Eleições no Centro-Oeste: Direita domina disputas e se divide entre Centrão e bolsonaristas

Esquerda chega enfraquecida; PT tem candidatura forte apenas na capital de Goiás e tenta ida ao segundo turno em Campo Grande e Cuiabá

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Foto do author Weslley Galzo

BRASÍLIA - As capitais da região Centro-Oeste do País são controladas há anos por políticos de matizes variados dentro da direita. Esse cenário tende a se manter inalterado ao final das eleições deste ano, que apresentam aos eleitores nomes liberais e conservadores ante a um minoria de esquerda sem capilaridade em alguns dos maiores redutos direitistas.

O predomínio da direita em Cuiabá, Goiânia e Campo Grande pode não ser ameaçado pela esquerda, mas é fortemente disputado entre políticos do mesmo campo que buscam firmar os seus projetos e eleger os seus aliados em cidades-chave para o próximo ciclo eleitoral.

A atual campanha mostra um acirramento entre candidatos de partidos do Centrão e aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Eles disputam o mesmo naco do eleitorado e desafiam hegemonias locais.

Direita se divide entre nome do Centrão e bolsonaristas nas capitais do Centro-Oeste Foto: Wilton Junior

“No Centro Oeste, embora a direita seja hegemônica, não é monolítica e homogênea. Existem disputas e pluralidades no interior da direita”, afirmou Daniel Estevão, que é cientista político e professor na Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS).

Cuiabá tem candidato do governador medindo forças com nome de Bolsonaro e PT correndo por fora

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A eleição na capital mato-grossense gira em torno de apenas quatro candidatos, dos quais três são de partidos de direita e centro-direita. Levantamentos divulgados por diferentes institutos de pesquisa no final do mês de setembro mostram o deputado estadual Eduardo Botelho (União Brasil), que foi presidente da Assembleia Legislativa (ALMT), na liderança do pleito.

A briga pelo segundo lugar envolve o deputado federal Abilio Brunini (PL), que oscila entre 25% e 30% a depender do instituto, e o deputado estadual Lúdio Cabral (PT), com cerca de 20% das intenções, remetendo à disputa nacional entre PT e PL. A possibilidade de um segundo turno entre os dois candidatos foi apresentada em uma pesquisa recente, mas é descartada por observadores da eleição cuiabana diante dos níveis elevados de rejeição da esquerda no município.

“Dado o tamanho do bolsonarismo em Cuiabá e no Mato Grosso todo, o PT conseguir emplacar uma vaga no segundo turno na capital seria uma imensa vitória”, avaliou Daniel Estevão.

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Da esquerda para direita Abilio Brunini (PL), Eduardo Botelho (União Brasil) e Lúdio Cabral (MDB). Foto: Weslley Esdras Galzo

Com poucas chances de chegar ao segundo turno, Lúdio evita nacionalizar a disputa, uma vez que a associação direta com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o PT reduz as suas intenções de voto. Um dos seus slogans de campanha é “vote na pessoa”, não no partido.

Um dos principais padrinhos da candidatura do PT é o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro (PSD), que é senador pelo Mato Grosso e tem prestígio local. O candidato petista também calcula os seus movimentos de olho na possibilidade de negociar o seu capital eleitoral com Botelho no que tende a ser um segundo turno acirrado contra o candidato de Bolsonaro.

O bolsonarismo, uma das forças motrizes na eleição cuiabana, é arregimentado por Brunini. Ele conta com o apoio oficial de Bolsonaro e outros nomes de peso da extrema-direita. O parlamentar federal está em seu primeiro mandato e ganhou fama por tumultuar as sessões da Câmara com provocações aos deputados governistas. Já Botelho tem o bem avaliado governador Mauro Mendes (União Brasil) e a máquina partidária do União Brasil - a maior do Mato Grosso - a dispor da sua candidatura.

“Grande parte das forças que aglutinam votos de alguma forma têm se distribuído em torno do governador Mauro Mendes e de candidatos do PL”, disse Guilherme Carvalho, que é professor de ciência política na Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO).

Com apoio de Bolsonaro e adversários do Centrão, PSDB tenta vencer pela primeira vez em Campo Grande

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A capital Campo Grande tem um cenário eleitoral ainda indefinido. As pesquisas são inconclusivas sobre os candidatos que estarão no segundo turno. Sondagens de diferentes institutos mostram a disputa afunilada entre três nomes que oscilam nas primeiras colocações: a atual prefeita Adriane Lopes (PP), a ex-vice-governadora Rose Modesto (União) e o deputado federal Beto Pereira (PSDB).

A incumbente Adriane Lopes ostenta a senadora Tereza Cristina (PP) como madrinha da sua candidatura. A expectativa da prefeita era de que a parlamentar, que foi ministra da Agricultura no governo Bolsonaro, atraísse o apoio do ex-presidente, mas Beto Pereira atravessou as tratativas e fechou com Valdemar Costa Neto, presidente do PL, o apoio do partido à sua candidatura. O candidato do PSDB costurou a aliança com o apoio do ex-governador Reinaldo Azambuja, que comanda o seu partido no Estado.

