Presidente do PSDB até 31 de maio de 2022, o advogado e ex-deputado Bruno Araújo, de 49 anos, minimizou o acirramento das prévias presidenciais do partido e disse que a unidade da sigla vai depender da capacidade do escolhido na convenção marcada para domingo, em Brasília.
Como o partido sairá das prévias? Haverá debandada de deputados ligados a Bolsonaro caso João Doria saia vitorioso?
Eu não convoquei uma confraria, mas uma eleição. E eleição é disputa e passionalidade. Isso deixa marcas que levam tempo e exigem maturidade para que se reconfigure um processo de unidade plena. Vai depender da absoluta capacidade do líder escolhido no domingo de construir pontes. Há tempo. É preciso já começar a discutir as alianças com os outros partidos, que é algo tão relevante quanto.
O processo não foi acirrado demais?
É absolutamente normal em qualquer processo de disputa. O PSDB saiu de uma posição de absoluta descrença em abril para ser protagonista do campo do centro. O ganho enquanto instituição foi pleno. Mas cabe ao vitorioso construir as pontes necessárias para essa sedimentação interna.
Os derrotados vão apoiar o vitorioso?
Acredito nesse compromisso. Ninguém precisa de juras de amor na segunda-feira pela manhã. O tempo em política é fundamental para decantar e convergir. No tempo certo a gente vai ver o partido chegando com um grau de unidade em torno do seu candidato. Cabe muito à qualidade dele sedimentar a unidade interna.
Com que tamanho o vencedor das prévias vai entrar no debate sobre a construção de uma terceira via?
Respeitando o conjunto de candidatos do nosso campo, nenhum entra com a legitimidade e a participação democrática de um processo de escolha como o nome do PSDB. Os números demonstram isso: 90% de adesão em toda a força política nacional do partido, 100% dos deputados federais, senadores, ex-presidentes; 90% dos vereadores – são mais de 4.000 – 94% de prefeitos e vices. É uma adesão que eu jamais apostaria quando convoquei as prévias. Isso dá uma força tremenda ao candidato escolhido. A massa política do PSDB participou quase em sua plenitude da escolha. Fora os mais 40 mil filiados, que correspondem a uma fração do nosso número registrado no TSE. Mas para quem resolvia em quatro pessoas, ou os outros partidos que resolvem só na figura do seu presidente, nenhum partido vai ter um processo com tanta força. Isso empodera no campo do centro.
Não ficou frustrado com o fato de só 3% dos filiados estarem aptos a votar nas prévias?
Não posso me frustrar com a troca de quatro pessoas escolhendo numa mesa de restaurante em São Paulo por dezenas de milhares de filiados do PSDB assumindo o protagonismo dessa decisão, com quase a plenitude dos detentores de mandato sendo chamados. Qualquer outra leitura é pequena.
O PSDB pode abrir mão da cabeça de chapa em 2022?
Acredito que o candidato do PSDB vai chegar legitimado e poderoso para encabeçar essa discussão.
Qual o saldo geral do aplicativo das prévias depois de tantas polêmicas internas?
É o preço de quem tem coragem de inovar. O partido vai continuar mantendo um contrato de aperfeiçoamento de versões.
As posições da bancada do PSDB favoráveis ao governo Bolsonaro constrangem o partido e os pré-candidatos?
Nesse momento nenhum presidente de partido tem controle da sua bancada quando disputa contra a RP9 (orçamento secreto). Enquanto a RP9 tiver o tamanho e a influência que tem sobre o Congresso, muitos processos de decisão serão transferidos para lá.
Acredita em uma composição do PSDB com Sérgio Moro em 2022 ou ele divide o eleitorado do partido?
Ele senta na mesa com o mesmo grau de disposição que o PSDB senta com o União Brasil, Cidadania, PV, Novo e todos os players que conversam sobre uma alternativa no campo do centro. Moro é um player importante, mas é como todos os outros que estão na mesma.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.