Jair Bolsonaro entra no segundo turno em franca vantagem e em condições muito melhores do que as de Fernando Haddad (PT). O candidato do PSL virou uma enorme onda na reta final, chegou perto de vencer no primeiro turno e causou uma reviravolta estonteante nas eleições em São Paulo, Minas e Rio, as maiores economias e os maiores eleitorados do País.
Sua onda virou um tsunami que varreu Eduardo Suplicy, Dilma Rousseff e Lindberg Farias do futuro Senado. Saem os petistas, entram os bolsonaristas Major Olímpio, Carlos Viana e Flávio Bolsonaro, filho do candidato, que puxam expressivas bancadas dos três principais estados também na Câmara.
Como Bolsonaro já tinha conquistado a Frente Parlamentar da Agropecuária, a Frente Parlamentar Evangélica e a "Bancada da Bala", ele já pode se vangloriar de ter arregimentado grandes apoios não só para disputar o segundo turno contra Haddad como também para governar. Que não venham duvidar das suas condições de governabilidade. Pelo menos no início...
Do outro lado, o PT confirmou a expectativa de vitórias em primeiro turno na maioria dos estados do Nordeste: Ceará, Bahia e Piauí, mais o Maranhão, onde ganhou em aliança com o PC do B do governador Flávio Dino, Alagoas, onde apoiou o MDB do governador Renan Filho, e Pernambuco, com o PSB de Paulo Câmara. Mas o partido não passou disso, não ampliou horizontes e não surpreendeu.
Assim, Bolsonaro, responsável pelas grandes surpresas deste domingo, 7/10, sai disparado na frente para vencer em 28 de outubro, mas o segundo turno não vai ser para corações fracos nem para amadores. Será praticamente uma guerra, uma guerra entre rejeições recordes dos dois lados, acima dos 40%. E nunca se pode menosprezar a estratégia, a experiência e o arsenal do PT.
A eleição, aliás, deixa uma pergunta no ar: por onde anda a tão famosa e aguerrida militância do PT? Esfaqueado, hospitalizado, Bolsonaro conseguiu mobilizar multidões a seu favor, todo o tempo, em todas as regiões. Do outro lado, não se viu, ou não se soube, de ruas e avenidas entupidas de bandeiras vermelhas e salpicadas daquela velha estrela que anda em desuso.
No dia 28, o Brasil saberá quem é o novo presidente. Se for Haddad, já se conhecem os erros, os vícios, o programa populista, a intenção de intervir onde quer que lhe convenha. Ou de "tomar o poder", como disse José Dirceu. Mas Bolsonaro é uma incógnita, não se conhece nem sequer o programa de governo e o que ele de fato pretende fazer, além de acenar com ordem, disciplina e, genericamente, progresso.
O PT teve dificuldade para fazer bancada e Bolsonaro foi o grande vencedor para a Câmara e o Senado, mas fica uma pulga atrás da orelha: se ele virar presidente, o que pretende fazer com esse apoio popular imenso e uma bancada suprapartidária espetacular? Vencer para quê?
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.