Presidenciáveis retomam tom crítico a Bolsonaro

Apesar das manifestações de apoio ao candidato do PSL e o repúdio à violência, candidatos voltam a atacar discursos e propostas do rival, líder nas pesquisas

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SÃO PAULO - Os candidatos ao Palácio do Planalto nas eleições 2018 passaram a modular as manifestações de solidariedade a Jair Bolsonaro com a preocupação de que o episódio da semana passada, quando o candidato do PSL foi esfaqueado durante uma agenda de campanha, seja usado a seu favor na eleição. Apesar das manifestações de apoio ao deputado federal e o repúdio à violência, os presidenciáveis retomaram o tom crítico em relação às ideias e posturas do adversário.

Presidenciável Geraldo Alckmin (PSDB) toma café no bairro de Pinheiros, em SP Foto: FÁBIO VIEIRA/FOTORUA

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Na campanha de Geraldo Alckmin (PSDB) a avaliação é de que a trégua com o candidato do PSL vai acabar, até porque, segundo auxiliares, não há alternativa senão desconstruir o rival. Em evento nesta segunda-feira, 10, na capital paulista, Alckmin fez questão de separar a tática eleitoral da condenação à violência.

“São questões distintas: uma é a solidariedade a quem foi alvo de um atentado vil, covarde. Outra coisa são os destinos da Nação”, disse. “O povo quer um governo que funcione, nós já temos problemas demais, não podemos ter um presidente que seja mais um problema.”

O passaporte para a volta das críticas, na avaliação das campanhas do PSDB, da Rede de Marina Silva e do PDT de Ciro Gomes, foi dado pelo próprio candidato do PSL quando foi fotografado no hospital fazendo um sinal de arma com as mãos. Auxiliares dos candidatos acreditam que essa imagem recolocou Bolsonaro na disputa eleitoral, ratificando seu discurso.

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O presidenciável do PDT disse no domingo, após o debate promovido pelo Estado, TV Gazeta, Rádio Jovem Pan e Twitter, que “Bolsonaro foi ferido na barriga, mas não mudou nada na cabeça”. A campanha vai insistir no que Ciro tem chamado de “polarização odienta”, fazendo críticas ao PT e a Bolsonaro, que, segundo ele, seriam os responsáveis pelo clima acirrado nas eleições.

Marina, sábado, lembrou que o candidato do PSL defende o fim do Estatuto do Desarmamento e ela, não. “Deus o livre aquela pessoa tivesse uma arma de fogo, o que poderia ter acontecido”, disse a ex-ministra.

Alvaro Dias (Podemos) e Alckmin aproveitaram o primeiro horário eleitoral depois do ataque para se solidarizar, mas também criticar a postura do deputado. “Nem faca, nem bala”, foi a frase usada pelo senador paranaense na TV, criticando a agressão, mas rejeitando o discurso do adversário. No chamado palanque eletrônico, Alckmin fez um pedido por conciliação nacional, sem deixar de fazer críticas veladas a Bolsonaro.

A candidatura do PSOL tenta contextualizar a agressão ao deputado em um cenário de violência política generalizada. No debate de domingo, o candidato Guilherme Boulos lembrou que o assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) completa seis meses. “A foto de Bolsonaro mostra que ele continua disseminando o ódio”, disse o presidente do PSOL, Juliano Medeiros.

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Pesquisa do Datafolha, divulgada nesta segunda-feira, a primeira após o atentado, mostrou que Bolsonaro manteve a liderança e oscilou dentro da margem de erro, de 22% para 24%. Ele, porém, ampliou a vantagem sobre os adversários – a candidata da Rede, Marina Silva, caiu de 16 pontos porcentuais para 11%; Ciro Gomes (PDT) subiu de 10% para 13%; Alckmin (PSDB) oscilou de 9% para 10% e Fernando Haddad (PT) avançou de 4% para 9%. A pesquisa mostrou Ciro e Haddad – candidato a vice que poderá assumir a cabeça da chapa petista – em tendência de crescimento em relação ao levantamento anterior. O registro na Justiça Eleitoral é BR 02376/2018.

Analistas ouvidos pelo Estado observam que o desempenho na pesquisa não se traduz, necessariamente, em votos. “Os outros candidatos vão precisar, de alguma forma, tentar voltar a atacá-lo, dizendo que ele não é só vítima de um maluco, mas de algo que ele, de certa maneira, cultua, que é a violência”, disse o professor de ciência política da USP Humberto Dantas. Já Carlos Melo, do Insper, acredita que “a solidariedade se confunde com apoio em um primeiro momento, mas depois tende a uma retração”.