Bolsonaro tenta enquadrar WhatsApp em supergrupos e ouve 'não' como resposta

Em reunião a pedido do presidente, plataforma disse que a decisão sobre a data não foi tomada em acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), mas que só lançará a nova ferramenta no Brasil depois das eleições

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Foto do author Eduardo Gayer

BRASÍLIA – O presidente Jair Bolsonaro (PL) mobilizou o governo nesta quarta-feira, 27, para tentar enquadrar o WhatsApp, aplicativo considerado fundamental para as eleições por causa da interação com seus apoiadores, mas recebeu um “não” como resposta. Em reunião com Bolsonaro, no Palácio do Planalto, executivos da empresa de tecnologia repetiram que o lançamento da ferramenta Comunidades só ocorrerá no Brasil depois das eleições. O recurso, como já explicou o Link Estadão, vai permitir que mensagens enviadas pelo celular cheguem a milhares de usuários de uma só vez.

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O encontro ocorreu a pedido do presidente. Desde o dia 15, Bolsonaro vinha cobrando publicamente o WhatsApp. A estratégia de comunicação nas redes sociais é classificada como crucial pelo Planalto para Bolsonaro enfrentar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições de outubro. A decisão do WhatsApp, no entanto, representa uma derrota para a campanha governista.

Há dois anos, o WhatsApp chegou a admitir que na eleição de 2018 no Brasil houve envio maciço e ilegal de mensagens. À época, a prática violou os termos de uso da rede social para atingir grande número de eleitores.

O presidente Jair Bolsonaro vinha cobrando publicamente o WhatsApp. Foto: Evaristo Sá/AFP

O ministro das Comunicações, Fábio Faria, participou da reunião. Pelo lado do WhatsApp estavam Guilherme Horn, head do WhatsApp no Brasil, Dario Durigan (Políticas Públicas para o aplicativo na Meta Brasil), Murillo Laranjeira (Public Policy Director na Meta Brasil) e Eduardo Lopes (Public Policy Manager na Meta Brasil). 

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“A implementação da funcionalidade no Brasil ocorrerá somente após o período eleitoral. É importante ressaltar que a decisão sobre a data de lançamento deste recurso no Brasil foi tomada exclusivamente pela empresa, tendo em vista a confiabilidade do funcionamento do recurso e sua estratégia de negócios de longo prazo. Essa decisão não foi tomada a pedido nem por acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE)", informou o WhatsApp em nota divulgada após o encontro.

O WhastApp esclareceu nesta quarta que assinou memorando de entendimento com o TSE sobre outras questões relativas ao processo eleitoral, como a criação de um canal de denúncias para contas suspeitas de disparos massivos e a realização de treinamentos. “No entanto, nenhum desses acordos com o WhatsApp faz referência à funcionalidade Comunidades ou ao seu momento de lançamento, pois esse tipo de decisão cabe à empresa”, disse.

De acordo com a plataforma, o recurso passará por aprimoramentos antes de ser lançado globalmente – o que não acontecerá, de qualquer forma, antes das eleições. “Continuaremos a avaliar o momento exato para o lançamento da funcionalidade no Brasil e comunicaremos a data quando estiver definida. Reafirmamos que isso só acontecerá após as eleições de outubro.”

Em janeiro deste ano, em um encontro com o presidente do TSE, Luís Roberto Barroso, o CEO do WhatsApp, Will Cathcart, informou que não adotaria mudanças significativas nas funcionalidades do aplicativo no País até o fim das eleições presidenciais deste ano. Questionado na tarde desta quarta-feira pelo Estadão, o WhatsApp confirmou que houve essa comunicação ao TSE, mas reforçou que se trata de uma iniciativa da empresa, não uma consequência de um acordo com a Corte Eleitoral.

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Em 14 de abril, no anúncio da funcionalidade Comunidades, Jyoti Sood, gerente de Produtos do WhatsApp, afirmou que havia um “compromisso” entre a empresa e autoridades no País. Perguntando na ocasião se havia um acordo formal entre o TSE e o WhatsApp para a implementação do recurso ser feita apenas após as eleições deste ano, o executivo disse: “Isso está relacionado ao nosso compromisso com a democracia brasileira. É também um compromisso que sinalizamos às autoridades brasileiras.”

Embora deixe claro de que havia um entendimento entre as partes sobre o lançamento de novos recursos antes das eleições, o executivo se esquivou da ideia de que existia uma acordo formal. “No começo do ano, havia rumores de que o WhatsApp lançaria novos recursos. Na mesma época, houve uma reunião com o TSE para discutir o que faríamos nas eleições. Então, esse assunto surgiu na conversa. O Will Cathcart deixou uma mensagem de reforço que não faríamos mudanças no aplicativo antes das eleições. Foi um compromisso geral e não um acordo”, disse na ocasião.

‘Situação saneada’

Após o encontro desta quarta-feira em Brasília, Fábio Faria disse que Bolsonaro “entendeu completamente” os esclarecimentos do WhatsApp. “Sendo decisão da empresa, é do mercado, então não tem por que nem como o Executivo interferir”, afirmou o ministro. “A reação do presidente foi porque ele achava que tinha acordo, mas acordo não existiu. Para o presidente, a situação está completamente saneada.” No dia 15, após participar de motociata em São Paulo, Bolsonaro disse que o suposto adiamento a pedido do TSE era "inaceitável” e “inadmissível”.

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Ainda segundo o ministro, o WhatsApp não tem data para adotar o recurso Comunidades em nenhum lugar do mundo e faz os lançamentos de novidades apenas de forma global, mas está preocupado com a divulgação de fake news nas eleições. “Se houver foto de candidato com número de outro, WhatsApp vai retirar”, afirmou.

Faria ainda disse que o presidente, que enfrenta uma crise com o Judiciário, quer as plataformas funcionando “sem interferência dos Poderes”. “O presidente quer que plataformas funcionem para todos os partidos e candidatos nas eleições”, afirmou o ministro das Comunicações.

Megagrupos no WhatsApp

O recurso de Comunidades foi anunciado juntamente com outras novidades da plataforma. “As Comunidades permitirão que as pessoas reúnam grupos relacionados sob uma mesma estrutura que funcione para elas. Dessa forma, os participantes poderão receber avisos enviados para toda a Comunidade e organizar grupos menores para discutir os assuntos que são de seu interesse com facilidade", informou a empresa na ocasião.

Inicialmente, as Comunidades poderão reunir até 10 grupos com até 256 pessoas. Dessa forma, uma mensagem pode alcançar uma audiência de 2.560 pessoas, o que preocupa especialistas ouvidos pelo Estadão. O maior temor é de que elas permitam uma circulação maior de desinformação./COLABORARAM ALESSANDRA MONNERAT, BRUNO ROMANI E DANIEL TOZZI

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