O ex-secretário da Saúde de São Paulo Edson Aparecido, de 64 anos, foi indicado pelo MDB para disputar o Senado pelo Estado. Ele chegou a ser cotado como vice na chapa do governador Rodrigo Garcia (PSDB), mas seu nome foi preterido na reta final das negociações partidárias. O escolhido de Garcia foi ex-deputado Geninho Zuliani (União Brasil), cujo registro de candidatura foi impugnado pela Procuradoria Regional Eleitoral de São Paulo nesta terça-feira, 16.
Ao Estadão, Aparecido disse que “talvez seja mais fácil” para o MDB dialogar com ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), mas que a legenda não pode deixar de “dialogar com o governo Bolsonaro” após a eleição. “Dá para fazer as duas coisas”, afirmou Aparecido. Nesta entrevista, ele declarou que a aliança entre o MDB e o PSDB, seu antigo partido, deve se estender até as próximas eleições municipais, em 2024, e gerais, em 2026.
Formado em História pela PUC-SP, Aparecido começou a carreira política no movimento estudantil na zona leste de São Paulo, no grêmio de sua escola, na Vila Formosa. O ex-secretário era do PCdoB quando foi diretor do DCE da PUC em 1980. Nesse mesmo ano, Aldo Rebelo (PDT), hoje seu rival na disputa pelo Senado, era presidente da UNE e seu “líder” partidário.
Ligado ao ex-governador Mário Covas, Aparecido foi um dos fundadores do PSDB, em 1988, e comandou a primeira reunião e a primeira Executiva do partido na capital. Foi eleito deputado estadual em 1998 e reeleito em 2002.
Em 2004, perdeu, por um voto, a disputa pela presidência da Assembleia Legislativa para Rodrigo Garcia, então no PFL. Aparecido foi ainda secretário de Desenvolvimento Metropolitano e da Casa Civil do ex-governador Geraldo Alckmin (PSB), hoje candidato a vice-presidente na chapa de Lula.
A seguir os principais trechos da entrevista:
O sr. trocou o PSDB pelo MDB para ser candidato a vice, mas acabou na disputa pelo Senado. O seu novo partido foi usado como barriga de aluguel?
Não. Fui 12 anos do MDB. Tive três partidos na vida. Um na clandestinidade, que era o PCdoB, mas que estava no MDB, e depois o PSDB. Temos identidade de conceitos, ideias e programas.
O sr. começou a carreira política no PCdoB. Considera-se um político de esquerda?
Minha história é de centro-esquerda. Tanto lá atrás, na minha origem, quanto na formação do PSDB. Covas, Fernando Henrique e José Serra tinham um histórico de centro-esquerda. Esse é o meu perfil e a minha visão de mundo.
É um perfil muito diferente do de Rodrigo Garcia, que é de centro-direita e fez carreira no PFL/DEM...
Isso mostra a amplitude da coligação, da candidatura do Rodrigo e da minha. Ele é capaz de ampliar a candidatura para outros setores da sociedade, assim como eu posso ampliar o meu leque de diálogo com setores mais conservadores.
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Garcia adotou como mote de campanha que não é de esquerda, nem de centro, mas “anda para frente”. Não é um discurso meio vazio?
Não é vazio. O que é ser de esquerda? É o que o PT fez? A sorte do PT e do Lula foi ter recebido o País após o processo de estabilidade econômica conduzido pelo Fernando Henrique. Ser direita é o quê? Por exemplo: nos últimos 20 anos o repasse para a Saúde da União foi reduzido brutalmente. Caiu mais de 25%. A Constituinte de 1988 distribuiu responsabilidades, mas não compartilhou recursos para isso. Nesses 20 anos, Bolsonaro e os governos do PT reduziram o repasse para a Saúde.
O plano original era que o sr. fosse candidato a vice de Rodrigo Garcia, mas o escolhido foi o ex-deputado Geninho Zuliani (União Brasil). O que houve?
O plano original era esse. Na saída do PSDB falei com todas as lideranças do partido. Saí e fui para o MDB porque havia uma ideia que era deixar meu nome à disposição para eu ser o candidato a vice se a coligação decidisse. O União Brasil tinha uma candidatura ao Senado, que era o (José Luiz) Datena, mas ele saiu. Na reta final houve uma composição abrigando os três principais partidos.
Foi uma surpresa a escolha do Geninho? O sr. esperava ser o candidato a vice?
Não foi uma surpresa. A gente que está há tanto tempo na política sabe que essas coisas são decididas de última hora e que são amadurecidas com o tempo. Se tivéssemos o apoio de outros partidos, como o PSD de Gilberto Kassab ou o PSB do Márcio França, haveria uma reformulação na questão do vice.
