora, por sua vez, disse que o MDB honra acordos e, por isso, a data-limite está mantida.
MBD sinaliza Doria vice de Simone Tebet; ele rechaça
A pesquisa será feita neste fim de semana na tentativa de ajudar na definição do nome. Os marqueteiros de Doria e Simone concordaram com a contratação do professor de Estatística Paulo Guimarães, dono do Instituto Guimarães de Pesquisa e Planejamento (IGPP), mas, nas conversas prévias, houve discordâncias sobre o questionário.
Estrategista da emedebista, Felipe Soutello queria ampliar a qualitativa e acrescentar até 30 “atributos” a serem apresentados aos entrevistados – o que trataria, por exemplo, do fato de Simone ser mulher. O pleito foi vetado por Lula Guimarães, marqueteiro de Doria. Já o grupo do tucano teria sugerido deixar de fora a rejeição, o que também foi negado. O questionário será enxuto.
Apesar de considerar a qualitativa benéfica a Doria, o grupo de Simone e tucanos da Executiva do PSDB disseram acreditar que é muito difícil que o resultado final seja favorável ao ex-governador, já que, se ele estiver na frente na quantitativa, deve ser na margem de erro.
Após a apresentação, o presidente do PSDB, Bruno Araújo, vai convocar uma reunião da Executiva. Nesse ponto, há convergência na leitura dos dois lados de que o cenário mais provável é que o partido siga seu caminho até julho, quando haverá as convenções.
O grupo de Doria deixou claro que não vai aceitar a imposição de retirada de candidatura e argumentou que o resultado das prévias do ano passado credenciam o ex-governador a ter a palavra final. O MDB sinalizou que aceita ter Doria de vice de Simone, mas ele rechaça.
Marqueteiro de Doria diz que disputa é ‘assimétrica’
“Com todo o respeito à senadora Simone Tebet, mas essa disputa é assimétrica em relação ao currículo. É uma desproporção comparar uma ex-prefeita de Três Lagoas, que tem 120 mil habitantes, o mesmo que (o bairro) Pinheiros (na capital), e o João, que foi governador e prefeito da quarta maior cidade do mundo”, disse Guimarães.
Já Soutello faz outra leitura. “Simone não tem rejeição a ser combatida para construir sua imagem e, portanto, tem mais facilidade de quebrar a inércia e combater a polarização”, disse. Questionado sobre o comentário de Guimarães, o marqueteiro foi diplomático. “Não se trata de uma disputa entre Doria e Simone, mas da construção de um centro democrático”, afirmou.
Aécio critica eventual apoio tucano a Simone Tebet
Desafeto de Doria no PSDB, o deputado Aécio Neves (MG) surpreendeu colegas na reunião da Executiva, quinta-feira, 12, em Brasília, ao criticar a adoção da pesquisa como critério e um eventual apoio do partido a Simone, possibilidade que agrada a parte da bancada e da cúpula da sigla.
“O que faz um partido crescer, inclusive no Congresso, não é maior fundo eleitoral, como defendem alguns, mas uma candidatura presidencial. De preferência com baixa rejeição e competitiva”, disse Aécio ao Estadão. O deputado avalia que não seria uma boa estratégia amarrar a sigla ao MDB.
Em outra intervenção, o ex-prefeito de Porto Alegre Nelson Marchezan defendeu a inclusão na pesquisa do PSDB e do MDB do nome do ex-governador gaúcho Eduardo Leite – aliado de Aécio –, o que foi negado no encontro. Leite perdeu as prévias para Doria. Mesmo assim, tentou disputar a vaga de candidato, sem sucesso.
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