Bolsonarismo chega às eleições municipais 2020 com apoio reduzido

Enquanto direita e esquerda se fragmentam, prefeitos de São Paulo, BH, Porto Alegre e Curitiba ganham visibilidade na condução da pandemia

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Foto do author Marcelo Godoy

Enquanto o presidente da República, Jair Bolsonaro – que não conseguiu tirar a agremiação Aliança pelo Brasil própria do papel e permanece sem partido –, se defende de questionamentos vindos do Congresso, de inquéritos do Supremo Tribunal Federal (STF), e de pedidos de cassação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), prefeitos centristas despontam como fortes candidatos para a reeleição em grandes capitais.

O Presidente Jair Bolsonaro durante a cerimônia de arriamento da bandeira nacional, no Palácio da Alvorada Foto: Gabriela Biló/Estadão

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Em meio à crise desencadeada pela pandemia da covid-19, ganharam visibilidade nomes como o do tucano Bruno Covas, em São Paulo, e do democrata Bruno Reis – vice de Antônio Carlos Magalhães Neto –, em Salvador, que conseguiram montar uma coalisão para 2020. Pesquisas ainda indicam o favoritismo dos prefeitos Alexandre Kalil, do PSD, em Belo Horizonte, e Rafael Greca, do DEM, em Curitiba. O tucano Nelson Marchezan Júnior, de Porto Alegre, está em terceiro na sua disputa pela reeleição.

De acordo com cientistas políticos ouvidos pelo Estadão, os centristas se beneficiam não só da fragmentação da direita e da esquerda, mas também da pulverização – no campo à direita – do próprio bolsonarismo, que sequer é representado por uma única sigla.“Tirando o caso do Rio de Janeiro, não tem ninguém que pode ser a tradução explícita do Bolsonarismo em grandes capitais como Belo Horizonte, Curitiba e Porto Alegre”, disse o cientista político Marco Antonio Teixeira, coordenador da curso de administração pública da FGV-SP.

Como o futuro partido do presidente da República, o Aliança Pelo Brasil, ainda não saiu do papel, os nomes que pretendem se alicerçar no bolsonarismo estão distribuídos em diversas agremiações, como Republicanos, PRTB, Patriota e PL. No Rio, o maior herdeiro desse eleitorado é o Republicanos, partido ao qual o próprio senador Flávio Bolsonaro se filiou no início do ano. Já em São Paulo, quem quer ser o candidato do presidente é Levy Fidélix, chefe do PRTB – partido do vice, Hamilton Mourão.

A eventual candidatura de um nome do Republicanos, como o deputado Celso Russomanno, e a campanha de Filipe Sabará (Novo), disputarão o mesmo espaço. “Normalmente a eleição nacional contamina a municipal, mas agora isso fica mais difícil”, concluiu Teixeira. De acordo com o TSE, o pleito de novembro irá selecionar 5.568 prefeitos em todo o Brasil.

Segundo especialistas, o contexto da covid-19 também favorece os centristas que já estão atuando na gestão das crises. “Esse tipo de discurso muito crítico da política tradicional funcionou em 2018, mas, talvez, não sirva para 2020. Uma das consequências da pandemia é o aumento de recursos aos instrumentos do Estado, como o auxílio-emergencial, o apoio a pequenas e médias empresas e o SUS. Então, no lugar da anti-política, talvez o eleitor prefira alguém que entenda de gestão pública e possa entregar esses serviços”, afirmou o doutor em ciência política Mauricio Santoro, professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

Dispersão de forças em Belo Horizonte, Curitiba, Porto Alegre, Salvador e São Paulo

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Grandes capitais como Belo Horizonte, Curitiba, Porto Alegre, Salvador e São Paulo podem chegar à data-limite do registro de candidaturas com um número de postulantes que varia entre dez e vinte.  No caso de Curitiba, a disseminação de candidaturas é tamanha que cinco dos potenciais adversários de Greca são colegas da mesma instituição, a Câmara dos Deputados. São eles: Ney Leprevost (PSD) – que conta com o apoio do governador do Paraná, Ratinho Junior (PSD) –, Luciano Ducci (PSB), Luizão Goulart (Republicanos), Christiane Yared (PL) e o ex-prefeito Gustavo Fruet (PDT).

O candidato à reeleição em Curitiba (PR), o prefeito Rafael Greca Foto: Divulgação

Ainda na disputa estão o deputado estadual Fernando Francischini, do PSL, e o empresário João Arruda (MDB), neto do ex-senador Roberto Requião. O Novo já tinha selecionado, em processo interno, o médico João Guilherme Moraes. O Podemos anunciou no início do mês a pré-candidatura de Caroline Arns, filha do senador da Rede Flávio Arns, e o PV optou pelo ambientalista Renato Mocellin.

Enfraquecido em função de denúncias de corrupção no Estado, o PSDB cogita lançar Edson Lau, ex-assessor da Secretaria de Esporte durante a gestão de Beto Richa na prefeitura. Na esquerda, o PT já decidiu lançar o professor universitário Paulo Opuskaz e o PCdoB escolheu em dezembro o nome da estudante Camila Lanes, presidente da União da Juventude Socialista do Paraná.

