O candidato do PSOL, deputado estadual Marcelo Freixo, disputará com o senador Marcelo Crivella, do PRB, a prefeitura da segunda maior cidade do País, com 6,5 milhões de habitantes e 4,9 milhões de eleitores. Com este cenário, está encerrado o ciclo de dez anos de domínio do PMDB no Estado do Rio e na capital. A derrota do candidato do PMDB, Pedro Paulo, atinge principalmente o prefeito Eduardo Paes, padrinho político e fiador da candidatura do deputado federal peemedebista.
Crivella teve 27,78% dos votos. Freixo, 18,26%. Pedro Paulo ficou com 16,12%. Candidato do PSC, Flávio Bolsonaro teve 14%. Indio da Costa (PSD) chegou a 8,99%. Carlos Osório, do PSDB, foi escolhido por 8,62% dos eleitores. Jandira Feghali, do PCdoB, teve 3,34%. Alessandro Molon, da Rede, teve 1,43%. Carmen Migueles, do Novo, 1,27%. Cyro Garcia (PSTU) teve 0,19%. A apuração indicou 0% para Thelma Bastos (PCO). Houve 5,5% de votos brancos e 12,76% de votos nulos. O índice de abstenção (eleitores que não votaram) foi de 24,28%.
Paes encerra no dia 1º de janeiro o segundo mandato e é o nome do partido para disputar o governo fluminense em 2018. Em outubro do ano passado, o prefeito insistiu na candidatura do afilhado mesmo depois que veio a público a denúncia de agressão feita contra Pedro Paulo por sua ex-mulher, Alexandra Marcondes, em 2010. Processo por lesão corporal aberto no Supremo Tribunal Federal (STF) foi arquivado, mas a marca de "agressor de mulher" foi colada ao candidato.
No fim da tarde de ontem, o presidente do PMDB-RJ, Jorge Picciani, defendeu que o partido fique neutro no segundo turno. Ressaltou, no entanto, ser uma posição pessoal. Tanto Crivella quanto Freixo disseram que não vão buscar apoio do PMDB. Jandira Feghali vai apoiar Freixo.
"Derrotamos o PMDB em homenagem à democracia brasileira, é a resposta a um partido golpista", comemorou Freixo em ato público na Lapa (centro do Rio), em referência ao apoio do partido ao impeachment da presidente cassada Dilma Rousseff. O candidato foi saudado com gritos de "Fora, Temer".
Em entrevista coletiva, Crivella disse que já começou a procurar os adversários. "Vou procurar todas as forças políticas e tentar convencê-las de que chegou a hora de cuidar das pessoas", afirmou o candidato do PRB, citando o slogan de sua campanha. Em seguida, descartou buscar apoio do PMDB. "Não conversei (com PMDB) nem tenho intenção, mas vou conversar com todas as outras forças políticas. Queremos governar em paz. Quero conversar com todas as pessoas que pensam como eu", afirmou.
Embora tenha se dedicado à eleição de Pedro Paulo, com uma maratona de inaugurações e campanha na rua, Paes não conseguiu transferir para o candidato o eleitorado que deu a ele 25% de avaliação de bom e ótimo, segundo o Ibope. No PMDB, havia expectativa de que a aprovação de Paes crescesse além do apontado nas pesquisas, especialmente após a Olimpíada. Tropeços do prefeito fizeram com que a avaliação positiva fosse menor que os 33% de eleitores que consideram a administração ruim ou péssima. Paes ficou marcado como bom gestor, mas também por declarações infelizes como a de que o município de Maricá é "uma merda". Em outro episódio, disse a uma moradora que recebia uma casa popular que ela iria "trepar muito nesse quartinho".
O PMDB também sofreu as consequências eleitorais do colapso financeiro do Estado do Rio e do desgaste do partido com a suspeita de envolvimento de importantes líderes peemedebistas no esquema de corrupção da Petrobrás, investigado pela Operação Lava Jato. Ao longo da campanha, os adversários faziam questão de ligar Pedro Paulo ao "PMDB de Eduardo Cunha e Sergio Cabral", em referência ao deputado cassado em setembro e ao ex-governador, ambos investigados na Lava Jato. Cunha e Cabral negam ter recebido propinas e contribuições ilegais para campanhas eleitorais.
"Pedro Paulo foi um candidato muito aplicado, eu o parabenizo pelo esforço pessoal. Com apoio de todos nós, Eduardo escolheu um candidato muito preparado para governar, mas havia um risco e optarmos por correr esse risco. Somos corresponsáveis pelo resultado", afirmou Picciani. "Eduardo é nosso candidato a governador. Esta eleição não foi um julgamento de sua administração. Ele foi o melhor prefeito que o Rio já teve", acrescentou.
Para Jorge Picciani, o PMDB-RJ não deve se envolver no segundo turno. "Pessoalmente, vou defender que o PMDB não participe de apoio a nenhum candidato, pelas diferenças naturais que temos com eles", disse. Durante a campanha, o PMDB atacou Crivella, lembrando seu vínculo com a Igreja Universal do Reino de Deus e a aliança com o ex-governador Anthony Garotinho (PR), e Freixo, apontado como candidato "do radicalismo e do atraso".
Aos 58 anos, no segundo mandato no Senado, Crivella manteve a liderança desde o início da campanha. Apresentou-se como político distante dos escândalos investigados pela Lava Jato na Petrobrás e estatais, e distanciou-se da Universal, da qual é bipo licenciado. O candidato aproximou-se de líderes de diversas religiões, em especial católicos. Disputa a prefeitura em coligação com o PR de Garotinho.
O vínculo com a Universal - fundada pelo bispo Edir Macedo, seu tio - e Garotinho foram os dois pontos mais explorados pelos adversários no primeiro turno e serão intensificados no segundo. O senador responde com uma espécie de mantra: "a política é de todas as religiões e até de quem não tem religião". Crivella tem melhor desempenho entre eleitores de menor renda e escolaridade.
O senador disputa pela terceira vez a prefeitura do Rio. Já foi duas vezes candidato a governador. Em 2014, perdeu no segundo turno para Luiz Fernando Pezão (PMDB), reeleito. Freixo disputou a prefeitura em 2012, quando Paes foi reeleito no primeiro turno, com 64,6% dos votos. O candidato do PSOL foi o segundo colocado, com 28,1%.
Com apenas 11 segundos no horário eleitoral da televisão, Freixo, de 49 anos, compensou a falta de tempo de propaganda e de recursos com intensa participação de artistas e intelectuais na campanha, além da militância de rua. Ele tem bons resultados entre os eleitores de alta renda e escolaridade. O deputado apresentou-se como político independente, sem vínculo com empresários de construção e transportes e disposto a rever contratos e concessões. Também se esforçou para se firmar como o candidato da esquerda, dividida entre o PSOL e Jandira Feghali, que teve como cabos eleitorais Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O PSOL fez intensa campanha pelo voto útil no primeiro turno.
Freixo declarou à Justiça Eleitoral a arrecadação de R$ 752,4 mil até agora. Crivella teve R$ 4,1 milhões em colaborações no primeiro turno e um minuto e 11 segundos na propaganda de TV. Pedro Paulo não conseguiu chegar ao segundo turno apesar dos três minutos e meio na propaganda da TV e de doações que somaram R$ 9,1 milhões.
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