Bloqueios das estradas começam a afetar supermercados

Presidente da Abras, João Galassi, pediu apoio do presidente Jair Bolsonaro para acabar com a confusão; na Ceagesp, o impacto também já é sentido; diversos Estados relatam risco de abastecimento de combustíveis, com atrasos já identificados em SC, AC e RS

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Foto do author Márcia De Chiara
Atualização:

Os bloqueios nas estradas feitos por manifestantes pró-Bolsonaro já começam a provocar dificuldades de abastecimento para os supermercados em vários pontos do País, o que fez o setor se mobilizar para resolver o problema. Derrotado nas urnas, o presidente Jair Bolsonaro se mantém em silêncio sobre o resultado das eleições, enquanto integrantes do seu governo conversam com chapa de Lula sobre a transição.

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Cerca de 70% lojas de supermercados dos Estados de Santa Catarina, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, norte do Paraná, Rio de Janeiro, São Paulo e do Distrito Federal já enfrentam problemas de abastecimento por conta dos bloqueios nas rodovias, segundo levantamento feito pela Associação Brasileira de Supermercados (Abras) com as associações estaduais e as maiores redes de supermercados do País.

O presidente da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), João Galassi, pediu apoio ao presidente Jair Bolsonaro sobre as dificuldades enfrentadas pelos supermercadistas, informa a nota emitida pela entidade na manhã desta terça-feira, 1.

Marcio Milan, vice-presidente de relações institucionais da Abras e responsável pelo levantamento, diz que a falta de produtos está concentrada nas seções de perecíveis. Pela ordem, a área mais crítica é de frutas, verduras e legumes, seguida pelo açougue (carnes, aves e peixes), frios, laticínios, panificação e por último a mercearia. Estabelecimentos menores, que dependem de uma reposição mais frequente e têm menos estoques, são os mais afetados neste momento pelo bloqueio dos caminhões nas rodovias

A recomendação da entidade é que os supermercadistas foquem no abastecimento, especialmente porque no final da tarde desta terça-feira já foi observado um fluxo intenso de consumidores às lojas, provavelmente na tentativa de se prevenir da falta de produtos. Milan acredita que mesmo que os bloqueios sejam desfeitos, o real efeito das obstruções no fluxo de abastecimento deve perdurar até a próxima semana

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Em comunicado a Associação Paulista de Supermercados (Apas) Reforça o diagnóstico da Abras e diz que que, pontualmente, alguns supermercados de algumas regiões do Estado de São Paulo relatam falta de itens dos setores de frutas, verduras, legumes e açougue.

No Rio de Janeiro, é regular a situação dos estoques dos supermercados, com exceção dos produtos hortifrútis, segundo a Associação de Supermercados do Estado do Rio de Janeiro (Asserj).

A Apas reitera recomendação dada na segunda-feira(31) aos supermercadistas que “antecipem a logística de suas lojas e centros de distribuição, a fim de garantir que o setor consiga cumprir com a essencialidade de abastecer a sociedade de forma segura e sem interrupção, independentemente dos desdobramentos futuros”.

O Carrefour, a maior rede de supermercados do País, informa, por meio de nota que “segue sem grandes problemas de abastecimento em suas lojas em função dos volumes de estoques e que busca alternativas para atender todos os seus clientes, caso as paralisações continuem”.

O concorrente GPA, dono da bandeira Pão de Açúcar, informa, por meio de nota, que neste momento “registra atraso pontual no recebimento e expedição de algumas mercadorias, ainda sem impacto significativo e que trabalha com alternativas para minimizar ao máximo qualquer intercorrência”.

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Ceagesp

Na Ceagesp, o maior entreposto de abastecimento de hortifrutigranjeiros do País, já se percebe alguma redução no fluxo de caminhões, mas a situação ainda está longe do risco de desabastecimento, uma vez que toda segunda-feira, normalmente, há uma grande entrada de produtos.

Thiago Oliveira, chefe da Seção de Economia da Ceagesp, explica que mais da metade das mercadorias vendidas no entreposto são provenientes do Estado de São Paulo, muitas vezes de regiões próximas, onde há a alternativa de pegar estradas vicinais par fugir de bloqueios. Ele pondera também que terça-feira é um dia de pouco movimento no entreposto.

No entanto, o Estadão apurou que já há redes de supermercados sentindo impacto de alta de preços de verduras e legumes por conta da interdição das rodovias. A saca de 20 quilos de cenoura, por exemplo, que custava R$ 45 no atacado na sexta-feira (28), hoje sai por R$ 70, uma alta de 55%.

Questionado sobre os aumentos de preços, Oliveira, da Ceagesp, diz que “não há aumento de preços até agora por conta dos bloqueios”. No caso da cenoura, ele argumenta que a cotação do produto hoje é, em média, 3% menor do que a de setembro.

No momento, o impacto mais visível, segundo Oliveira, ocorre nas flores, um produto muito procurado no feriado de Finados, a ser celebrado nesta quarta, 2. “Algumas flores produzidas na região Sul não chegaram”, afirma.

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Manifestantes bolsonaristas bloqueiam rodovia após a divulgação do resultado do segundo turno Foto: Pedro Kirilos/Estadão

De toda forma, para minimizar os efeitos das paralisações das rodovias no abastecimento de hortifrutigranjeiros, o entreposto liberou para que a entrada de caminhões fosse realizada a qualquer hora do dia. Normalmente, há horário marcado para cargas e descargas dos caminhões.

Suínos e aves

No Sul do País, onde predominam a avicultura e a suinocultura, a produção está desacelerando. O Estadão apurou que desde segunda-feira (31) há abates suspensos em algumas unidades de frigoríficos, especialmente no Estado de Santa Catarina, onde existem mais 60 bloqueios nas rodovias. As cargas não estão sendo carregadas e até os trabalhadores não conseguem chegar aos frigoríficos.

Segundo fontes do setor, há caminhões com cargas vivas, com ração e com produtos refrigerados retidos em pontos de bloqueio nas estradas do Sul. A dificuldade não é generalizada e depende de cada região. No entanto, afeta também as cargas que estão a caminho dos portos para serem exportadas. Se o movimentos continuar, grandes prejuízos começarão a ser contabilizados a partir de hoje, calculam fontes do setor.

Combustíveis e outros impactos

Outros impactos dos protestos se fazem sentir em diversas regiões. Há atrasos na entrega de combustíveis em diferentes Estados do País, como Acre, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. A situação, além de possivelmente levar ao aumento de preços, coloca em risco diversos serviços essenciais, como prestação de socorro e atuação das forças de segurança pública.

Em entrevista ao Estadão, o presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis do Distrito Federal (Sindicombustíveis-DF), Paulo Tavares, afirmou que as três grandes distribuidoras de Brasília já passaram a operar com a cota mínima de distribuição desde a noite de segunda, 31.

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Vacinas

Os bloqueios também ameaçaram a produção de vacinas pelo Instituto Butantan, em São Paulo. Após uma carga com 520 mil ovos usados para produção de imunizantes contra H3N2 ficar presa na paralisação de caminhoneiros próximo a Jundiaí, no interior do Estado, a diretoria do Instituto acionou a Secretaria de Segurança de São Paulo e conseguiu a liberação.

A carga, segundo o Butantan, está a caminho do instituto com escolta da Polícia Rodoviária Federal. Mais cedo, o instituto havia alertado que, caso os ovos não chegassem até o fim desta manhã, poderia haver um prejuízo na produção de 1,5 milhão de doses de vacina contra Influenza./Colaboraram André Borges, Lorenna Rodrigues e João Scheller.

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