Mulher de vice de Covas diz não se lembrar de ter feito B.O. por ameaça contra o marido em 2011

Em entrevista ao 'Estadão' ao lado de Ricardo Nunes (MDB), Regina Carnovale Nunes fala pela primeira vez sobre o assunto e nega ter sido agredida; vereador diz que não há irregularidades em aluguel de creches

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Foto do author Pedro  Venceslau

Candidato a vice na chapa do prefeito Bruno Covas (PSDB), o vereador Ricardo Nunes (MDB) ficou em evidência nos últimos dias da disputa pelo segundo turno na capital paulista. A campanha vem sendo questionada por um boletim de ocorrência (B.O.) feito pela empresária Regina Carnovale Nunes, sua mulher, por violência doméstica, ameaça e injúria contra Nunes há nove anos. Em entrevista ao Estadão, Regina negou que tenha sido agredida pelo marido e disse que não se lembra de ter ido à delegacia. 

“Não sei se apagou da minha memória porque eu estava muito nervosa”, disse Regina, ao lado do marido, na casa do casal, na zona sul de São Paulo. Registrado às 9h21 de 18 de fevereiro de 2011, o boletim de ocorrência608/2011, da 6.ª Delegacia da Mulher (Santo Amaro), cita Regina como “vítima” e Nunes como “autor”. 

Ricardo Nunes, candidato a vice de Bruno Covas, e a mulher, Regina, durante entrevista ao Estadão Foto: Felipe Rau/Estadão

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O documento relata que o casal estava separado havia sete meses, mas que o vereador, “inconformado com a separação”, não “dava paz” à mulher e vinha “efetuando ligações proferindo ameaças, envia mensagens ameaçadoras todos os dias”. Revelado pelo jornal Folha de S.Paulo, o B.O. diz que Nunes ia à casa de Regina, “onde faz escândalos e a ofende com palavrões”, o que levou a empresária a relatar estar "com medo" do marido. O conteúdo do documento foi confirmado pelo Estadão. Ao ser perguntada sobre o que aconteceu naquela época, Regina disse que o casal se desentendeu e que ela passou uns dias na casa da mãe. 

“Naquele período, há dez anos, a gente teve um desentendimento”, disse Nunes, que também registrou um B.O. contra a mulher, em 14 de março de 2011. A queixa policial, por lesão corporal, diz que “em conversa referente à pensão, veio a autora (Regina) por agredir a vítima (Ricardo)”.“Mas não houve nenhum tipo de agressão minha contra a Regina”, completou o vice de Covas.

Além dos questionamentos sobre o suposto caso de violência doméstica e agressão, a campanha de Covas tem sido cobrada pela citação do candidato a vice em uma investigação na Promotoria do Patrimônio Público e Social que apura indícios de superfaturamento no aluguel de creches conveniadas. Ele negou irregularidades, mas admitiu que muitos vereadores têm relacionamento com entidades conveniadas. “Não sei quantos por cento dos vereadores têm relacionamento com entidades. Mas são muitos. E tá certo”, disse. “A vida é de relacionamentos, mas isso não é errado e antiético.”

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Nunes diz que sua escolha como vice não foi influenciada pelo tempo de TV que seu partido, o MDB, garantiu à propaganda eleitoral de Covas e reclama das comparações que o candidato adversário, Guilherme Boulos (PSOL), faz entre o vereador e a ex-prefeita Luiza Erundina (PSOL), sua candidata a vice. “Ficam comparando os vices para usar a Erundina como muleta devido à falta de experiência do Boulos.”

O que aconteceu entre vocês em 2011? Há um boletim de ocorrência registrado por Regina em 18 de fevereiro de 2011, na 6ª Delegacia da Mulher, contra Nunes. 

Regina: Não me lembro de ter feito aquele boletim de ocorrência.Nunes: É que se você falasse que não fez, ninguém iria acreditar...Regina: Mas eu não me recordo de ter ido até a delegacia fazer um B.O. contra ele. Se eu tivesse ido até uma delegacia, eu iria lembrar do delegado, de quem me atendeu, enfim.

Mas a senhora fez o boletim de ocorrência? Ou alguém teria feito à sua revelia?

Regina: Não me recordo da situação.

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Depois teve um segundo boletim de ocorrência. Em 14 de março de 2011, o vereador registrou queixa contra Regina. Esse B.O. foi feito?

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Nunes: Sim. Naquele período, há dez anos, a gente teve um desentendimento. Minha esposa é italiana (risos). Aqui em casa quem manda é ela.Regina: Eu costumo falar que é mais fácil eu bater nele. Ele nunca levantou a voz para mim. É óbvio que casais têm desentendimentos. A gente não estava bem. Eu fui passar uns dias na casa da minha mãe.Nunes: Mas não houve nenhum tipo de agressão minha contra a Regina. Teve um momento que a gente estava um pouco alterado e teve aquele outro B.O. que eu fiz. O importante é que isso tudo foi superado. Nunca houve essa agressão.

