Transformar Ayrton Senna em herói e proibir o comunismo são alguns dos objetivos do escrivão da Polícia Federal Eduardo Bolsonaro, o deputado federal mais votado do País. As propostas estão entre as 37 que ele apresentou em seu primeiro mandato parlamentar – conseguiu aprovar apenas um projeto, o que legalizava a chamada “pílula do câncer”.
O herdeiro de Bolsonaro na Câmara está sempre ao lado do pai no Parlamento, como no momento em que o capitão reformado do Exército fazia seu discurso exaltando Eduardo Cunha e se dizendo favorável ao impeachment de Dilma Rousseff. Era 2016 e o plenário da Câmara estava lotado. Como um mímico, Eduardo fez coro com seu pai ao ouvi-lo citando o nome do coronel “Carlos, Alberto, Brilhante, Ustra”, pausadamente, para enfatizar “o terror de Dilma Rousseff" que comandou Destacamento de Operação de Informações (DOI) durante a ditadura, de 1970 a 1973, declarado torturador pela Justiça.
À semelhança e à sombra do pai, Eduardo viu sua popularidade crescer e, no domingo passado, aproveitando a onda de apoio à candidatura Bolsonaro à Presidência – que recebeu o voto de quase 50 milhões de brasileiros – o filho entrou para a história ao se tornar o deputado federal mais votado do País: foi escolhido por 1.843.735 de eleitores. Em quatro anos, sua votação em São Paulo cresceu 22,5 vezes. A atuação de Eduardo em sua primeira legislatura na Câmara, em muitos aspectos, mimetizou a do pai. O filho de Bolsonaro participou das comissões de Educação e Segurança Pública, além de outras 13 comissões especiais.
Ele apresentou 37 projetos de lei e duas Propostas de Emenda à Constituição. Cerca de um terço foi feita em parceria com o pai, principalmente na área de segurança pública – incluindo o porte de armas para policiais militares aposentados e reservistas do Exército.
Se Jair Bolsonaro em 28 anos de atuação parlamentar teve apenas dois projetos aprovados, Eduardo tem sua assinatura em só um projeto de lei, o que legalizou o uso da chamada “pílula do câncer”, do qual o pai é coautor. A maioria das propostas de Eduardo ainda tramita na Câmara ou foi arquivada. Um dos mais avançados é o pedido de inclusão do piloto de Fórmula 1 Ayrton Senna no Livro de Heróis da Pátria, que tramita no Senado.
Entre outros projetos do filho de Bolsonaro estão a criminalização do comunismo e outro que veda à Presidência indicar juízes ao Supremo Tribunal Federal (STF). Ambos não avançaram na Casa. Outros dois projetos visam ampliar e garantir a inviolabilidade de sigilo do uso da internet no País. Os deputados também pedem que apenas o STF tenha o poder de suspender aplicativos de troca de informações via internet.
A rede tem sido o principal meio de campanha tanto de Eduardo quanto do presidenciável. Com postagens quase diárias para seus 648 mil seguidores no Twitter, ele costuma publicar vídeos de seus discursos, faz críticas à esquerda, à imprensa e elogios à campanha do pai. No Instagram, tem 1,4 milhão de seguidores e atuação semelhante. Na campanha eleitoral, chamou Guilherme Boulos, do PSOL, de terrorista.
Outros projetos de Eduardo incluem a aprovação da “exclusão de ilicitude”, que impede que policiais sejam processados por crimes cometidos no exercício da profissão e outro que extingue o monopólio sobre serviços postais. Ele também é um ferrenho defensor da auditoria nas urnas.
Formado em Direito pela UFRJ e escrivão da PF, Eduardo estudou em dois colégios particulares do Rio, o Batista e o Palas. Fez intercâmbio na Universidade de Coimbra, em Portugal, e passou férias nos Estados Unidos, onde, segundo ele, “fritou alguns hambúrgueres”. Fã de Senna e praticante de skate e surf, Eduardo era, na juventude, fã da banda Forfun e chegou a aparecer em um videoclipe do grupo nos anos 2000. Após se formar, foi morar em Brasília com o pai, onde “estudou para passar na OAB e no concurso da PF”. Aprovado no concurso em 2009, trabalhou em Rondônia e de lá foi transferido para o Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo.
Independente do resultado da eleição presidencial, Eduardo deve ser um dos principais articuladores de Bolsonaro na Câmara, com o discurso em sintonia ao do pai. “Sempre que necessário eu dou a minha bronca nele”, avisou Bolsonaro em 2017, após ter sido fotografado passando um sermão em Eduardo durante a votação para presidente da Casa. O pai era candidato e o filho faltou porque estava na Austrália.
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