Em Belo Horizonte, Kalil conseguiu aglutinar a maior coalisão. Além de seu partido, o PSD, ele deverá contar com MDB, PDT, Rede, PP, entre outros. No campo mais alinhado com o Bolsonarismo, há três nomes na disputa: o deputado estadual Bruno Engler, do PRTB, o deputado federal Lafayette Andrada, do Republicanos, e o candidato do Novo, Rodrigo Paiva, que conta com o apoio do governador de Minas Gerais, Romeu Zema.

No campo da esquerda estão o petista Nilmário Miranda – ex-secretário de Direitos Humanos da gestão Lula –, a deputada federal Áurea Carolina (PSOL), o ex-deputado Wadson Ribeiro (PCdoB) e o presidente nacional do recém criado Unidade Popular, Leonardo Péricles.

Com grande vantagem nas pesquisas de intenção de voto, Alexandre Kalil (PSD) pode se reeleger no primeiro turno. Foto: Amira Hissa/PBH

Há ainda quatro nomes de centro que têm intenção de disputar: o deputado federal Júlio Delgado (PSB), o deputado estadual Joao Vitor Xavier (Cidadania) – segundo colocado, segundo levantamentos da Quaest Consultoria e Pesquisa, perdendo apenas para Kalil –, a ex-secretária-adjunta de Planejamento do governo, Luísa Barreto (PSDB) e o deputado estadual Wendel Mesquita (SD).

Esquerda ganha força em Porto Alegre

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A cidade de Porto Alegre é um caso raro não de aliança entre duas siglas expressivas da esquerda. A ex-deputada Manuela d’Ávila (PCdoB) lidera as pesquisas e terá como candidato a vice o petista Miguel Rossetto. Trata-se da primeira vez em um comunista encabeça a tradicional aliança PT-PC do B. Na disputa presidencial de 2018, d’Ávila foi vice da chapa do petista Fernando Haddad.

“Nossas cidades já viviam a desigualdade e desemprego crescentes e o impacto da ausência de políticas públicas antes da covid-19. A pandemia tornou isso ainda mais dramático”, escreveu Manuela d’Ávila ao Estadão. “Nossa unidade (na esquerda) deve ser consequência da urgência de reconstrução de cidades com políticas fixadas em trabalho, renda e proteção social”, completou.

Ainda assim, há outras duas candidaturas disputando o voto desse eleitorado: a deputada federal Fernanda Melchionna vai disputar pelo PSOL e a deputada estadual Juliana Brizola – neta de Leonel Brizola e Neuza Goulart – é pré-candidata pelo PDT e pode contar com o apoio do PSB. O recém-criado Unidade Popular pretende lançar a nutricionista Priscila Voigt.

A candidata Manuela D'Ávila (PCdoB) lidera a pesquisa eleitoral em Porto Alegre e foi atacada pelo ex-namorado no debate de ontem Foto: Ricardo Moraes/Reuters

O atual prefeito, Nelson Marchezan Júnior, um tucano mais à direita e ligado ao MBL, disputa a reeleição, mas é também vítima da pulverização no campo: até o seu vice, Gustavo Paim (PP) – que está rompido com a gestão desde meados do ano passado – anunciou a própria pré-candidatura.

Ao centro, o deputado estadual Sebastião Melo é pré-candidato pelo MDB e o ex-presidente da Câmara de Vereadores, Valter Nagelstein, sairá pelo PSD. A deputada estadual Any Ortiz deverá ser lançada pelo Cidadania e o médico Montserrat Martins sairá pelo PV.

À direita, o ex-judoca e ex-secretário estadual do Esporte e Lazer João Derly – que já foi do PCdoB e aliado de Manuela –, vai se lançar pelo Republicanos. Ele vai disputar votos com o ex-prefeito de Porto Alegre, José Fortunati (PTB), com a presidente estadual do PSC, Carmem Flores, e com o médico André Cecchini (Patriota), ex-diretor do GHC.

ACM Neto prepara sucessor

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Em Salvador, o atual prefeito, ACM Neto, não pode disputar a releição, mas prepara o terreno para eleger o seu vice, Bruno Reis (DEM), que acumula a função de secretário de Infraestrutura. A aliança que está sendo montada é a maior que se observa entre as grandes capitais e deverá abranger PSDB, PSL, Republicanos, MDB, Cidadania, Solidariedade, PTB, Patriota, PMN, Solidariedade, PSC, PL e DC.

O prefeito de Salvador, ACM Neto Foto: Werther Santana/Estadão

Atrás do voto bolsnarista estão o deputado federal Pastor Sargento Isidório (Avante) – terceiro colocado em 2016 – e o vereador Cezar Leite (PRTB). Ao centro, há ainda os administradores Eleusa Coronel (PSD) e Celsinho Cotrim (Pros), além do deputado federal João Carlos Bacelar (Podemos).

As candidaturas de esquerda estão pulverizadas entre a policial militar Major Denice Santiago (PT), a deputada federal e ex-prefeita Lídice da Mata (PSB), a pedagoga Olívia Santana (PC do B), o secretário municipal de Saúde, Leo Prates (PDT), o deputado estadual Hilton Coelho (PSOL) e a presidente estadual da Unidade Popular, Eslane Paixão.