Mas por que o sr. fez um boletim de ocorrência contra a Regina? Desse o sr. se lembra?

Nunes: Do meu, sim. Realmente teve uma vez que a Regina foi na empresa e estava nervosa. Ela ficou exaltada e aí eu acabei fazendo o boletim. O Boletim de Ocorrência é uma ação unilateral. Não quer dizer que aquilo seja verdadeiro. Aí tem um prazo para pedir o andamento ou não. Regina: Isso foi há dez anos. Estão falando disso agora para atrapalhar a campanha. Por que estão falando de uma briga de casal? Nem teve agressão. Foi um desentendimento de casal. Se ele tivesse me agredido eu não estaria mais casada com ele. Ninguém aguenta ficar apanhando tanto tempo. Estamos casados há mais de 20 anos.

Não houve nem agressão verbal ou ameaça?

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Regina: Não lembro de ter acontecido aquilo que está no B.O. Lembro que nos desentendemos e fui passar uns dias na casa da minha mãe. Ricardo nunca me ameaçou ou xingou.

Mas como explicar que existe um B.O. da Regina?

Nunes: A gente não está lembrando. Ela estava realmente muito nervosa.Regina: Eu não lembro do fato, mas como está lá, que seja. Não sei se apagou da minha memória porque eu estava muito nervosa.Nunes: Temos uma vida familiar de harmonia. Eu amo essa mulher.

A senhora teme alguma reação pelo recuo no registro de um Boletim de Ocorrência contra seu marido?

Regina: Quem me conhece sabe que sou uma pessoa muito autêntica, muito verdadeira, e sabe que se tivesse acontecido realmente isso (agressão do marido) eu já não estaria mais casada com ele. Lamento. Sou uma mulher que defende o direito das mulheres e acho realmente que deve ter mais mulher na política, isso é bacanaNunes: A gente pensou em lançar ela.Regina: É. Só que eu não sei falar em público. Falo assim, com vocês que estão aqui. Mas quando tem muitas pessoas, não consigo.

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A senhora tem sido cobrada nessas agendas? As pessoas perguntam do caso da agressão?

Regina: O quê? Nossa! Eles perguntam se meu marido me bateu, eu falo que não, é mentira, que não houve agressão. Falo a verdade, né? E aí eles perguntam também de creche, de máfia de creche. Eu falo que o Ricardo é a pessoa mais honesta que eu conheço. É uma pessoa que só trabalha. Não viaja, não compra. Até brigo com ele: ‘compra uma cueca’ (risos).

Covas disse, em entrevista no programa Roda Viva, na segunda-feira, 23, que preferia ter escolhido uma mulher como vice, mas que acabou escolhendo o sr. porque representava o arco de alianças. O que o senhor achou disso? 

Nunes: Seria bom se ele tivesse escolhido (uma mulher), mas tem um contexto. Esta região da zona sul, Santo Amaro, Capela do Socorro, Grajaú, é a zona eleitoral com maior número de eleitores: são 486 mil. É o maior colégio eleitoral da cidade, que é o perímetro da subprefeitura da Capela do Socorro. Em 2016, o João Doria (PSDB) ganhou em todas as zonas eleitorais, com exceção de duas: Grajaú e Parelheiros. Quem ganhou foi a quarta colocada (Marta Suplicy). Muito por conta do mérito dela, mas indiscutivelmente tive uma participação nesse processo. Foi assim na campanha (para governador) do (Paulo) Skaf, que foi super bem votado aqui. Em nenhum momento a gente (MDB) condicionou o apoio à escolha do vice. No passado, quando me tornei presidente do partido fui conversar com o Bruno. Eu disse que gostaria de ser o vice ele, mas não era uma condição. 

O governador João Doria (PSDB), o prefeito Bruno Covas (PSDB) e o vereador Ricardo Nunes (MDB), candidato a vice, durante lançamento da campanha em São Paulo Foto: Taba Benedicto/Estadão

Foi o tempo de TV que definiu a escolha o nome do senhor?

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Nunes: Não, acho que não. Porque a gente já estava fechado com o Bruno. A questão do horário de televisão não tem influência nenhuma na minha escolha de vice. A escolha do vice, pode ter certeza absoluta, foi uma escolha pessoal do Bruno Covas. 

O candidato Guilherme Boulos tem deixado claro a estratégia de comparar o sr. com a candidata a vice na chapa dele, a ex-prefeita e deputada Luiza Erundina. Como o sr. vê isso?

Nunes: A minha percepção é que eles usaram estratégia porque o candidato deles não tem nenhuma experiência administrativa. Querem tirar o foco na falta de experiência dele. Ficam comparando os vices para usar a Erundina como muleta devido à falta de experiência do Boulos. 