Em 2004, o sr. era o nome apoiado pelo então governador Geraldo Alckmin para presidir a Assembleia, mas perdeu a disputa por um voto para o “aliado” Rodrigo Garcia, então no PFL. Considera que houve uma traição?
Rodrigo fez uma articulação mais competente e acabou atraindo o PT. O jogo do Parlamento não é o mesmo jogo de governo. A oposição apoiou ele, mas isso não significa que Rodrigo tenha sido contra o governo. Foi um processo de disputa.
Se vencer a eleição para o Senado e Lula voltar à Presidência da República, o sr. seria da base governista ou da oposição? E o MDB?
Primeiro é preciso ver como as forças políticas e os partidos vão se comportar com o resultado da eleição. Qualquer que seja o resultado da eleição, é muito grande a importância da vitória do Rodrigo para o equilíbrio político do País.
É mais fácil o MDB ter diálogo com um governo Lula ou com um governo Bolsonaro?
Pode acontecer dos dois lados. Talvez seja mais fácil dialogar com Lula, mas não vai faltar oportunidade de dialogar com o governo Bolsonaro. Dá para fazer as duas coisas.
Em um eventual segundo turno entre Garcia e Fernando Haddad, do PT, o governador deve buscar o eleitor bolsonarista?
Aí a gente vai fazer a comparação da experiência entre eles à frente da administração pública. Haddad saiu da Prefeitura com uma das piores avaliações da história. Haddad não deixou dinheiro. Utilizamos o empréstimo do BID, que eu e Bruno Covas assinamos, para terminar as obras que ele deixou só o esqueleto. Não tinha dinheiro.
Como secretário da Saúde da capital, o sr. defendeu o isolamento social. Sua adversária Janaina Paschoal (PRTB) faz campanha contra a obrigatoriedade de os funcionários se vacinarem. O que acha disso?
A gente criou na pandemia protocolos para preservar a vida. Todos foram elaborados por equipes técnicas. São Paulo foi o epicentro da pandemia e teve 60% dos óbitos do País. Hoje São Paulo tem 6% dos óbitos do Brasil. A estratégia foi exitosa. Esse debate (da exigência da vacina) é ultrapassado. Tem que manter. Não podemos ter uma pessoa que está atendendo numa repartição pública sem estar protegida pela vacina.
Garcia havia sinalizado que teria uma mulher na chapa, mas montou uma coligação 100% masculina. Isso não é ruim?
Acho que não. O ideal era que tivéssemos uma presença física feminina, mas fazer isso só para ter uma composição política... O que é preciso é ter compromisso com as políticas públicas que possam avançar na posição da mulher na sociedade. Esse posicionamento eu e Rodrigo temos.
Haddad prometeu que, se vencer, vai montar um secretariado com 50% de mulheres. O que acha dessa ideia?
É preciso ver a melhor maneira de compor um governo como São Paulo. Rodrigo e Geninho vão fazer isso de maneira competente.
A escolha de Geninho Zuliani como vice de Garcia foi uma aposta arriscada?
Rodrigo e Geninho representam uma mudança geracional. Geninho está absolutamente preparado.
O PSDB não tem candidato ao Senado nem a vice em São Paulo. Os tucanos vivem um momento de fragilidade?
O PSDB estará completamente representado caso eu vença a eleição. Tenho uma história no partido.
Essa aliança entre PSDB e MDB é de longo prazo? Alcançaria as eleições de 2024 e de 2026?
Sim. Estamos tratando de projetos e uma aliança de médio e longo prazos.
Como vai ser para o sr. e para os tucanos disputar uma campanha no campo oposto ao de Geraldo Alckmin?
A história das pessoas não se apaga. No debate (da Band) quem lembrou de ações e programas positivos do Geraldo foi o Rodrigo e quem criticou o Geraldo foi o Haddad. Foram duas críticas. Uma delas na questão da crise hídrica e outra na segurança. Quem defendeu o legado do Geraldo foi o Rodrigo e quem criticou foi o Haddad. O que se fez de bom não pode ser apagado.
Então o sr. acha que Garcia defendeu mais o legado de Alckmin do que Haddad?
Sem dúvida. Rodrigo foi honesto com a história. Ele reconheceu programas importantes que o Alckmin fez e o Haddad, que tem o apoio dele, criticou. Aí você vê o radicalismo ideológico, que não leva a história em conta.
Seu suplente é um empresário pouco conhecido do interior. Esse cargo não é eleito. Isso deveria mudar?
O País precisa discutir um novo pacto federativo. Cabe a discussão de mudanças na legislação eleitoral. O ideal seria que o suplente fosse o segundo mais votado. O meu suplente é uma pessoa preparada e que o presidente do partido conhece.
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