A deputada estadual Marina Helou (Rede) está com alguns assessores enquanto caminha em uma feira livre no Paraíso, zona sul de São Paulo. Ela está fazendo uma live, um vídeo ao vivo transmitido na internet. É a última quarta-feira antes da eleição e ela distribui panfletos acompanhada de uma candidata a vereadora, que olha para o celular e diz que a campanha está plantando árvores para compensar as emissões de carbono gerada pelos santinhos. Mais alguns passos e uma mulher se aproxima da dupla. Ela diz que votará em Marina, que sorri em resposta e dá um abraço com os rostos distantes, por causa da pandemia. Na hora, perto da hora do almoço, há 11 pessoas assistindo.
A campanha “sonhática” voltada à primeira infância e à defesa do meio ambiente, que prometia uma São Paulo antirracista, não saiu de dentro da bolha de Marina, composta por apoiadores de seu partido, a Rede, e por egressos de movimentos de renovação política. Sem nenhum segundo de TV e uma verba de campanha de menos de R$ 1 milhão, Marina se disse surpresa, ao Estadão, no começo de setembro, por ter pontuado em uma pesquisa eleitoral que acabara de ser divulgada. Teve 1% das intenções e falou que iria crescer. Mas estacionou naquele porcentual ao longo da campanha
Marina Helou, egressa de uma família de classe média alta, que estudou em colégio Waldorf, fez faculdade de gestão pública e se engajou em movimentos de renovação política. Se lançou deputada pela Rede em 2018 e venceu. Sua candidatura à Prefeitura foi um voo solo de seu partido após algumas conversas com o PV, partido que terminou apoiando Bruno Covas. A aposta foi viável porque a candidatura contou com cerca de R$ 850 mil em recursos públicos, vindo das cotas que a Rede tem do fundo eleitoral (a campanha ao todo custou R$ 970 mil, segundo informações do Tribunal Superior Eleitoral).
Com 31 anos, foi a candidata mais jovem da disputa, e foi vista frequentemente com candidatos a vereador na mesma faixa etária. Abusou das redes sociais para divulgar propostas e chegou a ter bordões, dizendo sempre que possível que iria “governar a partir de evidências” e que mostraria “que sim, é possível fazer de outra maneira”. Mulher e jovem, foi alvo de uma série de comentários de homens nas redes sociais que classificou como machistas: pedidos de beijos e frases menos educadas. Chegou a prestar uma queixa policial.
Passou boa parte da campanha explicando propostas do plano de governo, sem deixar de comentar temas que considerava “polêmicos” mas corretos, como a volta da inspeção veicular na cidade. “A gente tinha uns alertas para esses temas”, disse Marina, em entrevista ao Estadão. Mas não se furtou de tentar convencer que eram propostas adequadas. Falou sobre elas com um tom professoral, com sobrancelhas torcidas para o centro e sempre olhando para a câmera, fosse em lives, sabatinas e outros eventos online, que protagonizaram a eleição em ano de pandemia.
As propostas mais ligadas à centro-esquerda não foram suficientes para fazer a candidata virar alvo de nenhum adversário entre as candidaturas nanicas, mas como deputada Marina já havia tido atritos com o colega de Assembleia Arthur do Val (Patriota). Márcio França (PSB), cuja campanha quis se posicionar no centro, chegou a oferecer parte do seu tempo de TV a ela, mas advogados do candidato depois disseram que não seria possível. Na última semana, então, ele leu uma carta dela em seu programa. O texto convidava o espectador para entrar em seu site.
Chegada a reta final, a campanha poderá ter ajudado na eleição de ao menos uma cadeira para a Rede na Câmara Municipal, ou mesmo garantido uma vida parlamentar mais duradoura à deputada. Mas não foi capaz de fazer o plano de governo, do qual ela dizia ter orgulho, virar realidade.
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