Como o sr. vê essa comparação com a Erundina? 

Nunes: A campanha deles está usando muito ela por conta dessa deficiência do Boulos (de experiência). Então ela está muito exposta. Eu estou fazendo agenda todo dia. Acompanhando o Bruno, representando ele em um monte de reuniões. O Boulos tem essa questão de ser um cara radical. A cidade não quer um cara radical. Aí fica usando a imagem dela, mais leve.

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Outro foco de desgaste da campanha de Covas tem sido sua relação com as creches. Segundo o jornal Valor Econômico, há uma investigação na Promotoria do Patrimônio Público e Social que apura indícios de superfaturamento no aluguel de creches conveniadas e o sr. é citado...

Nunes: O que existe é uma denúncia anônima feita no ano passado no meio da CPI da Sonegação Tributária. Até imaginei que fosse algo para me intimidar. Foi feita contra mim, Rodrigo Goulart e Senival Moura. Diziam que eu havia aprovado duas leis para beneficiar as entidades: a Lei ao Alvará Condicionado e a Lei de Índice Fiscal da Zona sul. A Lei do Alvará Condicionado já existia, mas tinha terminado o prazo de adesão. É para o comércio que não tem habite-se tirar uma licença provisória de dois anos até regularizar o prédio. A outra é para empresas que queriam se instalar no extremo sul possam ter benefício fiscal.

Uma das entidades citadas nesse inquérito é a Sociedade Beneficente Equilíbrio de Interlagos. Qual a relação do sr. com ela?

Nunes: Quando me tornei vereador a entidade já existia. Os prédios já estavam alugados. Tem uma matéria que disse que sou investigado por superfaturamento de aluguel. Não existe isso. Eu não defino aluguel. Há uma negociação entre o proprietário e a secretaria de Educação baseado em critérios. Não tenho participação no processo do valor de locação.

Os rumores de que o sr. controla creches da zona sul são antigos na Câmara Municipal. O sr não achou que isso poderia virar um problema?

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Nunes: Chegamos a ter 120 mil crianças esperando uma vaga de creche. Me aprofundei muito nesse tema. Quanto custa hoje uma criança na creche conveniada? R$ 7 mil por ano. Sabe quanto custa (contratação) direta? R$ 21 mil. Para cada uma criança na direta, posso colocar 3 na conveniada. Hoje temos 300 mil crianças em creches conveniadas. Se fosse na direta, sairia R$ 4 bilhões.

Mas não se criou uma zona nebulosa no relacionamento das entidades que administram as creches, políticos e contratos?

Nunes: Não cria. O vereador é o cara que leva os anseios da sociedade. As emendas precisam ser fiscalizadas. O que me incomoda é dizerem que sou investigado por algo que não existe. O vereador está perto da entidade não é problema. Tem vereadores que são ligados a entidades de futebol. Não sei quantos por cento dos vereadores têm relacionamento com entidades. Mas são muitos. E tá certo.

Mas não há nisso um benefício político? O vereador com mandato destina emenda para a entidade que depois o ajuda na eleição...

Nunes: Nunca estive em entidade em período de eleição. Relacionamento existe. A vida é de relacionamentos, mas isso não é errado e antiético.

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Uma das entidades, Associação Amigos da Criança e do Adolescente, a Acria, que é comandada por uma ex-funcionária do senhor, chegou a contratar a sua própria empresa, a Nikkey Serviços. Isso não abre um espaço para que a sociedade questione esses relacionamentos?

Nunes: Pode ter. O importante é esclarecer. Foi um serviço prestado de R$ 500 por mês. Fizemos doação para entidade de um valor maior do que esse. Todo final de ano damos presente de Natal para várias entidades.

Que atividades sua empresa exerce?

Nunes: A dedetização é 3% do nosso faturamento. O mais forte é tratamento de cargas de importação e exportação. Por isso que a gente tem a empresa lá em Santos, no Aeroporto de Guarulhos, Campinas, Rio de Janeiro. Meu cliente é o importador e o exportador. Quem vai exportar um navio de soja para a China é obrigado a fazer um tratamento fitossanitário. Quando a carga é importada, é a mesma coisa. Eu não tenho contrato com o governo. Tenho concessão de uso de área da Infraero, por exemplo.

Mas o senhor já teve contratos com o poder público. Nos sites de Transparência, há contratos com a Petrobrás (que somam cerca de R$ 1 milhão), com a SAP (a Secretaria de Administração Penitenciária).

Nunes: Para a Petrobrás, direto, eu nunca tive. Deve ser algumas cargas que a Petrobrás trouxe, uma carga específica. Não sei o que a Petrobrás traz, mas imagine que ela vá trazer alguma coisa para usina, qualquer coisa, se ela vier com caixa, pallet, tem de ser tratado. Porque aquilo é um veículo de transmissão.

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