BRASÍLIA - O PSB delegou para o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin a tarefa de atrair o eleitorado conservador, incluindo os evangélicos e o agronegócio, para a campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à Presidência. Alckmin foi escolhido como pré-candidato a vice-presidente na chapa do petista.
Neste sábado, 30, o PSB elegeu a nova direção nacional do partido, colocando Alckmin como vice-presidente de Relações Governamentais, e aprovou o novo programa da legenda, que será apresentado à chapa presidencial. O documento foi aprovado no último dia do chamado Congresso Constituinte da Autorreforma do PSB, que atualizou as teses da sigla após 75 anos de fundação, em Brasília.
Umas das resoluções políticas aprovadas no evento reservou para Alckmin a tarefa de atrair os conservadores, incluindo os cristãos conservadores, evangélicos e os integrantes do agronegócio, segmentos próximos ao bolsonarismo, para a campanha de Lula.
Temos a convicção que o governador Alckmin exercerá um papel fundamental nessa tarefa política que exige ampliar o diálogo, interagir com aqueles que não pertencem à nossa tradição ou campo político, procurar como parceiros na agenda de construção do País os cristãos em geral, os evangélicos, o agronegócio, aqueles que se definam como conservadores, mas que tenham convicções democráticas", diz o documento.
Alckmin deve ser oficializado como vice de Lula no dia 7 de maio, quando o PT marcou o lançamento da candidatura do petista à Presidência, em São Paulo. O novo programa do PSB inclui a defesa por um novo projeto nacional de desenvolvimento para o País, um novo marco fiscal com a revogação do teto de gastos, a revogação da reforma trabalhista com a elaboração de uma lei mais moderna e a instituição do parlamentarismo, com o fim da reeleição para cargos no Executivo.
O ex-governador paulista classificou a defesa da democracia como uma questão central na disputa eleitoral deste ano na tentativa de atrair o centro para a campanha de Lula. "Não só os conversadores, mas os progressistas, eu acho que a tarefa é falar ao conjunto da sociedade", disse. "Primeiro, a questão democrática vai ser uma questão central. Hoje no mundo você tem democracia e autocracia, que se acha acima da lei, que confronta as instituições. As nações que vão melhor no mundo inteiro são aquelas que têm boas instituições. As pessoas passam, as instituições ficam."
A discussão ocorreu na véspera dos atos convocados por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro para atacar o Supremo Tribunal Federal (STF) e defender o deputado Daniel Silveira (PTB-RJ), condenado por ameaças ao Judiciário. O presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, afirmou que Alckmin simboliza o movimento que o partido defende para atrair setores conservadores da sociedade contra Bolsonaro.
"Não existe incompatibilidade entre um governo de centro esquerda e essas pessoas", afirmou Carlos Siqueira, reeleito para mais três anos no comando do PSB. "Todos aqueles que estão a favor da democracia, acho que devemos fazer um esforço para juntá-los e derrotar o bolsonarismo e o Bolsonaro, esse é o grande desafio do momento."
Leque de alianças
O evento contou com gritos de "fora, Bolsonaro" e de "Olê, olê, olá, Lula, Lula". A legenda elencou como "meta maior" a derrota de Bolsonaro nas eleições de outubro e, por isso, concordou em ampliar o leque de alianças na formação de uma chapa de frente ampla na disputa eleitoral. Em uma das resoluções aprovadas, o partido fez críticas indiretas ao PT, afirmando que a esquerda não fez reformas necessárias para o País e caiu em corrupção.
"Faltou e ainda falta um projeto de País. Mesmo a esquerda, da qual o PSB é parte, não implantou as reformas estruturais necessárias à transformação da sociedade, como as reformas política, tributária, agrária, urbana e trabalhista, e não modernizou a prática política, pelo contrário, parte dela aderiu a formas tradicionais de realizar aliança por meio do corporativismo, do patrimonialismo, da fisiologia e da corrupção", diz o manifesto.
Com a filiação de Alckmin, o presidente do PSB afirmou que o partido se prepara para ter um projeto nacional próprio. Alguns pontos aprovados no documento da legenda divergem do programa do PT, como o parlamentarismo. "Somos dois partidos diferentes, temos pontos de unidade e pontos de divergência. Estamos nos preparando para ter o nosso próprio projeto nacional. Nós não temos nenhuma expectativa que o PT vá cumprir o programa do PSB", disse Siqueira.
Dirigentes do PSB apostam na aliança com o PT para derrotar Bolsonaro, mas querem abrir caminho para voos mais altos, sem alimentar esperança que os petistas vão aceitar, por exemplo, que Alckmin seja escolhido como o sucessor de Lula em um eventual governo. "O PSB não tem nada definido sobre isso, mas com certeza, se der tudo certo a eleição, e nós acreditamos que vai dar, com certeza Alckmin se credencia para voos mais altos e o PSB está preparado para fazer esse debate", afirmou o líder do partido na Câmara, Bira do Pindaré (MA).
O ex-governador do Maranhão, Flávio Dino, recém-filiado ao PSB, ficou com a vice-presidência de Movimentos Sociais. Os deputados Marcelo Freixo (RJ) e Tabata Amaral (SP), que também entraram no partido recentemente, vão compor o comando da legenda como secretários nacionais.
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