Pouco mais de cinco meses depois de não conseguir viabilizar sua candidatura ao Palácio do Planalto, o ex-governador João Doria anunciou nesta quarta-feira, 19, sua desfiliação do PSDB. A decisão foi divulgada nas redes sociais, no momento em que o governador Rodrigo Garcia (PSDB) intensificou a campanha pela reeleição do presidente Jair Bolsonaro (PL) e a bancada tucana da Câmara fez um gesto de aproximação com os bolsonaristas ao orientar voto a favor da criação da CPI das pesquisas eleitorais.
Em carta, Doria listou o que considera os melhores momentos de sua passagem pelo Palácio dos Bandeirantes, como a atuação na pandemia de covid-19 e obras entregues, e diz que encerra sua trajetória partidária de 22 anos no PSDB “de cabeça erguida”. Doria lembrou as prévias do partido que venceu – em 2016, para a Prefeitura; em 2018, ao governo; e em 2021, para o Palácio do Planalto. A disputa deste ano, no entanto, dividiu o partido, que optou por não lançar um nome à Presidência e compor a chapa de Simone Tebet (MDB-MS), com a indicação da senadora Mara Gabrilli (PSDB-SP) como vice.
A decisão de Doria prenuncia um racha no PSDB após o segundo turno das eleições. Tucanos históricos decidiram apoiar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Fazem parte dessa corrente os senadores José Serra (SP) e Tasso Jereissati (CE), o ex-chanceler Aloysio Nunes Ferreira, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o ex-senador José Aníbal. Em outra frente, prefeitos como Duarte Nogueira, de Ribeirão Preto, e deputados como Carlos Sampaio (SP), que integra a executiva nacional tucana, declararam apoio a Bolsonaro.
Em julho, pouco depois de deixar o governo do Estado, Doria anunciou a sua volta ao setor privado e afirmou que permaneceria filiado ao PSDB. O tucano disse a jornalistas que havia recebido um “honroso convite” para integrar o Conselho do Grupo de Líderes Empresariais (Lide), entidade fundada por ele mesmo e hoje presidida por seu filho, João Doria Neto.
Leia a íntegra da carta aberta do ex-governador:
Após 22 anos da filiação ao PSDB e seis anos de uma dedicada e intensa trajetória como prefeito de São Paulo e governador do Estado, comunico que formalizei junto ao diretório estadual do PSDB o meu desligamento do partido. Inspirado pelas ideias e virtudes de nomes como Franco Montoro, José Serra, Mário Covas e Fernando Henrique Cardoso, busquei cumprir uma missão política e partidária pautada na excelência da gestão pública, num Estado menor e em favor de uma sociedade mais justa e menos desigual.
A omissão, a letargia e o imobilismo jamais fizeram parte da minha vida. Não cruzei os braços ao encarar problemas que afligem São Paulo e o Brasil. A exemplo de minha conduta como empresário, preferi encarar os desafios da vida pública com determinação, foco e resiliência.
Enquanto alguns atores da política se omitiam durante a mais grave pandemia dos últimos cem anos, lutei desde o início para que nosso povo tivesse acesso a uma vacina contra a Covid-19. Atuei, acima de tudo, pela defesa da vida e da saúde dos brasileiros. Jamais cedi ao negacionismo ou a falsidades que contrariam a ciência. Tenho muito orgulho do sucesso liderado por São Paulo que ajudou a salvar 124 milhões de vidas no Brasil, que tomaram a vacina do Butantã.
Comandei gestões transformadoras e ousadas que deixaram conquistas, que agora, pertencem ao povo de São Paulo. Entregamos o Novo Museu do Ipiranga, despoluímos o Rio Pinheiros, multiplicamos por dez as vagas em escolas de tempo integral, promovemos o crescimento econômico de São Paulo cinco vezes mais do que o Brasil, geramos mais de 2 milhões de novos empregos, modernizamos mais de 11 mil quilômetros de rodovias e ampliamos, substancialmente, o acesso a programas como Poupatempo e Bom Prato. Unimos, de forma inédita, o poder público e iniciativa privada em um Comitê Solidário que arrecadou mais de R$ 2 bilhões para combater a fome e a carestia. E criamos o Bolsa do Povo, o maior programa de assistência social e transferência de renda da história de São Paulo. Meu agradecimento ao Rodrigo Garcia e à brilhante equipe que tivemos no governo de S. Paulo.
Reconhecido até por nossos adversários, o ótimo trabalho do PSDB na Prefeitura de São Paulo e no Governo do Estado permitiu a reeleição, em 2020, de meu querido e saudoso amigo Bruno Covas, para um novo mandato à frente da mais importante metrópole da América do Sul. Infelizmente, Bruno nos deixou cedo demais.
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