Depois de encerrado o debate entre os candidatos à Prefeitura de São Paulo promovido pelo Estadão na Fundação Armando Alvares Penteado (Faap) na terça-feira passada, o prefeito Bruno Covas (PSDB) saiu caminhando da universidade com o irmão Gustavo e dois auxiliares em busca de um restaurante para almoçar. No trajeto até a Praça Vilaboim, em Higienópolis, achou graça quando percebeu que algumas pessoas colocaram a máscara ao reconhecê-lo.
Sem reserva antecipada, escolheu um restaurante japonês com poucas mesas ocupadas e pediu um combinado de sushi. Aos 40 anos de idade, Covas tem um estilo oposto ao do antecessor, João Doria, que deixou o cargo para disputar o governo paulista em 2018. Avesso ao barulho político, o candidato do PSDB é discreto. Segundo amigos e correligionários, nunca foi um orador explosivo e é mais conhecido como articulador do que como líder de massa. Alvo principal dos adversários nos debates, raramente respondeu aos ataques e não alterou o semblante mesmo nos momentos mais tensos.
Covas foi um candidato previsível. Quando confrontado com perguntas difíceis ou potencialmente constrangedoras, recorreu a um arsenal fixo de clichês: “Não tenho problema de esconder o apoio do Doria, mas o candidato sou eu”; “Essa eleição não é o 3.° turno de 2018 ou uma antecipação de 2022”; “Adversário não se escolhe...” Seu entorno é o mesmo dos tempos em que liderava a juventude do PSDB. Filiado ao partido desde os 17 anos, mudou-se de Santos para São Paulo em 1995 para morar com o avô, o governador Mário Covas, na ala residencial do Palácio dos Bandeirantes.
Foi nessa época, quando era cabeludo, usava camisetas de rock (uma paixão até hoje) e estudava no colégio Bandeirantes, que começou a atuar na base jovem do partido e conheceu o grupo que o acompanha até hoje: o marqueteiro Felipe Soutello – que em 2018 coordenou a comunicação da campanha de Márcio França (PSB) contra Doria –, o secretário da Casa Civil, Orlando Faria, o coordenador de campanha, Wilson Pedroso, o assessor Fábio Lepique, o coordenador de mobilização Carlos Alberto Balotta, Alexandre Modonesi, secretário das subprefeituras e o presidente do PSDB da capital, Fernando Alfredo.
Desde criança, quando fez a carteira do Clube dos Tucaninhos, o objetivo de Covas sempre foi entrar na política, seguir os passos do avô e chegar ao Palácio do Planalto. “Quem começa como estagiário quer chegar a CEO. É o natural de qualquer carreira”, disse. Foi com esse foco que fez Direito na USP e Economia na PUC.
Quando era governador, Mário Covas nunca fez qualquer gesto para formar um herdeiro político na família, mas também não criou obstáculos quando percebeu que o neto deu sinais de que seguiria esse caminho. “Meu avô foi minha inspiração para fazer política, mas sempre colocava a necessidade de estudar. Nunca desencorajou”, afirmou o prefeito.
Consulta
Tio de Bruno, o vereador Mário Covas Neto (Podemos) conta que o sobrinho o consultou antes de tentar ser deputado estadual após disputar como candidato a vice-prefeito de Raul Cristiano (PSDB), em Santos, no ano de 2004. “Eu não tinha o projeto de ser candidato. Estava em um escritório de advocacia e era corredor (de Stock Car). Já o Bruno sempre pensou em política, desde do Clube dos Tucaninhos”, disse. Foi o tio que articulou um “estágio” de Covas na liderança do PSDB na Assembleia, em 2005, quando o cargo era ocupado pelo deputado Vanderlei Macris. No ano seguinte, Covas foi eleito deputado estadual.
Dois anos depois de o PSDB perder 25 deputados federais e registrar o pior desempenho de sua história em uma eleição presidencial, o prefeito desponta como principal aposta de redenção do partido nas eleições municipais deste ano. O candidato à reeleição é líder isolado em todas as pesquisas de intenção de voto. Enquanto Doria prega um “novo PSDB” – menos social-democrata e mais à direita –, o grupo de Covas fala em resgatar as raízes tucanas.
