A esquerda também sai do pleito de 2018 com a pior adesão a seus candidatos à Presidência desde 2002, na primeira eleição do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No primeiro turno, Fernando Haddad (PT), Ciro Gomes (PDT) e Guilherme Boulos (PSOL) somaram 45,3 milhões de votos – menos do que os 67 milhões conquistados pelas candidaturas de PT, PSB e PSOL no primeiro turno de 2014. No ano da eleição de Lula, foram 54,6 milhões de votos somados pelo petista e por Anthony Garotinho, então candidato do PSB. Concorrendo contra Jair Bolsonaro (PSL) no segundo turno deste ano, Haddad teve 47 milhões de votos.
Como resultado das eleições, partidos de esquerda tentam formar uma aliança sem a participação do PT, que defende a primazia de liderar o bloco. No Senado, PSB e PDT conversam com Rede e PPS, enquanto na Câmara PDT e PSB se unem ao PCdoB. A intenção é quebrar a hegemonia do PT e se apresentar como a terceira via.
Questionada sobre as alianças, a deputada federal reeleita Jandira Feghali (PCdoB-RJ) afirma que é necessário trabalhar por uma frente ampla, independentemente da ideologia. “Teremos uma visão de muita amplitude em relação a essa bancada para construir a resistência e para defender a Constituição e a liberdade democrática.”
Único dos cinco partidos a se colocar como oposição durante todo este período, o PSOL, fundado em 2005, fala em “várias esquerdas” e pede reflexão sobre erros. “São muitas esquerdas, o nível de responsabilidade de cada uma é muito diferente”, diz seu presidente, Juliano Medeiros. “Quem foi governo, que abriu mão da disputa de valores da democracia, tem mais responsabilidade. Independentemente disso, trabalharemos para que essas avaliações tenham espaço, pois é importante refletir sobre erros. É certeira a oposição contra Bolsonaro.”
Para o cientista político Jairo Pimentel, da Fundação Getulio Vargas (FGV), a esquerda terá de torcer por um desempenho ruim do governo Bolsonaro na economia para ter chances de se recompor nas próximas eleições, em 2020 e 2022. Pimentel afirma que o PSL conseguiu, pela primeira vez em 16 anos, tirar votos do PT nas classes C e D na eleição presidencial.
A consolidação dos votos na direita nessas camadas da população dependeria, no entanto, essencialmente da geração de emprego e renda nos próximos anos. “Estabelecer um governo com uma marca conservadora, nesses temas morais, não vai ser o suficiente para consolidar os votos dentro desse segmento”, diz. / MATHEUS LARA, PAULO BERALDO, TULIO KRUSE, ANA BEATRIZ ASSAM e CARLA BRIDI
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