A pouco mais de dois meses para o início das convenções partidárias, o impasse nos principais palanques para o governo paulista abriu um vácuo na disputa pelo Senado. Enquanto os pré-candidatos ao Palácio dos Bandeirantes já mantêm uma intensa agenda de pré-campanha, a definição dos nomes que vão concorrer à única vaga de senador pelo Estado é motivo de desavenças internas.
No campo da centro-direita, o rompimento do apresentador José Luiz Datena com o governador Rodrigo Garcia (PSDB) e sua filiação ao PSC - partido que apoia o ex-ministro bolsonarista Tarcísio de Freitas (Republicanos) - deflagrou uma disputa acirrada nos bastidores da ampla coligação formada pelo tucano.
Como o MDB tem a prerrogativa de indicar o candidato a vice na chapa, o União Brasil reivindica a escolha do postulante ao Senado, mas o PSDB insiste que não abre mão do cargo.
"Estou rodando o interior. Meu nome é o único inscrito no diretório estadual. Se o União Brasil quiser indicar outro nome para o Senado, essa proposta terá que ganhar de mim na convenção do PSDB, o que acho que é difícil acontecer", disse o presidente do PSDB paulistano, Fernando Alfredo, que se apresenta como pré-candidato.
O União Brasil, por sua vez, precisa equacionar uma tensão interna antes de partir para esse embate com o aliado PSDB: a vaga de candidato a senador estaria reservada para o ex-ministro Sérgio Moro, mas o vereador Milton Leite reivindica a posição.
"Vou disputar o Senado. O União Brasil tem de ter a vaga. Como o maior partido da aliança ficaria sem nada? Moro até agora não pleiteou (o cargo). Se houver o pleito, vamos disputar na convenção", disse o parlamentar.
Há ainda no PSDB um grupo que defende o nome do ex-senador José Aníbal. O senador José Serra, cujo mandato termina neste ano, anunciou que vai tentar uma vaga de deputado federal.
Na raia bolsonarista, o lançamento de Datena na chapa de Tarcísio causou um racha. Aliado do presidente da República, o PTB, que acolheu a ala mais radical da direita paulista nas eleições, não aceitou a escolha do apresentador, que é considerado de esquerda pela legenda de Roberto Jefferson.
Em resposta, o partido colocou na disputa o ex-comentarista José Carlos Bernardi, que causou polêmica no ano passado ao fazer um comentário considerado antissemita na rádio Jovem Pan.
Lugar reservado
O campo da esquerda também enfrenta um dilema e até agora não colocou na rua nenhuma pré-campanha ao Senado. O PT, que lançou o ex-prefeito Fernando Haddad ao governo, deixou a vaga de senador reservada para o ex-governador Márcio França (PSB), caso ele desista de disputar o Palácio dos Bandeirantes.
Mas como o pessebista não dá sinais de que vai recuar da candidatura, os partidos que estão no palanque de Haddad e o próprio PT passaram a pressionar pela indicação ao nome para o Senado. O vereador e ex-senador Eduardo Suplicy (PT) apresentou seu nome e está, nas palavras de petistas, no "banco de reserva". Ele tem a seu favor o recall das últimas eleições, o que lhe daria uma vantagem na largada.
Mas o PSOL, que caminha para fechar com Haddad, reivindica o posto. "Se o Márcio França fizer uma aliança, a prioridade do Senado é dele. Mas, se isso não acontecer, o Juliano Medeiros (presidente nacional do Psol) seria uma boa alternativa", disse o deputado federal Orlando Silva, do PCdoB, partido que formou uma federação com o PT e o PV.
Em conversas reservadas, Haddad ouviu do PSOL que a sigla prefere a vaga de senador do que a de vice, que ficaria escondida na campanha. O petista teria respondido que é simpático à ideia, já que prefere uma mulher com perfil moderado de vice em sua composição.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.