Campanha de Bolsonaro vai associar Lula a Dirceu, Dilma e Palocci para aumentar rejeição do petista

Levantamentos a que a pré-campanha do presidente teve acesso apontam que a rejeição a Lula sobe quando ele é associado a petistas envolvidos em escândalos de corrupção

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Foto do author Julia Affonso

BRASÍLIA – A pré-campanha do presidente Jair Bolsonaro à reeleição definiu uma estratégia para se constrapor ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, seu principal concorrente e líder nas pesquisas. Levantamentos a que membros do governo tiveram acesso mostraram que, toda vez que seu principal adversário é associado a colegas de partido envolvidos em esquemas de corrupção, a rejeição cresce. Diante disso, os bolsonaristas vão reforçar o disparo nas redes sociais e em grupos de Whatsapp de imagens do petista ao lado dos ex-ministros José Dirceu, Antonio Palocci e Gleisi Hoffmann, além da ex-presidente Dilma Rousseff, com a frase “eles irão voltar com Lula”.

Os dados apontam que Lula é visto como "um santo" e alguém "muito querido" quando sua imagem é mostrada aos eleitores de forma isolada. Porém, quando é apresentada a foto ao lado dos petistas a resposta do eleitor tem sido a de rejeição.

Bolsonaristas vão reforçar o disparo nas redes sociais e em grupos de Whatsapp de imagens do petista ao lado dos ex-ministros José Dirceu, Antonio Palocci e Gleisi Hoffmann, além da ex-presidente Dilma Rousseff, com a frase “eles irão voltar com Lula” Foto: Charles Platiau/Reuters - 2/3/2020

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Os 13 anos de governos do PT foram marcados por escândalos de corrupção, como o Mensalão e a Operação Lava Jato. Dirceu foi preso e condenado em processos nos dois casos. Mantega foi alvo de um mandado de prisão temporário da Lava Jato, revogado horas depois em 2016. Alguns anos depois, o ex-ministro da Fazenda teve a denúncia contra si rejeitada pela Justiça. A ex-presidente Dilma sofreu um processo de impeachment em 2016, durante seu segundo mandato, que passou por crises econômica e política. Palocci foi preso na Lava Jato.

Como mostrou o Estadão, o entorno do ex-presidente Lula não foi renovado para as eleições deste ano. Petistas investigados e condenados aconselham ou apresentam sugestões formais ou informais a Lula na disputa com o presidente Jair Bolsonaro, jogando no embate eleitoral trajetórias de envolvidos em esquemas. O ex-presidente da Câmara, João Paulo Cunha (SP), tem afirmado em entrevista que as chances de vitória de Lula fazem ele e outros que se afastaram da política a programarem a volta. Cunha foi preso no escândalo do Mensalão.

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A campanha de Lula sentiu o golpe. Após provocações de Bolsonaro de que todos irão voltar caso Lula seja eleito, Dirceu e Mantega vieram a público negar a intenção de retornar ao Executivo federal. O próprio ex-presidente afirmou que, se vencer, não pretende remontar governos passados. Dilma afirmou que não é candidata a nenhum cargo.

Discursos e redes sociais. O tom da estratégia bolsonarista foi incluído em declarações do presidente, em postagens nas redes sociais de seus filhos e em uma entrevista do ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira (Progressistas-PI).

Em discurso nesta terça-feira, 8, durante inauguração do Núcleo de Controle Operacional da Transposição do Rio São Francisco, Bolsonaro calibrou o discurso e acusou o PT de “desviar ou aplicar em projetos malfeitos cerca de R$ 1,5 trilhão”. Bolsonaro creditou a informação aos presidentes do Banco Central e da Caixa Econômica Federal, além da Petrobrás. "Os números não mentem. Nós tivemos há pouco um Brasil administrado por 14 anos por um pessoal que levantava uma bandeira vermelha", afirmou. "Dá para ter noção desses números, o que poderíamos fazer para o Brasil com esse montante? Dinheiro roubado de vocês, da nossa população."

No domingo, 6, à TV Bandeirantes, Ciro Nogueira disse acreditar que a rejeição ao ex-presidente vai crescer se "Lula aparecer com quem vai governar com ele". Disse que os eleitores vão analisar "tudo o que aconteceu". "O José Dirceu pode não ser ministro, mas vai indicar o ministro. A Dilma pode não ser ministra, mas vai indicar. O governo do Lula vai ser do genérico, pelo que eu estou vendo", disse. "Ninguém vai querer essas pessoas de volta."

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A tática de atacar o entorno de Lula apareceu também em uma declaração de Jair Bolsonaro durante uma visita ao Porto do Açu, no Norte Fluminense, em 31 de janeiro. Na ocasião, o presidente disse que, se eleito, o petista nomearia José Dirceu novamente para a Casa Civil, e Dilma para o Ministério da Defesa, “porque ela é mandona”.

Um dia antes, o filho mais velho do presidente, senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), publicou em uma rede social que Lula "quer voltar com sua gangue à cena do crime e implantar o socialismo no Brasil". No mesmo tom, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), postou, em 4 de fevereiro, "o dream team do PT", associando Lula e Gleisi Hoffmann, por exemplo, a supostos crimes.

Uma das postagens do deputado cita o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci, ao questionar se seria "isso de volta". Palocci foi preso pela Lava Jato e deixou a cadeia em 2018, após fechar seu acordo de colaboração. O ex-ministro se afastou do PT após se tornar delator da operação.

A diferença de rejeição entre Lula e Bolsonaro, em 27 de janeiro, era de 21 pontos porcentuais, segundo pesquisa do Ipespe. O instituto apontou o atual presidente da República como o candidato ao Palácio do Planalto com a maior rejeição percentual – 64% dos entrevistados disseram que não votariam em Bolsonaro de “jeito nenhum”. Para o ex-ministro Ciro Gomes (PDT) e o ex-juiz e ex-ministro da Justiça, Sérgio Moro (Podemos), o porcentual era de 42% e 53%, respectivamente. Lula apareceu como uma opção impensável para 43% dos eleitores.

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