Evangélicos não votam em bloco, afirma pesquisador: ‘É uma lenda’

Cientista político diz que pentecostais, neopentecostais e os chamados ‘tradicionais’ escolhem candidatos de maneiras diferentes

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Foto do author Julia Affonso

BRASÍLIA - Ser evangélico em época de eleição equivale a virar alvo de cobiça política, da esquerda à direita. Mas, embora esse público represente aproximadamente um terço do eleitorado e ganhe destaque nos programas dos principais candidatos à Presidência, nada indica que vote como bloco unitário. Ao contrário: um estudo do cientista político Victor Araújo, professor da Universidade de Zurique, mostra que os pentecostais, os neopentecostais e os chamados “tradicionais” escolhem seus candidatos com base em princípios totalmente diferentes.

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“Voto evangélico não existe. É lenda”, afirmou Araújo. Da linha neopentecostal, a Igreja Universal do Reino de Deus, por exemplo, publicou artigo em seu site, anteontem, dizendo que não é possível ser cristão e votar na esquerda. O texto apócrifo argumenta que esquerdistas querem repetir no Brasil “fórmulas desgastadas e ineficazes”, como regimes ditatoriais, além de “espalhar o caos, para que suas atitudes de desgoverno não sejam notadas”.

Em outros eleições, porém, a cúpula da Universal apoiou os governos de Luiz Inácio Lula da Silva e de Dilma Rousseff. O partido Republicanos – antigo PRB – é braço da Universal e integra o Centrão, que atualmente apoia o presidente Jair Bolsonaro (PL), candidato a novo mandato. Mesmo assim, a Universal – com cerca de 2 milhões de fiéis no País – tem reclamado de desprestígio por parte de Bolsonaro.

Estudo mostra que evangêlicos pentecostais, os neopentecostais e os chamados 'tradicionais' escolhem seus candidatos com base em princípios totalmente diferentes. Foto: Alan Santos/PR - 28/8/2021

Presidenciáveis

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Na tentativa de atrair esse eleitorado, a campanha do ex-presidente Lula lançará programas no YouTube dirigidos a esse público. A equipe do PT não pretende, porém, se concentrar na agenda de costumes. A ideia é discutir temas como o empobrecimento da população. Já Bolsonaro e o ex-juiz Sérgio Moro, pré-candidato do Podemos, decidiram focar seus discursos em críticas à defesa do aborto e da legalização de drogas. Ao apostar na pauta de costumes, tanto Bolsonaro como Moro tentam atingir os cerca de 22 milhões de evangélicos pentecostais.

“Não importa, para este eleitorado, para que lado a economia está apontando, se ela está bem ou mal, se a inflação está alta ou não”, disse Araújo. A tese de doutorado dele foi defendida na USP em 2020 e se transformou em livro, que deve ser lançado em março. De sua análise, os pentecostais votam orientados por pautas ideológicas e minimizam benefícios como o Bolsa Família – atual Auxílio Brasil. 

Para esse grupo, uma visão de mundo amparada na Bíblia é mais estável do que decisões baseadas em questões econômicas. O Ministério Madureira é uma das mais poderosas ramificações da Assembleia de Deus e é justamente ali que Lula procura angariar apoio. A Universal e a Internacional da Graça de Deus são neopentecostais e as igrejas Batista, Metodista e Presbiteriana, tradicionais.

Uma das conclusões do estudo é a de que o PT costuma angariar votos de eleitores no Nordeste porque a região é um berço católico. “O PT vai bem no Nordeste não muito por causa do programa Bolsa Família, mas porque lá tem uma concentração absurda de católicos”, observou Araújo. “Na média, um católico beneficiário do Bolsa Família retribui o PT nas urnas. E um pentecostal que é beneficiário, não.”

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