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Eleição em São Bernardo terá Lula e Alckmin em palanques opostos

Disputa na cidade mais rica do ABC paulista deve opor PT e PSB; pela primeira vez, tucanos podem se dividir entre duas candidaturas

Foto do author Adriana Ferraz

Em São Bernardo do Campo, cidade que projetou o atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva como líder político nacional, a eleição de 2024 já é tratada pelo PT como uma oportunidade de voltar às origens do partido e, de quebra, ao comando da prefeitura mais rica do ABC paulista. Ao já definir um nome para a disputa, o do deputado estadual Luiz Fernando, a legenda busca ganhar frente no pleito que, pela primeira vez, deve ter os tucanos rachados em duas candidaturas.

Disputa pela prefeitura de São Bernardo do Campo em 2024 deve opor candidatos de Lula e Alckmin Foto: Felipe Rau/Estadão

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Semanalmente, o Estadão vai mostrar como está o “esquenta” na corrida pelas principais prefeituras do Estado. A série teve início com São Paulo, a maior e mais rica cidade do País, com orçamento previsto de R$ 107,3 bilhões para 2024.

Com o atual prefeito Orlando Morando (PSDB) em segundo mandato, e em confronto com a direção nacional da legenda, aliados e adversários calculam que o tucano possa lançar um candidato a sucessor em outro partido. O mais cotado é o deputado federal Marcelo Lima, eleito pelo PSB, sigla que comandou a cidade, com William Dib, entre 2003 e 2008.

Mas a vaga de candidato do governo será disputada pelo também deputado federal Alex Manente, do Cidadania, partido federado com o PSDB. Parlamentar mais votado na cidade, ele já concorreu ao cargo em 2008, 2012 e 2016, quando chegou ao segundo turno e foi derrotado por Morando. Na última disputa, porém, os dois se aproximaram e Manente abriu mão do pleito.

A retribuição era esperada para 2024, mas, por enquanto, não há sinais de que Morando apoiará uma chapa com o PSDB na cabeça ou na vice. O prefeito atual de São Bernardo negocia sua saída do partido após entrar na Justiça para pedir a anulação da eleição da Executiva Nacional que consagrou o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, presidente da sigla. Segundo o prefeito, a não divulgação da ata colocou dúvidas sobre a legitimidade do processo, que acabou confirmado pela Justiça.

O impasse sobre o futuro candidato da situação é visto como trunfo para Luiz Fernando, que já articula alianças e traça estratégias para a campanha. Segundo o deputado, o momento é oportuno para o PT, que, em 2022, venceu na cidade com Lula e Fernando Haddad, então candidato ao governo.

“Parte de São Bernardo é petista. Só perdemos na cidade em 2018 nas disputas para a Presidência e o governo do Estado. No ano passado, já recuperamos. O momento para nós é interessante. Sabemos que será uma eleição bastante difícil, complexa, mas está claro de que lado o prefeito está. Nem (Jair) Bolsonaro é tão bolsonarista quanto o Orlando Morando”, afirmou o parlamentar.

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Nem Bolsonaro é tão bolsonarista quanto o Orlando Morando

Luiz Fernando (PT), deputado estadual

A mais de um ano para o início da campanha, Luiz Fernando projeta uma disputa entre Lima e Manente pelo segundo turno e já se coloca na fase final da disputa. “Marcelo Lima e Alex Manente vão se enfrentar para ver quem deve ir contra nós no segundo turno. Os números mostram que o PT está forte. Nossa chapa para a Assembleia Legislativa teve mais de 110 mil votos.”

O petismo atribuído por Luiz Fernando aos moradores de São Bernardo, no entanto, não tem se revelado com tanta intensidade nas eleições municipais. Na cidade onde Lula se lançou na política como líder sindical, o PT só venceu a disputa pela prefeitura em 1988, com Maurício Soares (que depois migrou para o PSDB), e, mais recentemente, com Luiz Marinho, que venceu em 2008 e se reelegeu em 2012, mas sem fazer um sucessor.

Agora ministro do Trabalho e Emprego, Marinho deve exercer papel importante na disputa que não conta com propaganda política própria. O horário eleitoral gratuito veiculado na TV e nas rádios de todas as cidades do ABC paulista trata apenas do pleito da capital paulista – isso porque as emissoras não têm afiliadas na região.

Para Manente, essa característica deve fazer com que os nomes colocados hoje se mantenham até o início da campanha, em agosto do ano que vem. O parlamentar afirma que também só deixará para confirmar sua quarta disputa na cidade em 2024.

“É natural que no momento em que estamos haja muito especulação. Quando apoiei o Orlando (Morando), em 2020, não houve qualquer compromisso de retribuição. Naquela época, nós nos aproximamos por causa da pandemia e das necessidades da cidade em obter recursos federais para enfrentá-la. Como deputado, pude ajudar”, afirma.

É natural que no momento em que estamos haja muito especulação. Quando apoiei o Orlando (Morando), em 2020, não houve qualquer compromisso de retribuição

Alex Manente (Cidadania), deputado federal

Em função da federação entre o Cidadania, partido de Manente, e o PSDB, as duas legendas precisarão encontrar um nome em comum para a disputa. Em 2022, o deputado foi o mais votado na cidade e também o mais votado da federação, o que deve lhe dar tranquilidade para obter apoio interno.

Já Marcelo Lima definiu seu futuro ao se filiar ao PSB a convite do vice-presidente, Geraldo Alckmin, e do ex-governador Márcio França, atual ministro de Portos e Aeroportos. Eleito pelo Solidariedade, o deputado faz um movimento para a centro-esquerda, mas, ao mesmo tempo, busca servir de opção aos que são anti-Lula. No ano passado, ele apoiou Tarcísio de Freitas (Republicanos) para o governo, mas se manteve neutro no pleito presidencial.

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Se for o candidato do governo, Lima conseguirá aproximar Morando da centro-esquerda, tarefa tida antes como impossível por aliados do tucano que apoiou o então governador João Doria em sua tentativa de se lançar ao Palácio do Planalto.

Para o professor e cientista político Diego Sanches Corrêa, da Universidade Federal do ABC (UFABC), os apoios de Lula e de Alckmin não terão o mesmo peso se comparados à escolha de Orlando Morando. “Quem ele apoiar deverá ter uma vantagem considerável na disputa, ainda mais porque o partido dele (PSDB) é alinhado ao perfil do eleitorado de São Bernardo, uma cidade de classe média desenvolvida que carrega características do interior”, afirma.

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