Pré-candidato à Presidência pelo PSDB, João Doria admitiu nesta quinta-feira, 28, a possibilidade de ser candidato a vice-presidente nas eleições deste ano. "Nós temos que ter o bom entendimento que a prioridade é o Brasil, não somos nós. Então, eu não me priorizo nem excluo nenhuma alternativa. Nós não podemos agir dessa maneira", disse ele ao ser questionado sobre se comporia uma chapa sem ser o titular, durante sabatina promovida pelo jornal Folha de S.Paulo e o UOL.
"A prioridade, no meu entender, é o Brasil e os brasileiros, não é nem sequer o meu partido. Entendo que prioridade não é o indivíduo", emendou o tucano. Doria negou que suas falas fossem uma crítica à senadora Simone Tebet (MDB), que faz parte da união das siglas de centro que pretendem lançar uma candidatura única às eleições deste ano. Tebet já afirmou que, se não for cabeça de chapa, não aceitaria ser vice.
Com as dificuldades do "centro democrático" para lançar uma candidatura única ao Planalto, Doria admitiu que as tratativas podem não dar certo. "É um trabalho em progressão, pode dar certo, pode não dar", disse. "Mas isso não invalida as boas conversas, o bom entendimento que temos tido entre partidos."
Integram as conversas para o lançamento desta candidatura única da terceira via União Brasil, MDB, Cidadania e PSDB. Luciano Bivar, do União Brasil, no entanto, já sinalizou que pode desistir se não houver a definição de um nome em breve.
"É natural nesse processo que haja situações convergentes, outras não convergentes, mas o importante é que o diálogo continue. O diálogo de todos é no melhor sentido, de defender e proteger o Brasil e encontrar uma alternativa que possa romper essa polarização entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente Jair Bolsonaro", disse o ex-governador, ao minimizar os desentendimentos entre as siglas.
Ao comentar sobre conversas que tem tido com Bivar, Doria admitiu que o presidente da União Brasil pretende dar um parecer sobre a união entre as legendas na próxima quarta-feira, 4, e que a tendência do agora aliado é caminhar sozinho no processo eleitoral. "Mas nada nos impedirá de mais adiante estarmos juntos novamente. Não há ruptura, não há briga, não há conflito entre nós."
Relação com Alckmin
Na entrevista, Doria disse ainda ter respeito pelo ex-governador Geraldo Alckmin (PSB), seu padrinho político, com quem se desentendeu. “Não compreendo exatamente a razão de ele estar hoje ao lado de Lula, mas o histórico, a biografia de Geraldo Alckmin merecem respeito”, afirmou.
Segundo Doria, os atritos com o ex-aliado ocorreram principalmente após uma sugestão sua de que, para Alckmin concorrer ao governo de São Paulo, fossem realizadas prévias no partido. “Eu disse ao ex-governador Geraldo Alckmin: ‘Vamos então fazer prévias em São Paulo’, e Geraldo Alckmin disse: ‘De prévias eu não participo', e daí ficamos em um dilema.” O tucano afirmou que não fala com Alckmin desde dezembro do ano passado.
Alckmin deixou o PSDB em dezembro após 33 anos no partido. O ex-governador se filiou ao PSB e pré-candidato a vice na chapa do petista Lula.
Julgamentos de Moro
Questionado sobre Sérgio Moro (União Brasil), Doria disse não saber se os julgamentos do então juiz da Lava Jato foram corretos. "A minha posição não mudou em relação a Sérgio Moro. Mas eu não sou capaz de fazer juízo se os julgamentos que ele realizou foram corretos ou não foram corretos, cabe isso aos tribunais. Aliás, o Supremo já se manifestou e eu aprendi a respeitar as decisões da Justiça", afirmou Doria.
Nesta quinta-feira, o Comitê de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas divulgou decisão em que considera que Moro foi parcial ao julgar os processos contra o ex-presidente Lula na Lava Jato.
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