Dorothy Stang: condenados por matar missionária estão fora da cadeia 15 anos depois

Relembre trajetória de Irmã Dorothy, morta no Pará depois de ameaçar interesses de fazendeiros; assassinato completa 15 anos

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Por Bruno Nomura
Atualização:

Há 15 anos, a missionária norte-americana Dorothy Stang era assassinada em Anapu, município paraense de 27 mil habitantes localizado a 680 km de Belém. À época, o crime teve repercussão internacional e chamou a atenção para conflitos de terra na Amazônia. Apesar das penas que somam 117 anos de prisão, três dos cinco condenados cumprem penas em regime aberto.

A missionária Dorothy Stang Foto: Carlos Silva/AE/Reuters

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Ainda em 2005, dez meses depois da morte da Irmã Dorothy, como era conhecida, os pistoleiros envolvidos no crime foram condenados. Rayfran das Neves Sales, o Fogoió, e Clodoaldo Carlos Batista, o Eduardo, foram sentenciados, respectivamente, a 27 e 18 anos de prisão. Hoje, Eduardo cumpre pena em regime aberto. Fogoió está preso por ter sido condenado novamente, em 2018, a mais 97 anos pelo assassinato de outras três pessoas.

Amair Feijoli da Cunha, o Tato, que intermediou a contratação dos pistoleiros, foi condenado a 17 anos de reclusão em 2006. Desde 2010, cumpre pena em prisão domiciliar.

Um dos mandantes do crime, Vitalmiro Bastos de Moura, o fazendeiro Bida, também cumpre pena em prisão domiciliar desde 2015. Foi condenado a 30 anos em 2010 por ter prometido pagar R$ 50 mil aos pistoleiros pelo crime.

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O caso mais emblemático é o de Regivaldo Pereira Galvão, o Taradão, também apontado como um dos mandantes do assassinato. O fazendeiro foi condenado em 2010 e preso em 2011, mas passou a responder em liberdade. Teve a pena reduzida no Superior Tribunal de Justiça e recebeu um habeas corpus do ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF). Por determinação da Primeira Turma do STF, o fazendeiro voltou a ser preso em abril de 2019, depois de aguardar a maior parte dos 14 anos em liberdade. Vai cumprir uma pena de 25 anos de reclusão.

A trajetória de Dorothy Stang é comparada à de Chico Mendes, seringueiro e ativista ambiental morto em 1988 por fazendeiros incomodados com a defesa de um sistema de produção sustentável que colocava seus negócios em risco.

Quem foi Dorothy Stang?

Dorothy Mae Stang nasceu em 1931 em Ohio, nos Estados Unidos. Ingressou na vida religiosa em 1950 na Congregação das Irmãs de Notre Dame de Namur, voltada à educação de pessoas carentes. Em 1966, iniciou seu ministério no Brasil, na cidade de Coroatá, Maranhão. Percebendo o movimento de migração de maranhenses à região da Rodovia Transamazônica, Irmã Dorothy se estabeleceu em Anapu em 1982. Naturalizou-se brasileira e fazia trabalho missionário atuando em projetos de desenvolvimento sustentável na região.

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O que Dorothy Stang defendia?

Ainda sob regime militar, na década de 1970, o governo federal começou a vender lotes de terra no Pará. O objetivo era ocupar a região para evitar sua apropriação por outros países. Os proprietários tinham um prazo de cinco anos para realizar benfeitorias no espaço, sob pena de devolver as terras à União. Entretanto, muitas propriedades acabaram sendo revendidas a terceiros que, anos depois, diziam desconhecer essa cláusula e reivindicavam a posse das terras. Nesse contexto de conflito agrário e tentativas de grilagem, a Irmã Dorothy desponta como liderança em defesa dos pequenos camponeses.

A missionária acreditava na importância da alfabetização para que os lavradores tivessem autonomia para defender seus direitos. Defensora da reforma agrária e integrante da Comissão Pastoral da Terra, Dorothy apoiava um modelo de geração de renda chamado de Projeto de Desenvolvimento Sustentável (PDS). O sistema propõe atividades extrativistas ou de agricultura familiar em áreas de proteção ambiental sob supervisão de órgãos de fiscalização.

A Câmara de Vereadores de Anapu chegou a aprovar, em 2002, uma moção de persona non grata à Irmã Dorothy. A missionária representava uma ameaça aos interesses de madeireiros e fazendeiros da região. Com a escalada da tensão, a missionária passou a receber ameaças de morte. “Não vou fugir, nem abandonar a luta desses agricultores que estão desprotegidos no meio da floresta. Eles têm o sagrado direito a uma vida melhor numa terra onde possam viver e produzir com dignidade, sem devastar”, declarou Dorothy.

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Quando Dorothy Stang morreu?

Irmã Dorothy foi assassinada em 12 de fevereiro de 2005, em uma estrada rural localizada na PDS Esperança, em Anapu. Ela levou seis tiros em uma emboscada. Segundo uma testemunha do crime, um dos assassinos perguntou se Dorothy estava armada. “Eis a minha arma”, teria dito ela, tirando uma Bíblia da bolsa. Antes de ser alvejada, a missionária teria lido três versículos, entre eles uma passagem de Mateus: “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos”.

Dorothy Stang morreu aos 73 anos. Sua morte ganhou repercussão internacional, gerando forte pressão pelas investigações que levaram à condenação de cinco pessoas.

Militarvigiatúmulo da missionária Dorothy Stang. 23-02-05 Foto: Ed Ferreira/AE

Quem matou Dorothy Stang?

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Regivaldo Pereira Galvão (Taradão), fazendeiro

  • Mandante do assassinato
  • Pena: 25 anos de prisão

Vitalmiro Bastos de Moura (Bida), fazendeiro

  • Mandante do assassinato
  • Prometeu R$ 50 mil para os pistoleiros
  • Pena: 30 anos de prisão

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Amair Feijoli da Cunha (Tato)

  • Intermediou a contratação dos pistoleiros
  • Pena: 17 anos de prisão

Rayfran das Neves Sales (Fogoió)

  • Pistoleiro que fez os disparos
  • Pena: 27 anos de prisão

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Clodoaldo Carlos Batista (Eduardo)

  • Pistoleiro
  • Pena: 18 anos de prisão

O Estado não localizou as atuais defesas dos condenados. “Sou inocente e não tenho nada a ver com esse crime”, afirmou Regivaldo Pereira Galvão, o Taradão, ao Estado em 2012. A defesa de Vitalmiro Bastos de Moura, o Bida, afirmou que o julgamento do cliente foi “injusto” e que “houve erro na sentença”. O advogado de Rayfran das Neves Sales disse à época que o cliente estava sob “ameaça intensa” e não merecia condenação. 

Clodoaldo Carlos Batista, o Eduardo, na chegada à Polícia Federal em Altamira, Pará. 22/02/2005 Foto: Eduardo Nicolau/AE