No Rio, 2º turno tem ataques e fake news

A um dia da eleição, pesquisa Ibope mostra Eduardo Paes com 68% dos votos válidos, ante 32% do atual prefeito, Marcelo Crivella

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RIO — Após um primeiro turno sem muitas surpresas, a reta final da campanha pela prefeitura do Rio – disputada entre o ex-prefeito Eduardo Paes (DEM) e o atual, Marcelo Crivella (Republicanos) – foi marcada por acusações e fake news. Crivella chegou a dizer que, caso Paes vencesse, haveria “pedofilia nas escolas”. O acirramento da campanha acabou deixando em segundo plano o debate sobre propostas para a cidade neste segundo turno. 

As acusações sem fundamento renderam a Crivella uma denúncia da Procuradoria Regional Eleitoral, que pede sua condenação por difamação e propaganda falsa. Como resposta, Paes passou a chamar o adversário de “pai da mentira”, em referência à figura do diabo – Crivella é bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd) e tem os evangélicos como sua maior base eleitoral. 

DEM. Paes passou a chamar Crivella de 'pai da mentira' após citação a pedofilia em escolas Foto: André Melo Andrade/Immagini

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Foi a esses eleitores que Paes dirigiu uma propaganda em que apontou os “sete pecados” do adversário. O candidato do DEM também apostou no discurso de que o prefeito é um “traidor”, lembrando em vídeos que, antes de abraçar o bolsonarismo, Crivella foi aliado do PT, ocupando inclusive o Ministério da Pesca no governo Dilma Rousseff.

A forma como a campanha se desenrolou tem relação com as pesquisas, que sempre colocaram Paes como favorito. No último levantamento Ibope/TV Globo, divulgado neste sábado, 28, o ex-prefeito aparecia com 36 pontos porcentuais na frente de Crivella – 68% dos votos válidos, ante 32% de Crivella. O levantamento foi registrado sob o número RJ‐05249/2020, na Justiça Eleitoral.

Republicanos. Em segundo nas pesquisas, Crivella resgatou fake news, como a do 'kit gay' Foto: André Coelho/Bloomberg

Na liderança desde o início do primeiro turno, Paes fez uma campanha em que administrou a vantagem. Durante a disputa, ele comparou os seus dois mandatos (2009-2016) ao de Crivella – o prefeito era rejeitado por 58% dos eleitores, conforme levantamento do Ibope antes do primeiro turno. O slogan da campanha de Paes dava o tom: “O Rio vai voltar a dar certo”. Ele também insistiu que não se poderia eleger “um novo Crivella ou um novo Witzel” – uma referência ao governador, Wilson Witzel (PSC), afastado do cargo acusado de corrupção.

Neste ano, diferentemente de 2018, os adversários não conseguiram associar a imagem de Paes ao ex-governador Sérgio Cabral Filho (MDB), de quem era aliado. Cabral está preso desde 2016 e condenado a mais de 300 anos.

Como proposta, Paes disse que quer retomar o funcionamento de serviços básicos da cidade, como os da saúde, deixando de lado grande projetos que marcaram suas gestões anteriores, como a Copa do Mundo e a Olimpíada. Os recursos, no entanto, são mais escassos hoje do que há quatro anos, e esse será o principal desafio para a próxima gestão. 

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Nos últimos dias, o que se viu foi um candidato que conciliou as respostas aos ataques com uma agenda que privilegiou seus redutos. Na quinta-feira, por exemplo, foi ao bairro de Madureira, na zona norte. É onde fica a Portela, sua escola de samba do coração, e o Parque Madureira, uma das principais obras da sua administração. 

Nomes nacionais

O segundo turno do Rio também teve como característica a pouca participação de lideranças nacionais nas campanhas. Os partidos de esquerda pregaram uma espécie de voto crítico em Paes, para tirar Crivella da prefeitura. Partidos mais à direita, como o PSD, foram mais explícitos ao apoiar o ex-prefeito. 

Crivella manteve seu nome atrelado ao do presidente Jair Bolsonaro. O presidente, porém, se recolheu nas últimas duas semanas e evitou entrar na eleição do Rio, diferentemente do que fez na reta final do primeiro turno. Bolsonaro recusou-se a gravar um novo vídeo ao lado do prefeito e a participar de ato de campanha na cidade. A possibilidade de uma derrota por uma margem muito grande de votos de seu candidato afastou Bolsonaro do Estado onde fez carreira política. 

O único gesto mais forte de apoio se deu na última quinta-feira. Na live semanal, endossou a informação falsa, propagada por Crivella, de que o PSOL comandaria a Secretaria de Educação no governo Paes e implementaria “pedofilia nas escolas”. O partido e o candidato do DEM desmentem qualquer acordo para formação de um futuro governo.

Palanques

Crivella é do Republicanos, partido ligado à Iurd e que serviu de abrigo temporário para bolsonaristas que tentam formar o Aliança Pelo Brasil. Primeiro representante da igreja a ocupar a prefeitura de uma grande capital, Crivella foi eleito beneficiado pela alta rejeição a seu adversário no segundo turno de 2016, o deputado Marcelo Freixo (PSOL). Até então, ele havia sido derrotado duas vezes em disputas ao Palácio da Cidade e outras duas ao governo do Estado.

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Antes de chegar ao cargo Executivo, Crivella passou por muitos palanques, como uma espécie de fiador de candidatos interessados no voto evangélico. Esteve com os ex-presidentes Dilma Rousseff e Luiz Inácio Lula da Silva, com os ex-governadores Sérgio Cabral e Luiz Fernando Pezão, com o ex-senador Lindbergh Farias e até com o atual adversário Paes, na campanha presidencial de Dilma em 2010.

A aliança com o bolsonarismo é mais recente – em 2018, Crivella não esteve com o então presidenciável do PSL em nenhum momento e seu partido apoiava Geraldo Alckmin.

Protagonizada por duas figuras que há mais de dez anos têm presença certa nas disputas locais, o segundo turno no Rio não teve um representante da esquerda. Muito pautado pela rejeição a Crivella, o embate se concentrou no pragmatismo e na postura plebiscitária de “sim” ou “não” ao atual governo. Nesse cenário, o nome de Paes, candidato capaz de oscilar para os dois lados do espectro político, se consolidou.

DISPUTA

  • 974.804

votos teve o ex-prefeito Eduardo Paes (DEM) no primeiro turno, ou 37,01% dos votos válidos, ante 

  • 576.825 

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ou 21,90%, do atual chefe do Executivo municipal, Marcelo Crivella (Republicanos). O total de abstenções foi de 1.590.876 (32,79%)