A aliança com o PL também resultou no apoio oficial de Bolsonaro à candidatura de Beto. O ex-presidente ainda indicou a vice na chapa do tucano. A escolhida foi coronel Neide, uma policial militar de confiança do capitão reformado no Mato Grosso do Sul.

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Da esquerda para a direita, Adriane Lopes (PP), Beto Pereira (PSDB), Rose Modesto (União Brasil). Foto: Weslley Esdras Galzo

O nome do PSDB ainda conta com o apoio do correligionário e governador do Mato Grosso do Sul, Eduardo Riedel. Os tucanos são a grande força do Estado e comandam a maioria das Prefeituras, mas nunca venceram na capital Campo Grande, o que torna a disputa ainda mais decisiva para Beto.

Diferentemente dos concorrentes, Rose Modesto não exibe grandes cabos eleitorais em torno da sua candidatura, mas ainda desfruta de um bom recall eleitoral junto aos campo-grandenses por causa do seu desempenho em mandatos anteriores. A candidata do União Brasil figura sempre em primeiro ou segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto, o que cientistas políticos sul-mato-grossenses consideram ser um indicativo de que ela deve estar no segundo turno.

A disputa em Campo Grande tem mais nomes, porém todos figuram no segundo pelotão sem chances reais de irem para o segundo turno. É o caso da deputada federal Camila Jara (PT), que aparece com aproximadamente 9% das intenções de voto e representa o principal nome da esquerda na cidade. Assim como em Campo Grande, os votos obtidos por Jara podem ser negociados com os adversários no segundo turno.

Goiânia tem Bolsonaro enfraquecido, pressão de Caiado para eleger aliado e PT forte na disputa

A capital de Goiás é a única do Centro-Oeste em que um aliado de Bolsonaro não aparece entre os favoritos para ir ao segundo turno. O ex-presidente apoia o deputado estadual Fred Rodrigues (PL), que cresceu nas últimas sondagens, mas ainda surge na terceira ou quarta colocação.

O segundo turno em Goiânia parece consolidado entre o ex-deputado federal Sandro Mabel (União Brasil), primeiro colocado, e a deputada federal Adriana Accorsi (PT). O líder nas pesquisas de intenção de voto é apoiado pelo governador do Estado, Ronaldo Caiado (União Brasil), que é o governante mais bem avaliado do País.

O ex-deputado federal Sandro Mabel (União) e a deputada federal Adriana Accorsi (PT) Foto: Bruno Spada/Câmara dos Deputados

Mas, contraditoriamente, é esse apoio do governador que acende o sinal amarelo na campanha de Mabel. Os moradores de Goiânia nunca elegeram um prefeito alinhado ao governo estadual, o que tem forçado a comunicação caiadista a minimizar o peso desse tabu no imaginário popular.

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A disputa de Mabel contra Accorsi é a mais desejada pelos aliados de Caiado. As chances de vitória da petista no segundo turno são consideradas baixas no atual cenário da disputa por causa da rejeição do seu partido na capital de Goiás. Ainda assim, a deputada federal se mantém competitiva, pois é vista como uma petista “palatável” devido ao seu histórico como delegada da Polícia Civil de Goiás.

Os observadores da eleição goianiense não descartam a possibilidade de a deputada contar com o apoio do senador Vanderlan Cardoso (PSD), que aparece em terceiro lugar nos principais levantamentos. Antes do início da disputa, os dois discutiram a possibilidade de formar uma candidatura única, mas não houve acordo porque ambos queriam estar na cabeça de chapa.

A eleição em Goiânia se embaralhou recentemente com a entrada mais forte de Bolsonaro na disputa. O ex-presidente esteve na capital há duas semanas e atacou Caiado durante um comício de Fred Rodrigues. Ele chamou o governador de “covarde” pela atuação do chefe de Estado durante a pandemia de covid-19.

“Criaram um terror no Brasil. Nós, na pandemia, fizemos o que tinha que ser feito. Fui contra governadores que falavam ‘fiquem em casa, a economia a gente vê depois’. Governador covarde! Governador covarde! O vírus ia pegar todo mundo, não tinha como fugir do vírus”, disse o ex-presidente, sem citar Caiado nominalmente.

A fala do ex-presidente pode desidratar a adesão dos “bolsonaristas raiz” à campanha de Mabel no segundo turno, mas especialistas avaliam que o peso desse ataque é pequeno diante da força de Caiado.

A disputa de Goiânia define um fenômeno observado de maneira mais abrangente pelo professor Daniel Estevão: “Os resultados podem mostrar que o bolsonarismo, por mais que seja influente, não é necessariamente decisivo. A eleição vai mostrar que a direita continua forte no Centro-Oeste, mas que há essas cisões”.

Ele argumenta que, das três eleições em capitais do Centro-Oeste, a maior derrota para o ex-presidente pode ser na disputa de Cuiabá, onde ele e seus familiares se empenharam para turbinar a campanha de Brunini. Já em Campo Grande, o apoio de Bolsonaro é mais formal do que por convicção, o que não tornaria a eventual derrota numa perda pessoal.

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