BRASÍLIA – Nas sete capitais do Norte do País, os candidatos que aparecem como favoritos nas eleições deste ano são aqueles que vão em busca da reeleição, têm apoio dos governantes no cargo ou são ligados ao bolsonarismo. Nomes ligados ao PT de Luiz Inácio Lula da Silva têm desvantagem, segundo as últimas pesquisas de intenções de voto, e enfrentam dificuldades até de brigar pelo segundo turno em cidades como Manaus e Porto Velho.
Em quatro das sete cidades há indicação de favoritismo dos atuais prefeitos, casos de Rio Branco (AC), Boa Vista (RR), Macapá (AP) e Manaus (AM). A exceção é Belém (PA), onde o atual mandatário corre o risco de não ir para o segundo turno. O peso da máquina estadual, com o clã Barbalho, empurra o deputado estadual Igor Normando (MDB) contra o deputado federal bolsonarista Éder Mauro (PL).
Leia o resumo da disputa por capital do Norte
Em Rio Branco, prefeito do PL lidera disputa e enfrenta ex-petista
O prefeito Tião Bocalom (PL) lidera as últimas pesquisas de intenção de voto em Rio Branco, capital do Acre, em uma campanha na qual buscou se associar ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Nas redes sociais e nos comícios, ele explora a relação com o bolsonarismo. Na última semana de campanha, ele recebeu para compromissos a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro e o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG).
O principal adversário de Bocalom é Marcus Alexandre (MDB), que se desfiliou do PT em 2022. Antes da filiação ao MBD, em 2023, Alexandre tinha uma história no PT. Foi prefeito de Rio Branco por duas vezes ao vencer as eleições de 2012 e 2016.
Ele deixou a prefeitura em 2018 para concorrer como vice-governador na chapa de Jorge Viana (PT) em 2022. A dupla petista foi superada por Gladson Camelli (PT).
Apesar de na campanha ter evitado o passado petista e a relação próxima com Jorge Viana, ele é muito associado ao partido. No segundo turno contra Lula em 2022, Bolsonaro teve 70% dos votos dos eleitores acreanos.
Também disputam: Dr Jenilson (PSB) e Jarude (Novo).
Boa Vista teve embate entre dois nomes do União, mas favorito é prefeito do MDB
O atual prefeito, Arthur Henrique (MDB), é apontado como o favorito na briga pela prefeitura da capital de Roraima que poderá lhe dar mais quatro anos à frente da cidade. A segunda colocada é a deputada estadual Catarina Guerra (União), mas ela chega à disputa depois de uma curiosa briga interna.
É que o deputado federal Antonio Carlos Nicoletti (União) também se apresentou como candidato e a capital roraimense viu a esdrúxula situação de dois nomes do mesmo partido estarem inscritos ao mesmo tempo.
Catarina teve o aval do diretório nacional para concorrer. Nicoletti, com o controle do partido na cidade, convocou a convenção que escolheu ele mesmo como o candidato. Os dois ficaram brigando na Justiça Eleitoral, que manteve a candidatura da deputada e indeferiu a de Nicoletti.
Arthur Henrique representa o grupo do ex-senador Romero Jucá e da ex-prefeita por cinco vezes, Teresa Surita. Ele também atraiu a atenção de Jair Bolsonaro, que indicou pessoalmente o vice na chapa, coronel Marcelo Zeitoune (PL). Catarina Guerra, herdeira de um clã político, tem o apoio do governador Antonio Denarium (PP).
“A eleição em Boa Vista virou uma competição entre ‘máquinas’, a do governo contra a municipal. Arthur Henrique chega para a reeleição com boa avaliação e grupo político coeso. A máquina política na capital é forte. E Catarina Guerra chega com o apoio do governador e com essa situação sui generis do partido”, observa o professor Roberto Ramos, da Universidade Federal de Roraima (UFRR), e pesquisador do Laboratório de Estudos Geopolíticos da Amazônia Legal (Legal).
Também disputam em Boa Vista: Lincoln Freire (PSOL) e Mauro Nakashima (PV).
Favorita em Palmas evitou debates e tem apoio de Bolsonaro
O nome que mais se destaca na capital tocantinense é o da deputada estadual Janad Valcari (PL). Bolsonarista, ela vem de vitórias importantes. Virou vereadora em 2020, foi a segunda mais votada da Assembleia Legislativa em 2022 e agora é a favorita para ser a prefeita de Palmas.
A candidata faz uma campanha peculiar. À frente nas pesquisas, ela tem faltado aos debates. Na pré-campanha, recepcionou Jair Bolsonaro para carreata na cidade e também recebeu o deputado Nikolas Ferreira. Ela também tem o apoio do governador Wanderlei Barbosa (Republicanos).
Em seguida aparecem o ex-senador Eduardo Siqueira Campos (Podemos) e o deputado estadual Professor Junior Geo (PSDB). A briga direta entre ambos interessa aos dois. É que pela primeira vez a capital Palmas tem possibilidade de 2º turno. A população alcançou 200 mil pessoas no ano passado, condição que exige nova rodada de votação quando algum dos candidatos não consegue a maioria absoluta dos votos.
Também disputa em Palmas a candidata do PSOL Lucia Viana.
Prefeito de Macapá é favorito na cidade onde Alcolumbre não conseguiu emplacar irmão
A eleição ainda nem aconteceu, mas já marca uma derrota importante, a do senador Davi Alcolumbre (União). Cotado para voltar a presidir o Senado em 2025, o parlamentar não conseguiu emplacar o irmão, Josiel Alcolumbre (União), como o nome de oposição ao atual prefeito, Dr. Furlan (MDB), na disputa pela prefeitura de Macapá.
