Na disputa ao governo de São Paulo mais acirrada em 20 anos, os candidatos Márcio França (PSB) e João Doria (PSDB) chegam numericamente empatados no dia da eleição. A última pesquisa Ibope/Estado/TV Globo antes do pleito mostra que, pela primeira vez desde o início do segundo turno, tanto o atual governador quanto o ex-prefeito da capital estão com 50% dos votos válidos.
Nos votos totais, quando os brancos e nulos são considerados, França soma 43%, ante 42% do tucano. Os números representam aumento de quatro pontos do candidato do PSB em relação à pesquisa anterior, nesta terça-feira, 23. Já Doria oscilou um ponto para baixo, dentro da margem de erro, que é de dois pontos porcentuais para mais ou para menos. Brancos e nulos somam 10% e não sabem ou não responderam, 5%.
O Ibope também mediu a rejeição aos dois candidatos. Doria é rejeitado por 36% dos entrevistados, enquanto 25% disseram que não votariam em França “de jeito nenhum”. Os números representam oscilação de dois pontos para cima no caso do tucano e para baixo do lado do governador.
A pesquisa revela diferença significativa entre capital e interior. Após renunciar à Prefeitura com apenas 15 meses de mandato para concorrer ao Palácio dos Bandeirantes, Doria perde para França na cidade de São Paulo por 63% a 37% – a vantagem do candidato do PSB subiu quatro pontos em relação ao levantamento anterior. Na capital, a rejeição a Doria é de 52%, ante 22% de França. Na Região Metropolitana, França também ganha: 56% a 44%. Já no interior do Estado, Doria vence com 58% dos votos válidos, ante 42% do adversário.
O Ibope entrevistou 2.002 pessoas nos dias 26 e 27 de outubro de 2018. A margem de erro estimada é de dois pontos para mais ou para menos. O nível de confiança é de 95%, o que quer dizer que há uma probabilidade de 95% de os resultados retratarem o atual momento eleitoral, considerada a margem de erro.
Disputa. Desde 1998, quando o então governador Mário Covas (morto em 2001) conseguiu se reeleger após travar uma batalha histórica contra Paulo Maluf, a eleição estadual em São Paulo não era tão acirrada. Naquele ano, a vitória foi de virada e apoiada no antimalufismo. Agora, 20 anos depois, os candidatos chegam emparelhados no dia da votação com discursos que remetem, mais uma vez, ao sentimento do “contra”.
Doria se apoiou na força do antipetismo e na popularidade do presidenciável Jair Bolsonaro (PSL). Já França explorou a crescente rejeição ao PSDB, que governou o Estado desde Covas (1995), e do próprio ex-prefeito tucano, que descumpriu a promessa de ficar os quatro anos de mandato na capital.
A disputa aberta entre os adversários às vésperas da definição provocou nas últimas três semanas mais um ponto em comum com a eleição de 1998: os ataques mútuos e a transformação dos debates em ringues. Apenas um dos quatro encontros realizados ao longo do segundo turno não foi pautado por ironias e acusações entre os candidatos, no velho estilo praticado por Covas e Maluf.
O mesmo pôde ser observado nos comerciais e programas eleitorais veiculados no rádio e na TV pelas campanhas. Disputando voto a voto o comando do Estado, os dois candidatos abdicaram de priorizar a exposição de propostas para apontar ao eleitor o que consideram falhas de seu oponente. O tucano chegou a lançar um site onde promete listar a “verdade sobre Márcio França”.
A bandeira branca foi estendida uma só vez, no debate promovida pelo SBT horas após um vídeo íntimo atribuído a Doria começar a circular nas redes sociais. “Esse foi, sem dúvida, o ápice de uma campanha pautada pelo baixo nível, pelo ódio, medo e rejeição. O que se viu na disputa nacional também se replicou aqui. Menos medo e rejeição, mas muito ódio dos dois lados. Uma escolha lamentável, que priorizou agressões e deixou de lado o aspecto programático”, diz o cientista político Rodrigo Prando, professor da Universidade Mackenzie.
Foi também em uma só oportunidade – no debate da TV Globo – que Doria e França resolveram defender o legado das gestões Geraldo Alckmin, tentando faturar a partir de programas populares, como o Bom Prato e o Poupatempo. Todo o resto do tempo, os adversários pregaram mudança, mesmo ambos representando a continuidade dos governos e ações do PSDB.
Nesse aspecto, Doria foi mais longe. Abandonou o padrinho político para colar sua imagem na de Bolsonaro e pregar, como estratégia única neste segundo turno, o voto Bolsodoria. França, classificado pelo tucano como “esquerdista” por ser filiado ao PSB, sofreu para manter-se neutro e fugir do rótulo de petista, por ter apoiado o PT no passado.
Véspera. Neste sábado, 27, Doria concentrou seu último dia de campanha na capital, onde apresenta o pior desempenho nas pesquisas. O ex-prefeito fez caminhada no Capão Redondo, na zona sul, e no Tatuapé, na zona leste, onde criticou o adversário, a quem havia tentado vincular a responsabilidade pela divulgação do vídeo com cenas de sexo. “Foram quase 30 dias de massacre”, disse.
Enquanto isso, França cancelou a agenda de campanha para se recuperar de uma pneumonia. Ele visitou a mãe em São Vicente, cidade do litoral sul onde forjou sua carreira política. À noite, ele divulgou um vídeo nas redes sociais comemorando sua subida na pesquisa. “Tenho muita esperança de que amanhã (domingo, 28) São Paulo vai votar com a verdade.” / ADRIANA FERRAZ, CAIO SARTORI, DANIEL BRAMATTI e PEDRO VENCESLAU
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