Casos de corrupção julgados há anos ou ainda investigados e muitos dos crimes recentes com motivações políticas levam o jornalista e professor da ECA-USP Eugênio Bucci a fazer um alerta: é preciso falar mais sobre os ataques à imprensa no Brasil para proteger a profissão e a sociedade. Bucci foi um dos debatedores do painel sobre o papel da imprensa na luta anticorrupção no “Fórum Digital Corrupção em Debate”, promovido pelo Estadão e o Instituto Não Aceito Corrupção (INAC) nesta terça-feira, 19.
“Estamos em um governo que facilita o acesso a armas e dificulta o acesso a livros e jornais. É preciso explicar e compartilhar com o público o que significa esse universo de valores e de fanatismo associado a crimes de sangue que vêm acontecendo”, disse Bucci, ao refletir sobre desafios do jornalismo profissional no Brasil.
A editora-executiva e chefe da sucursal do Estadão em Brasília, Andreza Matais, citou as coberturas da operação Lava Jato e do Orçamento Secreto como exemplos de jornalismo investigativo e esquemas de corrupção no Brasil. Antes de revelar como funcionam as emendas RP-9 (emendas do relator) no governo Jair Bolsonaro, a equipe do Estadão na capital federal se debruçava sobre a distribuição de mais um Orçamento anual. Até descobrir que estava diante de “algo muito grande” organizado entre os poderes Executivo e Legislativo.
“É uma distribuição de dinheiro público no Congresso, de dinheiro que a sociedade paga, que não é equânime. É para um grupinho. É corrupção porque está fazendo uma corrupção do processo democrático”, disse Andreza.
Também no painel, o secretário de redação da Folha de São Paulo, Vinicius Mota, destacou o quão importante é dar tempo de trabalho às equipes para manter a credibilidade dos veículos de imprensa. É essa a aposta do jornalista para fidelizar a relação com o público.
“O jornalismo não é uma corrida de 100 metros. É sempre uma maratona, sempre está visando ao longo prazo. Quando fiscaliza o poder, quando cobre um assunto que joga luz sobre um malfeito, quando faz isso bem feito, está apostando no longo prazo, que é na sua credibilidade”, disse Mota.
O painel foi mediado pela vice-presidente da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), Katia Brembatti, que propôs reflexão sobre o papel da imprensa como instituição complementar, e não substitutiva, a órgãos de investigação oficiais. O assassinato de Bruno Pereira e de Dom Phillips na Amazônia, emblemático também por envolver um jornalista estrangeiro radicado no Brasil, foi um exemplo.
Para Andreza Matais, um dos maiores problemas atuais é o desdém de órgãos governamentais com os veículos de comunicação. “O governo não nos dá o ‘outro lado’. Você pergunta e eles não respondem. (...) Minha preocupação é: onde estão os funcionários concursados e com estabilidade que sabem antes de esquemas (como o dos pastores no MEC)? Vão fiscalizar urnas e estão achando isso ok? Onde estão as ‘gargantas profundas’ que já nos trouxeram informações importantes?”, provocou, em referência ao caso Watergate nos Estados Unidos.
Assista aqui à gravação do painel:
O Fórum Digital Corrupção em Debate se estende até as 18h, com transmissão ao vivo gratuita pelo Estadão e pelo Instituto Não Aceito Corrupção.
Veja a programação da tarde:
14h30-16h | 4º painel: A força da educação no combate à corrupção
Convidados: Pedro Hartung (Instituto Alana), Davi Lago (INAC) e Wellinton Vitorino (Harvard University/Instituto Four)
Mediação: Bia Bulla (Estadão)
16h-17h30 | 5º painel: Mudar a Lei das Estatais?
Convidados: Dr. Roberto Livianu (INAC), Dr. Marcelo Zenkner (Tozzini Freire/Ex-Diretor Petrobrás), Dra. Valéria Café (IBGC) e Dr. Fernando Dias Menezes (USP)
Mediação: Marcelo Godoy (Estadão)
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