Josiel não se viabilizou como o nome de consenso do grupo que abrange de Alcolumbre ao líder do governo no Congresso, Randolfe Rodrigues (PT), ao governador do Estado, Clécio Luís (Solidariedade).
Ele vinha mal nas pesquisas e a retirada também pode ter sido planejada para evitar uma derrota robusta. Furlan tem uma das melhores avaliações do Brasil e tem se mobilizado para enfrentar o grupo de Alcolumbre na campanha pelo governo do Estado em 2026.
Em meados do mês passado, um fato novo que poderia ter alterado o tabuleiro em Macapá. A Polícia Federal deflagrou a Operação Plattea, que investiga suspeita de fraude na execução de uma obra de R$ 10 milhões para urbanização e paisagismo de uma área central da cidade. As pesquisas não indicam reviravoltas, mas o prefeito alegou estar sendo alvo de armação política para prejudicá-lo.
O professor da Unifap e vice-coordenador do Legal, Ivan Silva, avalia que Furlan cresceu a partir de um derretimento das principais lideranças amapaenses a partir do apagão que deixou o estado às escuras por mais de 20 dias. “O atual prefeito dedicou apoio a Bolsonaro em 2018 e 2022, é muito bom de marketing e redes sociais e construiu uma imagem de outsider mesmo não sendo”, frisou.
Também disputam em Macapá: Aline 10 (Republicanos), Gianfranco (PSTU), Jairo Palheta (PCO), Patricia Ferraz (PSDB) e Paulo 50 (PSOL).
Disputa em Manaus tem prefeito como líder nas pesquisas e disputa acirrada por vaga no segundo turno
Embolados nas pesquisas estão os deputados federais Amom Mandel (Cidadania), eleito em 2022 aos 21 anos de idade, e Alberto Neto (PL), apoiado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro.
Correm, ainda, o deputado estadual Roberto Cidade (União) e o ex-deputado federal Marcelo Ramos (PT). Ramos foi vice-presidente da Câmara dos Deputados, ainda quando filiado ao PL, e não conseguiu a reeleição em 2022.
Também passou pelo PSD até se filiar, em abril deste ano, ao partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Os demais candidatos de Manaus são: Wilker Barreto (Mobiliza) e Gilberto Vasconcelos (PSTU).
Porto Velho tem coalizão à direita e prefeito deve eleger sucessora
O prefeito Hildon Chaves (PSDB) está encerrando o segundo mandato e trabalha para eleger a sucessora, a ex-deputada federal Mariana Carvalho (União Brasil). Ela é a candidata de uma coalizão de partidos e lideranças de direita, do governador Marcos Rocha (União) a Jair Bolsonaro. A rede de apoio também passa pelos deputados estaduais e vereadores da capital.
Segundo o professor de ciência política da Universidade Federal de Rondônia e pesquisador do Laboratório de Estudos Geopolíticos da Amazônia Legal (Legal), João Paulo Viana, o conservadorismo do eleitorado de Rondônia e o tamanho do grupo em torno de Mariana devem ser decisivos.
Na briga para tentar ir ao segundo turno estão, ainda, Léo Moraes (Podemos) e a juíza Euma Tourinho (MDB). Ambos tentam se associar ao bolsonarismo para conseguir mais apoios. Ela é ex-presidente da Associação de Magistrados de Rondônia. Leo é ex-deputado federal, eleito em 2018. Célio é ex-superintendente da Fundação Nacional de Saúde em Rondônia.
No estado considerado um dos mais bolsonaristas, o candidato apoiado pelo PT, Célio Lopes (PDT), tentou “esconder” a relação com os petistas na campanha. Ele não aparece bem nas pesquisas.
“O Hildon foi mais um outsider eleito em 2016 depois de mais de dez anos de governos PT e PSB em Porto Velho. Agora, tem um grupo forte apoiando a candidata dele, da centro-direita à direita radical. O eleitorado conservador é forte. Dos quatro primeiros colocados, três têm vices pastores. Os debates são muito ideologizados, com apontamentos de quem é mais ou menos bolsonarista”, afirmou o pesquisador.
Também disputam em Porto Velho: Benedito Alves (Solidariedade), Ricardo Frota (Novo), Samuel Costa (Rede).
Candidato do clã Barbalho e deputado bolsonarista devem ir ao segundo turno em Belém
Único prefeito do PSOL em capitais, Edmilson Rodrigues chega para a reeleição em maus lençóis. Ele tem uma das piores avaliações, segundo pesquisas de avaliação de governo, e também vai mal nas sondagens de intenções de voto.
A briga pelo segundo turno, de acordo com os levantamentos, aponta favoritismo entre o candidato do clã Barbalho, o deputado estadual Igor Normando (MDB), e o deputado federal Éder Mauro (PL), integrante da bancada mais bolsonarista da Câmara.
A convenção que confirmou a candidatura de Normando contou com a presença do governador do Estado, Helder Barbalho, do senador Jader Barbalho e do ministro Jader Filho, das Cidades.
Também concorrem em Belém: Delegado Eguchi (PRTB), Ítalo Abati (Novo), Jefferson Lima (Podemos), Raquel Brício (UP), Thiago Araújo (Republicanos) e Well (PSTU).
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