Falta de dinheiro dificulta campanha de deputados estaduais

Neste ano, 2.174 candidatos concorrem a uma vaga na Alesp, que tem 94 cadeiras

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Por Ana Neira

Para quem busca uma vaga na Assembleia Legislativa em 2018, o principal jeito de fazer campanha é rodando pelas cidades do Estado. Mas, em um pleito marcado por poucos recursos, isso nem sempre é fácil. Candidato pela Rede, Giovanni Mockus tem passado o chapéu para conseguir fazer campanha pelo interior, em cidades como Botucatu, Jaú e Bauru. "Às vezes, meus amigos ajudam doando para o combustível", conta ele, que pretende gastar R$ 9 mil na campanha. "Em outras, passo no cartão de crédito e pago depois. Vai sair do meu bolso, mas paciência."

Segundo Mockus, a campanha tem sido tocada com ferramentas simples. "O que a gente tem mesmo é sola de sapato e saliva", diz. É o caminho encontrado por ele e outros candidatos para fazer frente a nomes já conhecidos, que buscam a reeleição ancorados em projetos já realizados e uma estrutura de gabinete. "Quem já foi eleito uma vez tem vantagem", opina o também candidato estreante Rafael Auad (PSD). "A gente briga pelo voto indeciso; disputar com quem tem quatro anos de relação com a população é desigual mesmo."

Giovanni Mockus, candidato a deputado estadual pela Rede,pretende gastar R$ 9 mil na campanha Foto: TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO

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Apesar de ser jovem – tem apenas 26 anos e acabou de se formar na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo –, Auad defende a campanha à moda antiga. Para ele, que acredita que a propaganda em redes sociais não faz milagre, o jeito é ir para a rua. "Nosso financiamento vem de dobradinhas com candidatos federais, com quem divido custos de folheto, e doações", diz. "Comida e transporte, eu mesmo pago para não comprometer a campanha". Seu orçamento, porém, é bem mais generoso que o do concorrente Mockus: seu partido, o PSD, repassou R$ 50 mil para sua campanha. Além disso, ele espera receber cerca de mais R$ 30 mil em doações de simpatizantes – a meta inicial era chegar aos R$ 150 mil.

Resistência do eleitor surge como obstáculo

Neste ano, 2.174 candidatos concorrem a uma vaga na Alesp, que tem 94 cadeiras. A grande diferença é que, desta vez, estão proibidos os financiamentos de empresas, resultado da reforma política aprovada no ano passado. Cada concorrente pode gastar um teto máximo de R$ 1 milhão, mas esse montante está muito longe da realidade da grande maioria.

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Não obstante a falta de dinheiro, a resistência do eleitor surge como obstáculo. Para Kleber Carrilho, professor do curso de marketing político da Universidade Metodista de São Paulo, a eleição de um deputado estadual "sempre foi problemática". "É um cargo que já fica espremido entre vereador e deputado federal. Costuma ser o último voto que o eleitor decide", diz. "Além disso, essa é uma eleição diferente, cheia de polêmicas e rejeições."

É algo que Rafael Auad sente na pele ao ser questionado por qual candidato indica à Presidência. "É o que está na cabeça das pessoas: antes de saber minhas propostas, querem saber quem apoio", afirma. Por outro lado, é um fator que ajuda a candidata Daniela Bruzarrosco (PSL). Segundo ela, basta dizer que tem a aprovação de Jair Bolsonaro para garantir a simpatia das pessoas. Advogada e policial civil, conta apenas com os recursos dela e do marido para financiar a campanha – o valor não deve passar de R$ 5 mil.

"Tenho direito à cota feminina, mas ainda não me deram nada. Vou me virando", diz. Uma das soluções é entregar panfletos quando leva a filha ao colégio e pedir ajuda para parentes. "Minha família no interior do Estado levou meus folhetos para entregar lá, por exemplo", diz.

Candidatos apostam nas redes sociais

O limbo eleitoral também é enfrentado por candidatos já mais conhecidos pelos eleitores, como Carlos Giannazi, do PSOL. Tentando reeleição, ele aposta que as redes sociais ainda podem fazer a diferença em sua campanha. "Dinheiro não temos, então vamos tentar desse jeito e seguir indo para a rua ganhar voto."

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Situação semelhante à da deputada Beth Sahão, que tenta mais um mandato pelo PT. "Ter um mandato ajuda porque já tenho trabalho consolidado, mas essa campanha exige mais sola de sapato, além das alianças com candidatos federais para baratear custo", explica.

Para o analista político e professor do Insper Carlos Melo, a situação financeira pode implicar em uma falta de renovação na Assembleia Legislativa. Levantamento feito pelo Estado recentemente mostrou que, dos 94 parlamentares, 77 tentarão a reeleição. É um índice alto, o que indica a possibilidade de que seja a menor renovação da história – o recorde hoje é de 2014, quando 62 deputados (69,1%) foram reeleitos.

"É evidente que essa conjuntura de campanha mais curta, com ainda menos recursos e muitas tentativas de reeleição impacta na renovação", diz o especialista. "Mais uma vez, ela não deve acontecer."

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