BRASÍLIA – Nas eleições municipais deste ano, 222 candidatos que não nasceram no Brasil almejam se tornar prefeitos, vice-prefeitos e vereadores. Os “gringos” que estarão nas urnas são de 46 países distintos e vão concorrer em 183 cidades brasileiras. Entre eles, há nascidos no exterior e registrados como brasileiros e também estrangeiros que se naturalizaram.
De acordo com levantamento feito pelo Estadão no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), 11 candidatos nascidos fora do Brasil se candidataram para prefeituras em oito Estados. Outros 11 compõem chapas que disputam os Executivos municipais. A maioria concorre a vaga de vereador, com 200 postulantes “internacionais” ao cargo.
A Constituição Federal de 1988 garante direitos políticos a estrangeiros naturalizados brasileiros. Para adquirir nacionalidade brasileira, é necessário viver no Brasil há mais de quatro anos ininterruptos e não ter antecedentes criminais. Se o interessado for oriundo de um país lusófono, é preciso viver em terras brasileiras apenas por um ano ininterrupto.
Um político nascido no exterior já foi presidente da Câmara dos Deputados, por exemplo. Entre 2016 e 2021, a Casa foi comandada por Rodrigo Maia, nascido em Santiago, capital do Chile. Filho do vereador do Rio César Maia (PSD), que foi perseguido durante a ditadura militar, Rodrigo foi registrado no consulado do Brasil no país. Por isso, ele é considerado um brasileiro nato.
Entre os “estrangeiros” já conhecidos do eleitorado que vão concorrer nos pleitos deste ano, está o prefeito de Macapá (AP), Antônio Furlan (MDB). Candidato à reeleição, ele nasceu na Costa Rica, mas se mudou para o Brasil aos dez meses de idade. Outro é o ator Sérgio Hondjakoff, lembrado por ter interpretado o personagem “Cabeção” na telenovela Malhação, da TV Globo. Nascido nos Estados Unidos, ele disputa uma vaga da Câmara Municipal do Rio pelo Cidadania.
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Uma das principais apostas do PL, do ex-presidente Jair Bolsonaro, para construir uma bancada de vereadores em São Paulo é a ex-comentarista política Zoe Martinez. Figura próxima da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL), ela nasceu em Cuba e mora no Brasil há 13 anos.
O maior número de candidatos “gringos” nasceu no Paraguai, com 41 naturalizados brasileiros que concorrem a um cargo eletivo. O segundo país estrangeiro é Portugal, com 25 concorrentes nascidos em terras lusitanas. Em seguida, aparecem Uruguai (17), Cuba (12) e Argentina (11).
O Estado que lidera o número de candidaturas de “estrangeiros” é São Paulo, com 57 concorrentes. Em seguida, estão Paraná (39), Rio Grande do Sul (24) e Minas Gerais (14). A maioria é formada por homens – são 159. Há 63 mulheres.
Os “gringos” estão em partidos diversos, que vão da esquerda à direita. O PT, do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, é quem tem mais candidatos “estrangeiros”, com 29. A segunda sigla com mais representantes é o MDB, que tem 20. Além de Zoe Martinez, o PL de Bolsonaro conta com outros 13 candidatos que nasceram no exterior.
Lusitano candidato à reeleição no Executivo de São Pedro da Cipa (MT), Eduardo Português (PSB) não tem adversários e depende de apenas um voto para comandar o município até 2028. Outras 148 cidades vivem o mesmo cenário, conforme mostrou o Estadão.
Portuguesa candidata a vereadora morreu em acidente da VoePass
O número de candidatos estrangeiros concorrendo nas eleições deste ano seria 223 se a tragédia com o avião da VoePass, que caiu em Vinhedo (SP) no último dia 9, não tivesse ocorrido. Entre os 58 passageiros e quatro tripulantes que morreram na queda da aeronave, estava Gracinda Marinda (MDB), que ia concorrer à Câmara Municipal de Toledo, no Paraná.
Professora da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), Gracinda nasceu em Portugal e tinha 47 anos. Ela disputaria a primeira eleição. O marido dela Nélvio Hubner, também estava no avião da VoePass. O casal deixou três filhos.
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