Editora suspende publicações de livros de Silvio Almeida previstos para 2025

Empresa afirma que aguardará posição da defesa do ex-ministro, acusado de assédio sexual em um caso que envolve a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco

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Foto do author Wesley Bião

A Editora Record anunciou que suspendeu a publicação de dois livros do ex-ministro dos Direitos Humanos e Cidadania, Silvio Almeida, demitido do cargo em setembro após denúncias de assédio sexual feitas à ONG Me Too Brasil virem à tona, em um caso que envolve a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco. Ele nega as acusações.

No início do ano, a editora contratou um livro inédito do professor e advogado e planejou uma edição revisada de “Racismo Estrutural”, a obra mais conhecida de Almeida. O lançamento de ambos estava previsto para 2025. A empresa afirmou que “dadas as graves acusações contra o autor” vai esperar uma decisão definitiva sobre o tema.

Livros do ex-ministro do governo Lula estavam previstos para serem lançados em 2025, sendo um deles inédito Foto: Antônio Cruz/Agência Brasil

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“O Grupo Editorial Record havia contratado no início de 2024 um livro inédito do intelectual Silvio Almeida e faria também uma versão revista de Racismo Estrutural, obras inicialmente programadas para 2025. Dadas as graves acusações contra o autor, o Grupo Editorial Record decidiu aguardar o processo e a defesa de Almeida para tomar uma decisão definitiva quanto aos livros”, diz a editora.

O caso foi revelado pelo site Metrópoles. A ONG afirmou, em nota, que ele foi denunciado por pessoas ligadas ao governo. O Estadão apurou que integrantes do governo já sabiam há pelo menos três meses de relatos sobre o caso por Anielle Franco. A denúncia chegou ao Palácio do Planalto, mas não foi levada adiante porque a ministra não a formalizou, sob a justificativa de que não queria prejudicar o governo.

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Logo após a exposição do caso, o então ministro publicou nota e foi às redes sociais se declarar alvo de denúncias sem prova. Almeida também pediu à Justiça que a organização apresentasse esclarecimentos.

“Em razão da minha luta e dos compromissos que permeiam minha trajetória, declaro que incentivarei indistintamente a realização de criteriosas investigações. Os esforços empreendidos para que tenhamos um país mais justo e igualitário são frutos de lutas coletivas e não podem sucumbir a desejos individuais. Sou o maior interessado em provar a minha inocência. Que os fatos sejam postos para que eu possa me defender dentro do processo legal”, afirmou.

Como mostrou o Estadão, a situação de Almeida no governo era insustentável e os ministros Jorge Messias (Advocacia-Geral da União), Vinícius Carvalho (Controladoria-Geral da União) e Paulo Pimenta (Secretaria de Comunicação Social da Presidência) tentavam convencer o então titular da pasta de Direitos Humanos a entregar o cargo, o que ele já relutava em fazer.

Em nota, já depois de ter sido exonerado, Almeida declarou que pediu para que o presidente Lula o demitisse, “a fim de conceder liberdade e isenção às apurações, que deverão ser realizadas com o rigor necessário e que possam respaldar e acolher toda e qualquer vítima de violência. Será uma oportunidade para que eu prove a minha inocência e me reconstrua”.

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Após a demissão do então colega, Anielle publicou nota nas redes sociais elogiando a decisão do governo e criticando quem relativiza os episódios de violência. No mês passado, outras duas denúncias contra o advogado foram feitas à Comissão de Ética Pública da Presidência da República (CEP), que apura os casos.

Em entrevista à revista Veja, a ministra afirmou que não tinha nenhuma relação com o ex-colega até o início da transição de governo, em 2022 – justamente quando começaram as “atitudes incovenientes, que foram aumentando ao longo dos meses até chegar à importunação sexual”.

“Por um tempo, quis acreditar que estava enganada, que não era real, até entender e cair a ficha sobre o que estava acontecendo. Fiquei sem dormir várias noites. Eu só queria trabalhar, focar na missão no propósito e em toda a responsabilidade que se tem quando se assume um cargo como o meu. Mas não conseguia”, disse a ministra.

Almeida foi o quarto ministro a cair desde o início do governo Lula. Ele e o ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Gonçalves Dias, são os únicos demitidos por conta de denúncias publicadas pela imprensa. A deputada estadual de Minas Gerais, Macaé Evaristo (PT), substituiu Almeida no comando da pasta de Direitos Humanos.

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