O prefeito abriu espaço para “exilados” da máquina partidária e da administração estadual como o ex-senador e ex-chanceler Aloysio Nunes Ferreira. Alvo da Lava Jato, Aloysio deixou a presidência da Investe SP, Agência Paulista de Promoção de Investimentos, e foi nomeado para a diretoria executiva da SP Negócios, da Prefeitura. O ex-governador Geraldo Alckmin, denunciado pelo Ministério Público de São Paulo na chamada Lava Jato Eleitoral, está na equipe de plano de governo, bem como o ex-senador José Aníbal, que é desafeto de Doria.
A lista de tucanos demitidos por Doria e acolhidos na Prefeitura é extensa. Covas é diplomático ao falar das divergências com o grupo do governador. Ele nega que os dois tenham se desentendido durante o processo de enfrentamento da pandemia, o que é um fato conhecido de quem acompanha a rotina das duas máquinas. Enquanto o governador queria flexibilizar, o prefeito preferia manter o isolamento.
“Doria é uma das maiores lideranças do PSDB, mas é muito cedo para falar em candidatura presidencial. Quando se fala em novo PSDB ou reformulação, o fundamental é explicitar o que pensa o partido. Perdemos muitos apoios por não conseguir tornar clara nossa visão de mundo. Não tivemos a coragem de fazer a defesa das privatizações do governo FHC. Isso de novo é mais vontade na defesa das teses do PSDB do que reformulá-las”, disse.
Em conversas reservadas, aliados do prefeito dizem que sua ascensão favorece Doria no embate com Bolsonaro para 2022, mas também impõe limites ao projeto de poder do governador. A corrente do prefeito hoje coabita com o “dorismo” nas instâncias partidárias, mas tem um perfil de centro mais à esquerda: é liberal nos costumes, não recorre ao antipetismo exacerbado e rejeita pautas conservadoras.
Além disso, o grupo “covista” segue leal a Alckmin, que já está rodando o interior apoiando candidatos e construindo sua candidatura ao governo em 2022. Alckmin está integrado à campanha de Covas e tem apoio do prefeito para disputar o Palácio dos Bandeirantes, caso o PSDB vença a eleição na capital. Se perder, o candidato natural à sucessão de Doria será o próprio Covas. Ou seja: Doria não terá caminho livre para colocar o PSDB na aliança do vice, Rodrigo Garcia (DEM), em troca do apoio nacional do DEM, hoje um aliado muito próximo do governador.
Vice
Na articulação para a escolha do vice, Covas descartou todas as exigências impostas pela sigla e decidiu que só anunciaria o parceiro de chapa depois de formada a coalizão. O presidente do Solidariedade, Paulinho da Força, insistiu por Marta Suplicy, o DEM queria a ex-atleta olímpica Maurren Maggi, o Republicanos pressionou por Celso Russomanno, o PTB indicou Marcos da Costa, o Cidadania, Alê Yousseff, e o PSDB queria uma chapa com Mara Gabrilli ou Ricardo Tripoli. No final, prevaleceu a escolha do MDB, dono do maior tempo de TV, que emplacou o vereador Ricardo Nunes.
Divorciado desde 2014, Covas conta que leva a vida hoje como qualquer pessoa solteira de 40 anos. Tem a guarda compartilhada do filho, Thomaz, de 15 anos, que está em seu apartamento durante a campanha. Tirou 45 dias de férias em 4 anos, mas não deixa de viver a vida. “Levo uma vida como qualquer outro. Nunca furei fila, mas também não vou deixar de fazer o que todo mundo faz por ser político.”
Um ano depois de ser diagnosticado com um câncer com metástase, Covas voltou a fazer musculação duas vezes por semana e caminhadas sempre que a agenda permite. Registros das atividades físicas foram feitos no “stories” de sua conta no Instagram. Com uma trilha sonora de rock, o tucano aparece (sempre de máscara) levantando uma carga de 40 quilos na mesma academia onde faz fisioterapia.
FICHA TÉCNICA
Quem são? Bruno Covas (PSDB), candidato a prefeito Nascido em 7 de abril de 1980, Bruno Covas é formado em Direito e Economia. Foi eleito deputado estadual em 2010, deputado federal em 2014 e vice-prefeito em 2016
Ricardo Nunes (MDB), candidato a vice-prefeito Nascido em 13 de novembro de 1967, é empresário do ramo de controle de pragas. Foi eleito vereador pela primeira vez em 2012. É presidente municipal do MDB
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